Talvez uma das coisas mais importantes da qual precisamos de tomar consciência ao longo da nossa vida é que, sem acreditarmos em nós mesmos, nos nossos caminhos, nas nossas opções, nas escolhas que fazemos, dificilmente, algum dia, chegaremos onde queremos, onde desejamos e almejamos. Contudo, muitas vezes, esperamos que alguém acredite em nós para conseguirmos fazer o mesmo, procuramos uma oportunidade, alguém que nos abra uma porta e, dessa forma, esquecemo-nos que é em nós que existe esse mesmo poder, essa mesma capacidade, que sem nós acreditarmos em nós mesmos, dificilmente, alguém o fará por nós com a intensidade e com a força que só nós podemos conseguir.
Nos caminhos da vida somos levados a fazer escolhas, a tomar decisões, a mergulhar dentro de nós para tomar consciência do percurso feito, de onde estamos, de onde viemos, para onde nos dirigimos. Sem estas simples, mas, às vezes, tão difíceis, tarefas, não temos a possibilidade de assumir o domínio das nossas vidas. São elas que nos permitem entender, integrar e assumir o nosso verdadeiro livre-arbítrio, que nos dão as chaves para todas as portas que precisamos de abrir, no tempo certo, no momento exacto, quando acreditamos, verdadeiramente, que somos capazes de o fazer, de subir mais um degrau, de avançar mais um pouco no trilho do nosso propósito.
Quando esperamos que alguém acredite em nós para, depois, podermos fazer o mesmo, é como termos uma porta à nossa frente e nem sequer nos propormos a abri-la, tudo porque, ao vê-la fechada, em vez de colocarmos a mão na maçaneta e tentarmos rodá-la, colocamos as nossas forças e a nossa energia a bater, na esperança que alguém nos oiça. Pode até nem ser aquela a porta que vamos conseguir abrir, mas nem sequer tentamos, esperamos que alguém o faça por nós. Esta é uma atitude de auto-boicote que vulgarmente fazemos, que nos revela a dificuldade que temos em amar-nos, de tal forma, que acreditar em nós não é uma missão ou um objectivo, mas sim um modo de ser e de estar na vida.
Acreditar em nós mesmos é, na verdade, um reflexo de amor, uma luz que existe no nosso coração e que só pode ser acesa quando nos permitimos abrir o coração para nos vermos, quando deixamos de esperar a aprovação dos outros nas coisas que apenas são nossas, quando procuramos uma aceitação exterior, um amor que não tivemos, um colo que não recebemos, através duma atitude permissiva e anuladora da nossa identidade. Tomar consciência destes factos não é fácil, sem dúvida, até é bastante doloroso, por vezes, mas é um acto de profunda cura emocional e espiritual, pois quando compreendemos os percursos feitos, quando entendemos as nossas origens, a génese dos nossos comportamentos, dos nossos padrões, dos nossos bloqueios, encontramos os pedacinhos da nossa alma que estão quebrados, perdidos e desajustados e nos permitimos, como um artífice dedicado, que, perante uma peça partida, coloca a sua atenção e todo o amor na sua reparação, até que ela possa, novamente, ser uma só peça, resplandecente.
É este trabalho de dedicação e pormenor, de minúcia, que no fundo nada mais é do que darmos a nós mesmos um amor tão profundo que, como a corrente de um rio, limpa a nossa alma, nos eleva o espírito e nos permite vermo-nos como nós somos. Só dessa forma conseguimos resgatar a crença em nós mesmos, o olhar para quem somos em total aceitação, o revelar de todo o nosso potencial e capacidades, sem esperar que algo ou alguém nos mostre o caminho, construindo a nossa vida a cada despertar, a cada impulso, a cada momento, sem medo, sem dúvida, fazendo escolhas, assumindo responsabilidades, dando cada passo com a determinação e a força que só a dedicação a nós mesmos nos permite, como o tal artífice que constrói uma peça a partir dum pedaço de madeira ou de barro, sem dúvida ou hesitação, que compreende que, antes dela existir na matéria, ela existe, primeiro, no seu coração, tal e qual o nosso propósito de vida.
Leonardo Mansinhos