O Sol já entrou no signo de Escorpião, trazendo-nos as suas águas mais profundas, a sua intensidade energética, a sua força e magnetismo. Com ele vêm também as chuvas fortes, aquelas que lavam as ruas, que varrem as árvores, que preparam os solos, que nos lavam a alma e nos permitem limpar o coração. Embora essa vivência nem sempre seja fácil ou pacífica, pois, muitas vezes, pede processos escorpiónicos profundos, processos de morte para o renascimento, ela é essencial, vital mesmo, para que possamos seguir os nossos caminhos e cumprir a nossa missão.
Ao longo das nossas vidas, dos dias que correm, vamos guardando o que conseguimos, escondendo dentro de espaços em nós, debaixo de tapetes, aquelas coisas com que não queremos lidar, que não queremos mexer, porque doem, custam, mexem connosco. Vamos, por isso, colocando-as nesses espaços dentro de nós, em salas escuras, fechadas à chave, sem nos apercebermos que elas, mais cedo ou mais tarde, vão conseguir sair, mais fortes, mais pesadas, mais intensas. Ao mesmo tempo, vamos colocando uma cara alegre, dizendo que tudo está bem, que não há problemas, enquanto, dentro de nós, o coração vai ficando pesado, a respiração ofegante, os pesos sobre as costas insuportáveis, e vamos caindo, a pouco e pouco, ainda que poucos o vejam ou o percebam.
É verdade que a gratidão abre as portas da compreensão das questões do nosso caminho. Quando somos gratos por algo que estamos a viver, seja bom ou menos simpático, conseguimos aceder a uma dimensão de conhecimento sobre esse processo que nos permite entender qual o seu propósito nas nossas vidas. Também é certo que é a alegria que limpa o coração, que o eleva e o aligeira, que um sorriso nos contagia e nos alivia, que é celebrando, esquecendo um pouco os problemas, que as soluções mais rapidamente aparecem, pois deixamos de vibrar exclusivamente no problema e permitimos que a solução apareça. No entanto, e ainda que tal seja essencial, também é importante não deixar nada dentro dessas salas escuras dentro de nós, nada debaixo dos tapetes, manter o nosso coração limpo, a alma lavada, pois sem esse lado, a alegria será apenas uma máscara, a celebração apenas um escape.
O 9 de Copas, a carta que nos orientará durante estes dias, relembra-nos desta verdade, a necessidade de trazermos a celebração e a alegria como combustíveis e força para as nossas vidas, como dissipadores de más energias, como bálsamos para a nossa alma, que nos permitem esquecer os problemas por um tempo, libertando a nossa consciência e permitindo-a conectar-se com o nosso divino, encontrando, dentro de nós, as soluções que, incessantemente, andámos a pensar e a procurar. No entanto, é preciso recordarmo-nos também que tal não pode ser feito à custa de esconder sentimentos ou questões, de os tapar, de os tentar mascarar.
Só quando libertamos sentimentos menos nobres, mas que existem dentro de nós, como as mágoas, a tristeza, as raivas, os rancores, as culpas e até os ódios e os medos, conseguimos iluminá-los, conseguimos curá-los e transformá-los em força para podermos continuar a nossa caminhada. E altura, com a energia de Escorpião a ganhar força, todos eles têm tendência para sair do fundo do nosso lodo e virem ao de cima, cabe-nos a nós permitir vê-los, senti-los, mas mudando o nosso padrão, libertando-nos e levando-os aonde eles pertencem, pois, muitos deles, muitos mesmo, como facilmente perceberemos, não são nossos, mas fomos nós que os escolhemos acolher nos nossos corações.
Nesta semana, sejamos capazes de transformar esses sentimentos em ferramentas que nos vão auxiliar a fazer o nosso caminho, mas também aprendamos a desligar-nos um pouco do círculo vicioso da entrega ao problema, do foco constante na dificuldade. Tal como as águas que correm num rio não se detêm com uma pedra e não ficam a acumular-se e a pensar como passar esse obstáculo, que se moldam e, com a devida paciência, aceitam o tempo do seu próprio processo, acabando por encontrar uma forma, nem que seja gota a gota, de seguirem o seu caminho para o mar, da mesma forma, cada um de nós não pode prostrar-se perante os problemas, em adoração, mas sim compreendê-los como parte do processo e permitir que o coração mostre o caminho para os ultrapassar. É de coração aberto, em celebração, alegria, amor profundo, nomeadamente por nós mesmos, e gratidão, que podemos lavar a nossa alma e permitirmo-nos revelar e abrir os nossos caminhos, que podemos ser encaminhados para um novo início.
Boa semana!
Leonardo Mansinhos