O Sol já entrou no signo de Leão e já sentimos uma energia diferente no ar, mais intensa, mas, ao mesmo tempo, nomeadamente por estes dias, um pouco mais, de alguma forma, agressiva. Os acontecimentos parecem suceder-se, uns atrás dos outros, nas nossas vidas e em tudo o que nos rodeia, impedindo-nos de nos concentrarmos, de nos focarmos e de nos direccionarmos para o que realmente é importante nas nossas vidas, principalmente porque, muito graças aos hábitos criados e alimentados pela sociedade em que vivemos, sentimos que precisamos e gastamos energia para estar em todos os pontos ao mesmo tempo, para resolver tudo, para controlarmos tudo.
A vida está sempre a solicitar-nos atenção, a trazer-nos questões e problemas, uns reais e concretos, outros fabricados ou amplificados pela nossa mente, pelos nossos medos e pelos próprios pontos que temos de resolver nas nossas vidas. Acredito que nada do que nos é trazido o é por um acaso, mas sim como uma forma de aprendizagem e desenvolvimento, algo que precisamos de trabalhar em nós e que precisamos de ver, não com os olhos do nosso ego, que nos trazem os medos, as dúvidas e os questionamentos, mas sim com os olhos do coração, que nos trazem aceitação, entrega e amor, os ingredientes necessários à compreensão e resolução de todos os nossos problemas.
Os tempos são intensos, é verdade, violentos em muitas situações, não só em termos emocionais como também, e principalmente, em termos energéticos. Não precisamos de ir longe para ver isto, basta olhar à nossa volta e, de seguida, olhar para dentro de nós, para como reagimos, para o que sentimos, para os nossos pensamentos também. Se o fizermos, facilmente iremos ver esta simples realidade. Por isso, também, estes são tempos em que nos é pedido, mais do que nunca, calma e foco, algo que só poderemos encontrar se olharmos para nós, se nos centrarmos, mas com honestidade e sinceridade, permitindo-nos ver tudo o que precisamos de ver, iluminando as nossas sombras, esses mesmos medos e encará-los, de forma a permitirmo-nos integrá-los na nossa vida.
Quando nos desligamos de nós mesmos, quando perdemos o centro das nossas vidas, permitimos, como um barco com um furo no casco, que a energia de desespero, de medo e dúvida que nos rodeia nos invada. Não podemos afastar toda essa energia, não podemos simplesmente ignorar o mundo que nos rodeia, é um facto, assim como não podemos fingir que os problemas e os desafios não existem, mas não é reagindo na mesma vibração que os resolvemos, pelo contrário, apenas os amplificamos. Quebrar o ciclo do problema implica parar e sentir, libertar as emoções, deixarmo-nos “ir abaixo”, quebrar. A grande questão é que somos ensinados a não falhar, a não mostrar fragilidade, e isso, na verdade, é como uma grande muralha com apenas uma fila fininha de pedras: de fora parece sólida, mas a verdade é que não serve para muito e facilmente vai cair.
Calma é, no fundo, voltar à nossa essência, abraçar e integrar as nossas sombras, compreender o porquê delas existirem, deixar de as alimentar, de forma a tirar-lhes a força que têm nas nossas vidas. Isso, na verdade, é o que se pode chamar de amar a sombra, que nada mais é que amar-nos a nós mesmos em todas as nossas faces, pois todos nós somos luz e sombra, mas é com a luz que existe dentro de nós, e não no exterior, que podemos iluminar a sombra que a densidade terrena, constantemente, nos faz ver. Na prática nem sempre isto é fácil, pois os grandes problemas da vida são como amarras fortes que nos puxam para baixo, que nos sufocam e nos castram, mas esses são os que mais nos pedem a calma e o foco.
Este é o momento para pararmos, acalmarmos a nossa mente e o nosso coração e focarmo-nos em nós, em quem somos, no que realmente queremos e pretendemos para o nosso caminho. Ainda que, muitas vezes, as provações sejam grandes, as dificuldades sejam intensas, que pareça que o mundo vai acabar ou que o céu vai desabar em cima das nossas cabeças, a vida constrói-se dia após dia, momento após momento, acção após acção. O problema, o medo e a dúvida paralisam-nos, bloqueiam-nos e transportam-nos para uma vivência no futuro que, invariavelmente, está ligada a um passado que precisa de ser trabalhado e integrado. Por isso é tão importante ficarmos no presente, no agora, centrarmo-nos. Isso é, verdadeiramente, a calma e o foco, olharmos para nós e sabermos que há sempre um caminho, uma esperança, um novo dia depois deste em que podemos mudar o mundo, o nosso mundo.
Leonardo Mansinhos