Mais uma semana que se iniciou, e esta traz-nos a Lua Cheia, o tempo da colheita daquilo que há duas semanas decidimos, consciente ou inconscientemente, semear nas nossas vidas. Curiosamente, e acreditando que não há acasos nesta vida e em nada no Universo, a carta que a Conexão de hoje nos traz é precisamente a mesma de há duas semanas, aquando dessa Lua Nova.
Nesse momento fomos convidados a olhar para a nossa mente, para os nossos pensamentos, o que estamos a alimentar e a fomentar, mas a intensidade dos acontecimentos destas últimas semanas, que nos levaram da euforia à tristeza, da celebração à preocupação extrema, mostraram-nos uma faceta da mente que agora nos é relembrada, as “mochilas” mentais que carregamos, as dúvidas, os medos, as preocupações e as culpas que precisamos de trabalhar em nós para nos podermos elevar e libertar. Essa é a mensagem que o 9 de Espadas nos vem trazer esta semana.
A vida confronta-nos constantemente com escolhas, com caminhos a percorrer, onde bifurcações nos surgem e necessitamos de decidir para que lado vamos. Há diversas certezas na vida, e uma delas é a de que ela é um caminho em que não dá para voltar atrás, em que não dá para corrigir seja o que for, pois, na verdade, não é esse o propósito deste trilho aqui na Terra. Cada passo dado é uma experiência, uma escolha, uma aprendizagem que precisa de ser vivida e integrada, e é essa a compreensão que nos permite, realmente, cumprir a nossa missão.
No entanto, tantas e tantas vezes, no percorrer deste mesmo caminho que é a vida, vamos olhando para trás, com a noção de que não conseguimos lá voltar, vendo, vezes sem conta, as mesmas coisas, as mesmas situações, carregando-as como uma mochila que colocamos nas costas e vamos enchendo com coisas em cada passo que damos. Fazemo-lo porque olhamos para esse passado com o olhar da crítica e da culpa, carregando-o e arrastando-o no presente, atrasando os nossos passos, a nossa evolução, pois é muito mais difícil caminhar a carregar pesos.
Ficamos assim presos a um passado, a situações que, no nosso entendimento, nas nossas exigências, fruto do nosso crescimento, da nossa educação, do que a sociedade, a família e nós mesmos nos impusemos, foram falhas, erros, que poderíamos ter feito diferente, que não fomos perfeitos, que não conseguimos superar o que nos foi apresentado pela vida. Ao olharmos bem e reflectirmos seriamente sobre isso, vamos perceber que estes pensamentos raramente se referem a nós mesmos, sendo concentrados nos outros, nos que nos são próximos, nos que amamos. Tal acontece, pois o verdadeiro fundamento dessas vivências é emocional, mas a mente, rapidamente, se prontifica a assumir o controlo e a transformar a vivência em mais material para colocar na mochila.
O 9 de Espadas relembra-nos dessas culpas que carregamos, às vezes sem sequer lhes darmos esse nome, das situações que envolvem pessoas que temos no nosso coração, que percorrem o seu caminho, tal como nós percorremos o nossos, tomam decisões, tal como nós as tomamos, escolhem que trilhos pisar, escolhem aquilo que podemos considerar como erros, batem com a cabeça na parede, magoam-se, sofrem, passam provações. Como estão nos nossos corações, tal dói também em nós e, pela nossa natureza, criamos em nós uma necessidade, uma ilusão, de salvação que, pelo simples facto de que não é o nosso caminho, não está ao nosso alcance, levando-nos, tantas e tantas vezes, a assumir em nós as tais culpas, o tal peso da falha, duma responsabilidade que, no fundo, não é nossa.
Podemos ajudar, sem dúvida, podemos dar tudo de nós, caso assim essa pessoa queira, pois precisamos também de compreender que, acima de tudo, temos de respeitar o seu livre-arbítrio, mas não podemos carrega-la ao colo e fazer o seu caminho. Se, de coração aberto, estendermos a nossa mão, dedicarmo-nos e entregarmo-nos, então faremos, certamente, tudo o que podermos, dar-nos-emos em profundo amor, marcaremos a diferença e, para nós, tal fará parte, também, dos passos que precisamos de dar nesta vida.
Agora é tempo de olhar um pouco para trás, para estes mesmos pesos que ainda carregamos, pois todos nós, de uma forma ou de outra, com maior ou menor intensidade, temos a nossa própria mochila. É tempo de apaziguar a mente e deitar as suas barreiras e defesas um pouco abaixo, expandir o nosso coração, deixá-lo falar, deixá-lo gritar também, permitir que, como um rio, flua e nos mostre uma paz de espírito que só o Amor nos pode, verdadeiramente, revelar. Assumir a responsabilidade por algo nosso, pelo nosso caminho, é salutar e essencial, mas assumir uma culpa é um peso que gratuitamente carregamos, sem nexo ou sentido, sem qualquer propósito de crescimento ou evolução. É preciso aprender a deixar o passado onde ele pertence, reconhecer o seu papel nas nossas vidas, as aprendizagens que ele nos trouxe, tudo o que nos permitiu crescer, mas libertarmo-nos do seu peso, pois se vivemos em função dele, não vivemos, apenas sobrevivemos. É tempo de perdão, de reconciliação, de amor profundo, de entrega, primeiro e acima de tudo, a nós mesmos, pois é essa semente que agora floresce e da qual podemos, temos, receber a sua beleza e o seu aroma.
Boa semana!
Leonardo Mansinhos