Tempos intensos, decisões constantes e reflexões permanentes têm sido as bases dos nossos dias, nomeadamente neste período de Mercúrio Retrógrado que estamos a terminar de viver. Nos últimos tempos, nomeadamente nesta última semana, temos sentido uma forte pressão interior, temos sido confrontados com as nossas próprias questões, com o único propósito de que possamos largar aqueles controlos que o ego tanto exige, reflexo dos nossos medos e inseguranças, sem a noção de que são eles mesmos quem nos impedem de crescer e de atingir aquilo que pretendemos para as nossas vidas. É a compreensão de que tudo nas nossas vidas tem um propósito e que, tantas vezes, são os momentos mais duros que mais nos mostram os caminhos, que nos permite tornarmo-nos verdadeiramente donos das nossas vidas. Essa é a mensagem que o 2 de Ouros nos vem trazer esta semana.
Perante as dificuldades, a nossa natureza humana, comandada pelo ego, tem a tendência para accionar os seus mecanismos de autodefesa e o medo de perder aquilo que, durante tantos anos, foi estruturado, e que temos como certo, leva-nos a tentar controlar todos os factores à nossa volta. No entanto, nesse ímpeto do ego, não compreendemos que, quanto mais tentamos controlar, mais perdemos essas mesmas estruturas, essas coisas que, sem dúvida, nos levaram tempo a construir, mas que, talvez, se olharmos bem, já não nos estão a levar a lado algum. Aquilo que as últimas semanas nos têm mostrado é, precisamente, que existem coisas que tentamos manter, que tentamos controlar, mas que, na verdade, quando o fazemos, só nos afundam e nos impedem de avançar. Por isso, é preciso também compreender que as situações mais difíceis que a vida nos apresenta precisam, apesar da dor, do medo e da dúvida, de um olhar diferente, de uma postura diferente, pois só dessa forma poderemos, não só, compreender o porquê de elas terem chegado às nossas vidas como, também, e principalmente, entender o que elas nos estão a mostrar, a pedir e a oferecer.
O 2 de Ouros é uma carta que, para a natureza humana, nem sempre nos pede um desafio fácil. Largarmos os nossos controlos e as nossas zonas de conforto significa, muitas vezes, desapegar-nos de uma construção de uma vida ou, pelo menos, de largos meses ou anos, fazendo-nos, tantas vezes, pensar que perdemos o nosso tempo ou que vamos largar algo que precisamos. No entanto, para subir uma escada, é preciso que um pé se levante de um degrau, deixando-o para trás, para poder pisar outro, e assim sucessivamente, pois essa é a única forma que crescermos e evoluirmos. Levantar um pé em direcção a um degrau é, por si, semelhante às grandes dificuldades da vida, pois não tem chão, pode levar ao desequilíbrio, podemos tropeçar e até cair, mas, ao mesmo tempo, é a única forma de chegar a esse novo degrau mais acima. Tantas vezes também, é no desequilíbrio que encontramos a maior fonte do nosso próprio crescimento, de um reajustar das nossas vidas que é necessário, mas que, quando estamos focados nas nossas estruturas, não vemos. É o mar revolto que traz os segredos e os tesouros do seu fundo até à praia e, no meio do muito lixo que surge, muitas vezes também, encontramos diamantes e outras riquezas.
O que esta semana nos pede é que sejamos capazes de aceitar as reviravoltas e as mudanças que a vida nos tem trazido, compreendendo as suas origens, sem crítica ou medo, mas compreendendo também o que elas nos estão a mostrar e, principalmente, a solicitar para que possamos construir o caminho das nossas vidas da forma como realmente ele precisa de ser, em sintonia com o propósito de crescimento da nossa alma. É libertando-nos do controlo e da manipulação que conseguimos encontrar, no meio da confusão, o equilíbrio e o sentido de tudo o que vivemos, compreendendo também a superior existência daquela situação nas nossas vidas e, principalmente, aceitando que tudo o que vivemos é fruto das nossas escolhas, dos trilhos que traçámos. Quando o somos capazes de fazer, então, tornamo-nos donos da nossa própria vida e entendemos que ser dono não é controlar nem ter o olhar sobre tudo, mas sim ter a confiança no caminho que é feito, nas sementes plantadas e não ter medo de colher os seus frutos.
Boa semana!
Leonardo Mansinhos