Desde muito cedo que aprendemos a colocar no papel tudo o que nos vai na mente, quando aprendemos a ler e a escrever na escola. Ganhamos esse ímpeto de expressarmos as nossas memórias, as nossas emoções e as nossas vivências, usando apenas um papel e uma caneta. Nesses momentos, prendemos ao presente momentos que vivemos e sentimos no passado, que servem assim como musas inspiradoras do diário da nossa vida.
Vemos a escrita a ganhar vida, através das nossas mãos, e as nossas dores emocionais a ganharem um lar onde podem morar. Guardamos no papel as nossas perdas, os nossos desgostos e as nossas tristezas, tentando preencher com palavras escritas o vazio que alguns momentos nos fazem sentir. Guardamos as nossas alegrias, as nossas lutas e as nossas vitórias, tentando encher a nossa alma com palavras que nos façam acreditar que, no fim, tudo acabará bem. Transformamo-nos em palavras e, ao mesmo tempo, deixamos que as palavras nos transformem a nós.
Escrever sobre a nossa vida e as nossas experiências pode ser, por vezes, difícil. No entanto, consegue deixar-nos mais próximos de nós mesmos e ajuda-nos a compreender com mais clareza a magnitude do caminho que percorremos.
Escrever é uma forma produtiva de desabafar sobre problemas que estejamos a viver, sejam eles pequenos ou grandes, como lidar com um conflito com o nosso chefe, ou com a morte de um ente querido. Estar zangado com alguém exige de nós mesmos muita energia e foco, mas é tão mais saudável libertarmo-nos desse ressentimento, colocando-o numa folha de papel. Agarrarmo-nos a rancores é um fardo bastante pesado, mas, assim que somos capazes de perdoar, torna-se mais fácil gravitarmos em direcção ao lado positivo da nossa vida. E tudo, escrevendo o que a nossa alma não consegue exprimir sozinha.
É catártica a forma como despejamos os nossos sentimentos numa folha de papel, em vez de o fazermos numa pessoa em particular. Direccionar a fúria para a página. E se começarmos a sentirmo-nos magoados com o que escrevemos, então, é porque temos de escrever mais sobre questões mais profundas. Afinal de contas, estamos a escrever para nós mesmos.
James Pennebaker, autor de Writing to Heal, diz que “escrever dissolve algumas das barreiras existentes entre nós mesmos e os outros. Ao escrevermos, torna-se mais fácil de comunicar com os outros.” Porém, o autor tem uma regra, que diz que, se ficarmos demasiado transtornados, enquanto estamos a escrever sobre algo, devemos parar. Isto, porque ele acredita que existe um tipo de escrita que surge em nós sempre que enfrentamos perdas, mortes, abusos, depressões e grandes traumas.
Independentemente de sermos afectados pela mudança, a dor, ou a perda, encontrar tempo para escrever sobre as nossas experiências e emoções é fulcral para o nosso próprio processo de cura. Alguns de nós podem preferir escrever sobre as nossas experiências, enquanto outros preferem escrever ficção ou poesia, para conseguirem fugir um pouco da sua realidade. Cada um de nós tem de descobrir qual é o estilo que mais se adequa a nós, aquele que nos permite sermos livres e sentirmo-nos mais confiantes em nós mesmos. No fim de contas, estas conquistas são as mais importantes.