Já chegámos ao pico do Verão, Agosto, mês de férias para muitos de nós. Este ano, Agosto traz-nos também uma enorme movimentação energética, nomeadamente com dois eclipses a serem vividos na energia e no eixo de Leão e com Mercúrio a entrar no seu movimento retrógrado. Conjuntamente com outros acontecimentos, este promete ser um mês muito forte e intenso para todos nós, a todos os níveis, pedindo-nos alguma atenção sobre quem somos, sobre o caminho que estamos a percorrer e sobre o que pretendemos para nós.
Sermos nós mesmos implica um enorme e intenso esforço e dedicação, implica muitas vezes um rasgar de máscaras que vamos construindo ao longo da vida, por necessidade, por educação, porque a sociedade e tudo à nossa volta assim nos pediu. Nada de mal existe em criar máscaras, nem mesmo em usá-las, o problema está em tê-las permanentemente e substituir a nossa identidade por essa capa, esquecendo-nos, progressivamente, de quem somos, anulando-nos até profundos pontos de ruptura.
Largar as máscaras e as capas pede-nos que tenhamos a coragem de abraçar a nossa própria vida, deixar de ver cada problema como um castigo, abandonar as culpas e assumir a responsabilidade de sermos quem realmente somos. Nesse processo, precisamos também de nos recordar da nossa integridade, da tal Centelha Divina que inúmeras vezes refiro aqui nestas reflexões, precisamos de compreender que só quando nos relembramos que é ela a vida que nos anima, o potencial que está contido em nós, que nos permitimos vibrar, verdadeiramente, na nossa unicidade, na nossa individualidade.
Quando escolhemos ser nós mesmos, somos levados a conhecer as nossas sombras, a ver quem somos, do plano físico ao espiritual, ver aquilo que fomos habituados a classificar como imperfeições, como anormalidades, que tantas vezes lutámos para mudar, para moldar à imagem dos outros, do que eles nos exigiram, do que pensámos que eles queriam que nós fôssemos. Quando iniciamos este percurso de brilhar na nossa essência, somos levados a ver tudo isso para que nos saibamos, no mais profundo do nosso ser, respeitar.
É apenas quando somos capazes de nos respeitar integralmente que temos a possibilidade de transformar seja o que for, em consciência e em entrega. De nada serve tentarmos mudar um hábito se não tomamos consciência dele, se não compreendemos a sua origem, se não entendemos o porquê de o termos alimentado em cada dia. Quando fazemos esse mergulhar profundo, abraçamos o nosso ser e é-nos pedido que nos respeitemos, que nos aceitemos, para que, dessa forma, possamos ouvir-nos.
Todos os dias, o nosso mundo interior (e também o exterior) comunica connosco, traz-nos mensagens, sinais e indica-nos direcções. Habituados a um ritmo alucinante, a todas as exigências que a vida nos pede, deixámos de saber ouvir o nosso Eu e todas as vibrações circundantes, os sinais, como lhes chamamos. Nesse sentido, deixámos também de nos respeitar, aos nossos pensamentos, às nossas emoções, mas principalmente ao nosso corpo físico e à nossa identidade espiritual. No fundo, deixámos de viver e passámos apenas a pairar sobre a Terra numa espécie de propósito do qual, tantas e tantas vezes, temos consciência e noção, que nos é dito, transmitido, mostrado, mas que automaticamente é suplantado pelo mundo denso, terreno e tridimensional.
É nesse hiato que muitos de nós vivem, suspensos entre a vivência terrena e uma alienação profunda, um desejo intenso de retornar a uma casa que nem sabemos bem qual é, tão simplesmente porque deixámos de respeitar a nossa primeira casa, o nosso Eu, porque deixámos de respeitar a casa onde habitamos, o nosso corpo, porque deixámos de respeitar a casa que nos recebe, o planeta Terra. Nestes tempos que vivemos hoje, nomeadamente neste mês tão intenso, o que mais nos será pedido é respeito profundo por tudo o que somos, por tudo o que temos a capacidade de ser, largando os mecanismos de autodestruição, de sobrevivência, e assumindo quem realmente somos. No fundo, respeitarmo-nos é sermos nós mesmos, e tal também implica compreender que nós não somos ilhas isoladas, que vivemos numa sociedade, numa comunidade, num planeta, e que respeitarmo-nos também é respeitar o próximo, o nosso irmão, a sociedade que nos recebe, as diferenças que todos temos, e respeitar também toda a vida, a animal, a vegetal e a da própria Terra.
Leonardo Mansinhos