A vida é uma constante de desafios e caminhos a percorrer, de vivências e experiências, de degraus, uns atrás dos outros, que necessitamos de subir até um novo patamar. A cada passo dado, a cada dia, é-nos dada a possibilidade de fazer diferente, fazer melhor, mudar, transformar, renovar, de fazer novas escolhas, mais conscientes, mais maduras, de aprender com as quedas e erguer os olhos ao alto, prontos para mais uma etapa.
Perante cada desafio, tantas e tantas vezes, ficamos presos no registo negativo, na dificuldade, no medo de perder, na culpa e no peso que, em cada situação, carregamos nas costas. Uma após outra, parece que a vida conspira contra nós, trazendo-nos dificuldades atrás de dificuldades, e pedimos aos céus para nos aliviar a carga um pouco, de forma a podermos andar um pouco melhor.
Muitas vezes, nesta caminhada, as memórias e as experiências do passado, nomeadamente as mais duras e difíceis, voltam a nós como um registo que é recuperado, muitas vezes subliminarmente, e que afecta toda a nossa acção, nos faz questionar e duvidar, que nos coloca perante coisas que necessitamos de trabalhar, pois, na verdade, precisamos de compreender que tudo tem uma razão de ser, uma lógica, um reverso da medalha, mas que cabe a nós compreender, ver e aceitar o seu verdadeiro fundamento, pois só assim conseguiremos, verdadeiramente, acreditar em nós mesmos.
Largar a mochila que carregamos, aliviá-la, significa olharmos para dentro dela e compreendermos que tudo o que lá está foi por nós lá colocado, directa ou indirectamente. Facilmente podemos encontrar coisas que não foram da nossa responsabilidade, uma perda, uma traição, ou algo similar, mas não compreendemos que essas situações são apenas a face visível do que realmente colocámos dentro da nossa mochila, a nossa forma de viver essas mesmas coisas, o que elas nos trouxeram e quais os seus propósitos. Quando fomos olhar para elas pelo outro lado, compreendemos o que está para além do que se vê e permitimo-nos trabalhar, perceber que não faz parte de nós e, dessa forma, largar.
No fundo, ainda que tal seja muitas vezes difícil de ver à primeira, ou até mesmo à segunda ou a muitas mais tentativas, a verdade é que em cada situação dolorosa e de sofrimento nas nossas vidas há bênçãos que podem ser extraídas, há uma força extra que delas podemos retirar, há um impulso incomparável que podemos aproveitar para subir aqueles degraus mais complicados que nos são apresentados. Acredito que é nas situações mais dolorosas, que nos trazem o maior sofrimento, que nos rasgam por dentro, que podemos encontrar o nosso mais belo e valioso diamante, que encontramos as nossas maiores capacidades.
Contudo, para tal, precisamos de compreender e ver tudo com uma perspectiva um pouco diferente, ver para além das trevas para poder ver que há também a Luz, permitir mergulhar no oceano escuro para encontrar os seus tesouros, ver dentro de nós mesmos e ultrapassar a nossa limitação terrena, baseada no medo, na culpa e no sofrimento, para percebermos que cada situação que vivemos é uma dádiva do Universo para podermos crescer, escolhida por nós, nesta ou em outra vida qualquer, como uma semente plantada que cresceu e que dá um fruto de casca muito feia e escura, que necessita de ser aberto e revelado no sabor mais doce e maravilhoso alguma vez provado. No fundo, é perceber a bênção que está em cada experiência, saber olhá-la, aceitá-la e vivê-la, em cada momento, de braços e coração aberto.
Leonardo Mansinhos
É inspirado e verdadeiro. Tão assim!