Momento de vida e de redenção, a Páscoa é muito mais do que uma simples comemoração religiosa, é um tempo de celebração que marca uma passagem, tal como nos demonstra a origem etimológica da palavra, que liga diversas festividades, todas baseadas no mesmo princípio, a vitória da vida sobre a morte, a libertação do aprisionamento que representa a morte e o ressuscitar para o assumir de um caminho, o nosso próprio caminho.
Independentemente de crenças, este é o tempo de olharmos para dentro de nós, é o tempo de elevarmos os nossos espíritos e, tal como, na Terra, com o Equinócio da Primavera, a natureza venceu o gelo, a morte e o deserto do Inverno, também em nós é pedido um renascimento para a nossa própria vida, numa profunda revelação de Fé, não no sentido religioso, mas sim na vivência do nosso próprio espírito, da sua aceitação e da sua manifestação.
O tempo em que vivemos é, como tantas vezes digo, de desconexão, de imediatismo e de materialismo, levando-nos, de forma global, a um desligar de nós mesmos. O resultado desse pressuposto, tão vigente há tantas décadas, está à vista, com tanta descompensação emocional e psicológica, com tantos de nós perdidos nos nossos caminhos, desesperados e sem rumos, com pressa de tudo, sem saber o que esse tudo realmente é, com sofreguidão sobre algo que achamos que precisamos, mas sem qualquer noção do que realmente é necessário às nossas vidas. Novos e velhos, crianças, bebés ou adultos, todos vivemos neste paradigma e todos, de formas diferentes, debatemo-nos com esta cisão na nossa existência.
Por isso, de forma tão profunda e intensa, o momento da Páscoa pede-nos reflexão, purificação e busca de paz interior, pede-nos um olhar profundo, sem crítica ou exigência, sem julgamento ou recriminação, sobre quem somos, sobre o nosso percurso, para podermos ver, observar, compreender, aceitar e amar cada parcela de nós mesmos. A energia deste momento, profunda e intensa, ao mesmo tempo pesada e subtil, dá-nos a capacidade de nos colocarmos como observadores de nós mesmos, de forma a podermos olhar para os percursos feitos, tomar decisões e escolher novos caminhos. Ela permite-nos, também, renovarmos a consciência do nosso ser, tomar contacto com a nossa Alma, abraçar a dor e aliviar a carga, tão pura e simplesmente pela dádiva de nós mesmos à cura das nossas feridas, mesmo as mais profundas e que provêm de tempos que não temos consciência.
Como um terreno fértil, trabalhado e preparado pelas dores das vivências, pelos processos de transformação anteriormente vividos, o nosso coração tem agora a capacidade de receber novas sementes, novos propósitos, recordando-nos que, sem eles, não poderíamos crescer, desenvolver e evoluir, não poderíamos abraçar o propósito do espírito encarnado que, através, tantas vezes, da dor, da perda, da destruição, se renova, renasce, ressuscita e se liberta do aprisionamento da matéria, de forma a poder demonstrar a sua verdadeira face, a sua verdadeira luz, manifestação da centelha divina.
Quando nos permitimos viver em nós a Páscoa, cumprimos o mandamento do Amor, somos capazes de nos Amar a nós mesmos, respeitar a nossa essência e a nossa integridade, a totalidade do nosso ser, projectando esse amor também para o mundo que nos rodeia, a todos os níveis. É abraçando o verdadeiro Cristo em nós, a redenção do nosso ser, o resgate total e absoluto de cada parcela da nossa Alma, que reconhecemos a profunda beleza da plenitude do nosso Ser e tornamo-nos no que nos propusemos, verdadeiramente, ser, mensageiros, arautos de Luz e Amor.
Boa Páscoa
Leonardo Mansinhos