Vivemos, ontem, ao final da tarde, a Lua Nova no signo de Escorpião, um momento de sementeira de emoções profundas, de dádiva e entrega, um momento que nos pede que compreendamos que são as experiências do passado, todas elas, que nos constroem, que são aquelas situações que vivenciámos e que, no início, achávamos negativas e más, que são o grande alimento de transformação, de resgate das nossas vidas e de renascimento. No entanto, essa energia só se manifesta, só se materializa nas nossas vidas, quando sobre ela mudamos a nossa perspectiva, algo que, na verdade, nos tem sido pedido, de diversas formas, nas últimas semanas.
Transformar as nossas vidas implica sermos capazes de viver a essência do signo de Escorpião, permitirmo-nos morrer para um passado, para um padrão, para um comportamento, para quem fomos, pois só assim podemos renascer e libertar a nossa verdadeira Luz, assumir o nosso verdadeiro Eu. Contudo, a vida leva-nos a processos dolorosos, difíceis e muito desafiadores, que nos deixam marcas, feridas abertas, cicatrizes que nos recordam momentos que classificamos como maus. Invariavelmente, tais acontecimentos fazem-nos levantar barreiras, medos e dúvidas, desconfiamos do que poderá vir no nosso caminho e adoptamos uma postura de defesa que não nos permite desfrutar da vida e do que ela tem para nos dar.
O grande propósito destes tempos é de sabermos olhar para tudo o que passámos e vivemos e não nos permitirmos levantar mais barreiras, mas sim abrirmos o nosso coração, compreendendo que é quando temos consciência de quem somos, dos nossos caminhos, quando nos vulnerabilizamos, que realmente somos fortes, que nada nos pode atingir. É essa postura que nos leva a, tal como a Natureza, a transformar as trevas em Luz, a usar os detritos do passado em alimento para o futuro. São as folhas e os frutos que caem no chão, que apodrecem pelas águas fortes, que são absorvidos pela terra e transformam-se no alimento das sementes que vão rasgar a terra na próxima Primavera.
O 9 de Paus, a carta que nos vai orientar durantes estes dias, relembra-nos desta realidade, da necessidade de deitarmos abaixo as barreiras e as defesas, de compreendermos que, na verdade, não necessitamos delas para nada, que só nos impedem de sermos felizes. Sim, é verdade que, sem defesas, podemos ser atingidos, mas também é certo que quando estamos plenos de nós mesmos, quando sabemos qual o nosso caminho, quando temos a consciência de tudo o que somos, do que merecemos, do que fizemos e de como nos entregámos à nossa própria vida, então nada nos pode atingir de forma tão fatal ou intensa. Podemos até tropeçar, cair, ficar tristes, magoados, mas rapidamente limpamos o nosso coração e as lágrimas da nossa face, levantamo-nos novamente e seguimos o nosso caminho, de coração aberto, pois só assim, realmente, podemos viver.
No dia que inicia esta semana, o Samhain, vulgarmente chamado de Halloween ou Dia das Bruxas, uma celebração Celta que fecha um ciclo e inicia outro, onde o véu entre o mundo visível e o invisível é muito ténue, onde podemos ter uma percepção mais profunda e concreta de quem somos através da energia que paira no ar, dos nossos ancestrais, da nossa essência, aproveitemos para, não só nesta noite, mas como nos dias que se seguem, olharmos para as vivências que tivemos no passado como experiências, como aprendizagens, algumas fáceis, outras duras e difíceis, mas todas importantes, todas construtoras de quem fomos, de quem somos e de quem podemos ser, pois apenas com esta postura podemos abrir os horizontes das nossas vidas, dos nossos caminhos, e descobrir todo o nosso potencial!
Boa semana!
Leonardo Mansinhos