Maio, apesar do calor e do bom tempo, parece trazer-nos mais uma semana de grandes desafios. Todos já ouvimos as histórias, parábolas e provérbios sobre o trigo e o joio e sobre ervas daninhas. Muitas vezes colocamos esses ensinamentos como algo exterior, como se apenas à nossa volta existisse o trigo e o joio, como se entre nós tivéssemos de ter em atenção as ervas daninhas que nos rodeiam para que não fiquemos contaminados. Contudo, tantas vezes esquecemos que é dentro de nós também que existe trigo e joio, que ervas daninhas crescem no meio de outras que precisam de dar flores e frutos e que há momentos nas nossas vidas em que precisamos de tomar essa mesma consciência e quebrar, ainda que com dor e com perda de estruturas, tudo aquilo que, sabemos, já não nos faz desenvolver. É isso que a Torre, carta tão forte, dura e poderosa, nos traz esta semana.
Dentro de nós existe o potencial absoluto e total para a Luz e para a Sombra, mas insistimos em viver imersos na ilusão de que ou vivemos um, ou o outro, que apenas criamos um ou o outro. O maior trigo e o maior joio que as parábolas falam existem em nós mesmos, pois o joio nasce no meio do trigo, esconde-se e camufla-se, e é apenas quando colhemos que o podemos separar, pois, como o Mestre nos disse, se tentarmos arrancar o joio no meio do crescimento, arrancaremos também o trigo, com certeza.
À medida que vamos trilhando o caminho do nosso propósito de vida, vamos colhendo os frutos da nossa plantação, e entre eles temos também de nos confrontar com esse lado mais sombrio, com todas essas questões interiores, os nossos bloqueios, medos e hábitos que precisam de ser cortados, arrancados e transformados. Nestes dias, muitos desses medos e bloqueios começam a vir ao de cima e cabe a cada um de nós assumir o que quer fazer com eles. Não vale a pena reflectirmos para o exterior o que, na realidade, vive dentro de nós, o que faz parte do nosso percurso. Muitas vezes, procuramos a perfeição, procuramos ser um diamante lindo e brilhante, mas esquecemo-nos que o diamante mais belo foi em tempos uma pedra rude que precisou de ser lapidada.
Esta semana, precisamos de nos confrontar com esses mesmos medos, dúvidas e bloqueios, com o nosso lado mais denso e pesado e escolher o caminho que lhes queremos dar. Se a escolha for ultrapassá-los, então temos também de aceitar o processo doloroso que isso implica, pois sabemos bem que é apenas dessa forma que os podemos quebrar e transmutar. Contudo, se preferirmos manter-nos na vivência dessas mesmas energias, então o Universo nada poderá fazer em relação ao sofrimento que vamos, voluntariamente, viver.
A dor é uma forma de crescimento, o sofrimento é a não-aceitação da necessidade de crescimento e de mudança. O que a Torre nos pede esta semana é precisamente que aceitemos este passo difícil e duro, olhemos para as sensações que temos vividos nestes últimos dias e para os desafios que nos têm sido colocados. Observemos como os nossos medos e bloqueios estão, tantos deles, a serem postos à nossa frente, para que os possamos encarar e ultrapassar. Contudo, nada disso é possível sem aceitar a dor que está associada a esse processo.
Recordemo-nos sempre que a Torre apenas retira aquilo que já não nos faz falta, que não faz mais parte das nossas vidas. A sua vivência dolorosa permite-nos a verdadeira libertação, pois não permite que fiquem restos ou resíduos dessas mesmas energias, pois a Torre não corta apenas, ela arranca. No entanto, depois deste processo, temos a possibilidade de transmutar essa energia em Luz, em Amor, em Harmonia e em Crescimento. Cabe a cada um de nós, no seu coração, escolher esse caminho.
Boa semana!
Leonardo Mansinhos