As últimas semanas têm-nos trazido momentos desafiadores e, em diversas situações, difíceis. Embora este seja um tempo de férias e maior descanso, a verdade é que temos sido levados a viver situações mais fortes, a rever, repensar e a reequilibrar um conjunto de questões das nossas vidas, moldadas por uma espécie de nova realidade que se nos é colocada à frente dos nossos olhos. Contudo, não pensemos que é por algum capricho do Universo ou por maldade dos deuses, mas sim, no fundo, o cumprir de algo que há muito nos vem sendo dito, a necessidade de olharmos para nós e de reajustar-nos algumas questões nas nossas vidas.
Todos os acontecimentos difíceis trazem-nos as clássicas questões e preocupações, ocupam-nos a mente com pensamentos de medo, dúvida e receio, por nós, sem dúvida, mas também pelos outros, aqueles que amamos, aqueles que no nosso coração têm um lugar especial. No entanto, todos estes desafios têm como grande propósito gerar mudanças e transformações em quem somos, nos nossos padrões e nos nossos hábitos.
A nossa mente é uma das mais valiosas capacidades que trazemos para a vida na Terra. É ela quem nos aproxima da capacidade criadora do Universo, de Deus, é ela quem nos permite, se assim soubermos e quisermos, manifestar e materializar as mais diversas coisas nas nossas vidas. Porém, com a densidade terrena, com o desafio que aceitámos ao vir a este planeta, a mente ganha outras características, mais pesadas e duras, mas muito importantes, pois ela é também o veículo que nos permite mergulhar em nós, nas nossas sombras, nos medos, nas nossas questões individuais, e, com esse trabalho, transformarmo-nos e cumprirmos o nosso desafio de vida.
Talvez o maior desafio mental que temos de ultrapassar é, precisamente, a vivência do que não existe, vulgarmente chamado de preocupações. Poderemos dizer, sem dúvida, que muitas dessas preocupações referem-se a coisas existentes, a situações, até, importantes. No entanto, é preciso perceber que essas situações são apenas as impulsionadoras de um tremendo fluxo mental que se foca em consequências e em vivências que não existem, não aconteceram e, provavelmente, nunca irão acontecer. Da mesma forma, maior parte das preocupações referem-se a situações que têm essas mesmas características.
Verdade também é que as preocupações, embora sejam vividas na nossa mente, são o reflexo de algo mais profundo e de carácter emocional, derivadas de situações do nosso passado, muitas delas questões mal resolvidas, mal trabalhadas, que nos vão atormentando, ocupando um espaço demasiado vasto na nossa vida, mascarando-se de algo bem diferente. No entanto, nada mais são do que culpas e faltas de perdão, vivências emocionais que nos consomem a vida, que nos retiram a força e nos prendem ao passado. A forma da mente reagir é prender-se também ao futuro, às tais preocupações.
O 9 de Espadas recorda-nos dessa prisão escura em que vivemos, onde uma parte de nós não consegue libertar-se do passado, e a outra parte não consegue desprender-se de um futuro que não existe, deslocalizado de nós mesmos e, ternamente, focado naqueles que amamos, de forma a minimizar artificialmente o peso que sobre os nossos ombros vem sendo colocado. Quando a nossa mente funciona desta forma, então deixamos de viver e funcionamos apenas, sobrevivemos, ligados apenas à máquina da existência. No entanto, a factura de tal atitude, de tal forma de estar, é grande e, cedo ou tarde, irá chegar-nos através de sofrimento, de queda emocional ou, de forma mais grave, através do corpo físico.
O que nos é pedido esta semana é que deixemos um pouco estas preocupações de lado e recordemo-nos do que é viver. Pensemos em nós, olhemos para a nossa vida e compreendamos se estamos, verdadeiramente, a viver, se estamos a caminhar no caminho que escolhemos ou se, pelo contrário, estamos a tentar fazer o caminho de outros. Por muito que amemos alguém, seja um companheiro, um filho, um pai ou um amigo, é preciso compreender que cada um de nós tem o seu próprio caminho, aquele que o seu espírito escolheu vir cumprir aqui na Terra, que é único e intransmissível. Quando tentamos fazer o caminho de outros, quando vivemos preocupados com os passos que os outros dão, esquecemo-nos de nós mesmos, de viver a nossa vida, de cumprir o nosso próprio caminho.
É preciso então permitirmo-nos viver, libertarmo-nos de situações ou de pessoas, de sentimentos de culpa. É preciso perdoarmo-nos profundamente, em cada momento, e a melhor forma de o fazer é sermos nós mesmos, é libertarmo-nos das amarras, dos medos, das dúvidas e dos receios, dos pensamentos errados de que as vidas foram interrompidas ou colocadas em standby por algo ou alguém, aceitando que tudo o que cada um, assim como nós mesmos, vive tem um propósito e que, apesar de termos um pleno e superior livre-arbítrio, também é verdade que há um trilho escolhido, do qual não podemos fugir. É preciso viver, viver no agora, no hoje, neste momento, permitirmo-nos ser apenas nós, ser mais do que um corpo que passa pela vida sem a sentir fluir nas suas veias, penetrar os poros da sua pele, sem a agarrar com todas as suas forças, pois quando assim nos permitimos ser, quando sentimos, quando o fazemos, a nossa mente liberta-se também para poder criar algo divino, superior, manifestar, no fundo, a nossa Centelha Divina.
Boa semana!
Leonardo Mansinhos