Para alívio de muitos, Mercúrio já deixou o seu movimento retrógrado e tudo se começa a compor em termos daquelas coisinhas normais que estes períodos sempre trazem. Ainda serão alguns dias até ele voltar à sua velocidade normal, mas já começaremos a ver os efeitos do trabalho que esteve a fazer nas últimas três semanas. O tempo de introspecção e de olhar para dentro não cessou, mas agora é pedido que as tomadas de consciência e decisões que percebemos serem necessárias comecem a tomar forma e que sejamos capazes de sair da nossa zona de conforto para, no fundo, criarmos um novo caminho e uma nova realidade para as nossas vidas. Essa é a mensagem que o 2 de Paus nos traz para nos orientar durante esta semana.
Momentos como os que vivemos nestas últimas semanas trazem-nos sempre muita informação, muitas conclusões e tomadas de consciência, às vezes tanta que precisamos de tempo para encaixar todas as peças. No entanto, trazem-nos também evidências sobre nós mesmos, sobre as nossas próprias vidas, sobre as nossas escolhas e caminhos percorridos, revelando-nos e mostrando-nos as nossas barreiras, os nossos medos, as nossas zonas de conforto, não como um julgamento, uma crítica ou um castigo, mas sim como uma dádiva para que possamos escolher que caminho seguir, que trilho pisar, que mudanças fazer nas nossas vidas. Escondermo-nos dessa revelação, como se tal fosse possível, é ignorarmos o apelo do nosso Eu, da nossa alma, é tentarmos esconder-nos de nós mesmos, o que, invariavelmente, conduz a uma pressão ainda maior, a um medo mais profundo. Ignorarmos essa revelação é, sem dúvida, uma escolha, mas ela implica continuarmos fechados nos nossos castelos, nos nossos processos, aqueles que continuam a não dar resultado e a não nos dirigir à felicidade verdadeira, aquela que não é um objectivo, mas sim uma filosofia de vida.
O 2 de Paus recorda-nos que, tantas vezes, criamos esses objectivos que, em determinados momentos das nossas vidas, parecem-nos perfeitos, mas que, ao fim de algum tempo, compreendemos que nada mais são do que muros que construímos à nossa volta. O que antes nos satisfazia, nos preenchia, que ainda pode ser bom e agradável, necessita, no entanto, de ser ajustado a quem somos hoje, e tal só pode acontecer quando deixamos de colocar coisas nas nossas “caixinhas”, tentando mantê-las inalteradas, e aceitamos que somos filhos da mãe Terra e, como tal, também nós somos compostos de ciclos perfeitos, onde tudo tem um início e um fim, originando um novo início que se perpetua numa constante evolução. Quando adquirimos algo que, achamos, nos traz felicidade, temos tendência para manter estanque, não querer que mude, esquecendo-nos que, em primeira e última instância, somos nós os primeiros a mudar e, automaticamente, aquele algo que está ali direitinho, sem evoluir connosco, torna-se uma sala demasiado pequena para nós, torna-se uma prisão para as nossas vidas.
Esta semana é-nos solicitado que sejamos capazes de confrontarmo-nos com essas zonas de conforto, com essas prisões que nós próprios construímos, que nos têm sido mostradas, de forma a podermos assumir o papel de co-criadores das nossas vidas, escolhendo, conscientemente, o caminho que queremos e precisamos de palmilhar. Sem mais medos, dúvidas ou receios, com a consciência que ainda há muito caminho a fazer e que os tempos nos continuam a solicitar um forte e profundo mergulhar dentro de nós, mas que, para tal ser possível, assim como temos de abrir portas para entrar em divisões que nos vão dar acesso a outras salas, também precisamos de deitar abaixo essas mesmas barreiras, esses véus que nos toldam a visão das nossas próprias vidas para poder avançar. Antonio Machado, poeta castelhano, dizia “caminhante, não há caminho, / o caminho faz-se caminhando”, e, sem dúvida, não é na nossa “caixinha”, da torre do nosso castelo, dentro da nossa zona de conforto, que conseguiremos crescer, mudar e evoluir, gerar, criar e transformar, apenas ficar presos nas nossas ilusões.
Boa semana!
Leonardo Mansinhos