Todos nós viemos à Terra com um propósito, uma missão, um caminho. Todos nós viemos à Terra para viver, creio que essa será uma verdade que todos nós assumimos sem problema. Contudo, e embora essa verdade seja consciente, a realidade é que não são muitos os que vivem, sendo muito mais os que apenas passam pela vida, sobrevivendo a cada dia, fazendo do amanhã o prolongamento de um fatídico, suposto, destino.
No entanto, há um momento, para muitos, em que o nosso olhar se abre e em que compreendemos que temos estado fora da nossa própria vida, que, na verdade, precisamos de mergulhar em nós, conhecermo-nos, compreendermo-nos e, assim, descodificar a razão de termos escolhido uma encarnação terrena. Se até aqui, tudo certo e compreensível, a verdade é que, nesses momentos, viajamos com muita facilidade entre extremos, passando duma certa passividade para uma sofreguidão, como se quiséssemos recuperar um suposto tempo perdido.
Vivemos um tempo de despertar, para uma realidade diferente, para um mundo em mudança, para a necessidade da nossa própria transformação, para o abraçar duma vivência mais espiritual e menos ligada à matéria. Contudo, tal associa-se muitas vezes a uma ânsia de querer algo que, muitas vezes, nem se sabe bem o que é, a uma urgência de resultados, de manifestações rápidas e directas.
Hoje, no mundo em que vivemos, noto tudo isso duma forma muito concreta, através de coisas até muito simples. A informação chega até nós, mas pouco ou nada absorvemos, ficamo-nos pelo que nos ressoa e nos interessa, não lemos, não olhamos, não paramos um pouco para entender o que nos está a ser transmitido. Com isso, desgastamos a nossa energia e a energia dos que estão à nossa volta.
Um exemplo simples tem sido vivido por nós, no nosso espaço, em relação aos contactos feitos, perguntando informações que estão no texto dos cursos e workshops, ou até mesmo no site ou na página de Facebook. Ainda que possamos responder com todo o amor, a verdade é que isso constitui um desgaste para ambas as partes. Se, neste caso, tal não tem grandes consequências, a verdade é que transpomos este exemplo para muito nas nossas vidas, na busca de respostas e soluções rápidas, de mudanças imediatas e instantâneas, esquecendo que desconstruir algo que levou uma vida a tomar forma não pode ser feito de qualquer maneira, tem de ser com cuidado, atenção, com foco e no tempo necessário, não no que nós pretendemos.
A energia do despertar, da tomada de consciência, é sempre uma energia muito forte e intensa, difícil de gerir e complexa, que mexe connosco, com os nossos valores e questões, muitas vezes até com as bases em que construímos as nossas vidas. Essa turbulência energética leva-nos, tendencialmente, a uma necessidade de querer ver coisas mudadas, transformadas, a ver decisões materializadas e resultados nas nossas mãos, mas a verdade é que quanto mais vivemos nessa ânsia, nessa sofreguidão, mais nos dispersamos, mais vivemos num futuro que imaginamos, sem sequer compreender que não podemos mudar o nosso caminho sem aceitar e trabalhar todos os passos que demos atrás. A sofreguidão leva-nos a sofrimento, à vivência que nos consome por dentro, na expectativa de algo que, muitas vezes, nem sequer sabemos o que é e que nos leva a, quando vemos algo com o qual nos identificamos, querê-lo logo, no imediato, nem sequer sabemos se é o que realmente precisamos.
O despertar que vivemos pede que saibamos reconstruir a ligação mais profunda que temos, a que nos une à Mãe Terra, a que nos torna humanos, e é ela quem nos ensina que tudo tem o seu tempo, tudo tem o seu lugar certo, que nada pode vir antes do que é preciso, mas que é a nossa postura que define a capacidade que temos de aproveitar esse momento. Se estivermos centrados em nós mesmos, se nos conhecermos, se nos libertarmos dos padrões mentais que nos empurram para o futuro e para o passado, que nos prendem em espirais de autodestruição, então seremos capazes de aproveitar o que a vida nos dá em cada momento e compreender que tudo o que nos é dado é o que necessitamos.
Digo muitas vezes que há um tempo certo para plantar e outro para colher, que é preciso, depois de semear, cuidar da planta, protege-la, dar-lhe força e alimento, deixá-la crescer, dar flores e, por fim, frutos. Depois, há que deixar o fruto crescer e amadurecer, apanhar o sol necessário para ganhar sabor e nutrientes, aqueles que nos irão alimentar a nós, verdadeiramente. Da mesma forma, nas nossas vidas, tudo são sementes plantadas, caminhos a percorrer, passos a dar, e a verdade é que, muitas vezes, estamos mais preocupados com o objectivo, com o resultado, e esquecemo-nos que o que nos dá o sabor da vitória não é a vitória em si, mas sim todo o caminho, todos os obstáculos ultrapassados, o apreciar da viagem, a experiência registada, a aprendizagem feita, e que é isso que nos faz, verdadeiramente, crescer.
Leonardo Mansinhos