Uma das coisas que mais nos define como seres humanos é a necessidade de questionar, de saber os comos e os porquês, de entender tudo e, dessa forma, tentar controlar os vários factores da nossa vida. No entanto, há momentos no nosso caminho onde a única coisa que nos é pedida é aceitação, é abrir o coração e permitirmo-nos aprender com a vivência, receber e, nesse sentido, deixar a vida fluir e mostrar-nos tudo o que tem de nos mostrar.
Acredito que tudo tem o seu tempo certo e a sua hora exacta. Acredito que nada nas nossas vidas é fruto de um qualquer acaso, mas sim de um caminho percorrido, um caminho delineado sim, nas suas linhas gerais, mas trilhado em cada passo pelas nossas escolhas, pelas nossas decisões. Nesse caminho, a vida leva-nos onde precisamos de chegar, sem precisar de floreados, dramas ou figurinos, simplesmente escolhendo ir em frente, mas fazendo essa grande aprendizagem que é a aceitação.
Aceitar é, talvez, uma das maiores provas de amor que podemos dar a nós mesmos, à nossa vida, à nossa Alma e ao caminho que escolhemos fazer aqui na Terra. Aceitar é aprender, é compreender, não porque recebemos a resposta ao porquê, mas sim porque não nos resignámos à vivência, seja ela dolorosa ou maravilhosa, não nos prostrámos a um qualquer fado, mas sim porque escolhemos ser, viver, continuar a caminhar, com a confiança num propósito, ainda que muitas vezes sem a certeza de um destino.
Digo muitas vezes que aceitação não é resignação nem passividade, pelo contrário. Só podemos aprender e ter em cada situação um mestre, um professor, um orientador, quando somos capazes de parar e ouvir, sentir, receber. No fundo, aceitar nada mais é do que saber receber o que a vida tem para nos oferecer naquele momento, seja por escolhas feitas por nós, seja por caminhos que precisamos de percorrer para poder evoluir. Contudo, sem aceitação não pode haver aprendizagem e sem ela não pode haver crescimento.
O mais curioso de tudo isto é que a aceitação é uma das coisas primordiais do nosso caminho, que vivemos desde o início das nossas vidas, de forma explícita, ainda que ténue. Quando crescemos e o nosso Ego toma formas mais rígidas perdemos a capacidade de aceitar e trabalhar os ensinamentos da vida, de deixar que algo chegue até nós e, de coração aberto, recebermos, com o maior amor, com a maior gratidão. No fundo, perdemos a capacidade de arriscar, de dar um salto no escuro, deixamo-nos levar pelas nossas inseguranças e por todas as questões que, ao longo da vida, vão-nos criando barreiras e moldando-nos até, como quando uma peça de barro seca, perdermos a elasticidade que é tão características de quando somos crianças.
A aceitação é a arma que quebra a barreira da dúvida e nos mostra o que precisamos de ver, sem tentar mudar seja o que for, sem tentar salvar seja quem for, sem tentar ser o que não somos, nunca fomos nem nunca poderíamos ser. Quando não abrimos o nosso coração nesse sentido, viramos costas ao nosso caminho e ficamos presos ao passado, ao que fizemos, ao que escolhemos. Assumimos culpas, pesos e alimentamos as nossas sombras, aquelas que, ao virmos à Terra, nos propusemos compreender e integrar. Ao mesmo tempo, projectamo-nos no futuro, entregamo-nos a vivências de ansiedade, de descontrolo, prisões mentais e emocionais, manipulações, invejas e tudo o que de mais negativo podemos alimentar em nós, esquecendo-nos que, acima de tudo, em cada um de nós, existe uma Luz que pede para se mostrar, se expandir, se elevar.
Viver o hoje, o agora, centrarmo-nos nas nossas vidas e entender, no tempo certo, o porquê de todas as coisas, implica aceitar que nem sempre estamos preparados para rasgar os véus, que precisamos de subir a escada, degrau a degrau, passo a passo, vivência a vivência. Só dessa forma podemos juntar as peças e os ensinamentos necessários para, no momento preciso, libertarmos em nós o impulso criador e libertador que nos permite ver tudo o que precisamos de ver e, em paz, nos permitirmos renascer, nos permitirmos, pelo poder da aceitação, começar de novo.
Leonardo Mansinhos
Gratidão