Depois de mais de quatro meses no seu movimento retrógrado, há cinco dias Saturno voltou a estar directo, pelo menos do ponto de vista da Terra, e, lentamente, tudo o que parecia parado e bloqueado começa a desenrolar-se e a desenvolver-se, pelo menos do ponto de vista da nossa percepção da vida, do mundo, da nossa verdade. Tal pode nem sempre ser muito simpático, é um facto, mas o Mestre Saturno não é conhecido por ser querido nem amoroso, ele simplesmente quer que vejamos e trabalhemos os nossos limites, as nossas barreiras, as nossas zonas de conforto e medos.
Saturno é o senhor do Tempo, é ele quem nos ensina que, na vida, tudo tem o seu tempo, tudo tem o seu lugar, e que necessitamos de aprender que, na Terra, essa é a chave para tudo. É o Tempo quem rege o nosso caminho, que nos mostra cada passo, que nos entrega as chaves que abrem as portas de cada etapa no nosso percurso. No entanto, sabemos que o nosso tempo é limitado, sabemos que tudo tem um início, meio e fim e, por isso, muitas vezes, quase sempre, na verdade, não sabemos dar ao Tempo o tempo que ele necessita para apurar cada ensinamento e nos mostrar a verdade sobre nós.
Uma das grandes certezas que vamos adquirindo é que, a bem ou a mal, cada semente por nós plantada nasce, cresce, dá flores e frutos num tempo certo, no seu momento perfeito, não aquele que nós desejamos ou que achamos que deveria ser. No entanto, o mundo, a sociedade, tem-nos transmitido a ilusão de que devemos contornar esse tempo, que o podemos superar, que o podemos, até, enganar. A busca por uma espécie de eternidade focou-se numa competição desenfreada, até connosco mesmos. O medo de não conseguir cumprir uma qualquer coisa que metemos nas nossas cabeças leva-nos a entrar em processos profundos e auto-destrutivos, como a ansiedade, e derivam em tentativas de controlo absoluto de tudo o que nos rodeia.
O controlo é um reflexo do medo, que nos impede de assimilar as aprendizagens que a vida nos quer trazer, que nos eleva os processos mentais e bloqueia o nosso coração. O controlo leva à ansiedade e é ela uma das grandes responsáveis por doenças, precisamente, do coração. A máquina que é o nosso corpo é perfeita, como tudo o que existe neste planeta, mas a necessidade de consumir o tempo numa ansiedade desenfreada, da qual nem temos percepção real, impede-nos de a ouvir, pois a mente básica, terrena, ligada ao ego primitivo, assume o comando das nossas vidas e bloqueia-nos em medos, em vivências num suposto futuro que, na verdade, nem sequer sabemos se algum dia vai acontecer.
O Mestre Saturno dirige-se, nestes próximos meses, pelos últimos graus de Sagitário, onde tem estado ao longo destes últimos anos, pedindo-nos que reajustemos as nossas crenças, que nos permitamos crescer com elas, mas a amplificação dos medos tem levado aos exageros que vemos hoje espelhados nas sociedades, aos fundamentalismos, esses que acusamos determinadas franjas da sociedade e do mundo, mas que existem em cada um de nós, formados desde o nosso nascimento, sedimentados no mais básico do nosso ser, disparados e amplificados pelo medo de perdermos o nosso tempo, de passarmos pela vida sem a vivermos. Sem nos apercebermos, passamos a sobreviver, entregamos a nossa essência à profundeza da nossa sombra, sendo, assim, castrados por Saturno, em vez de aproveitarmos os seus ensinamentos e o seu trabalho para crescer.
O que precisamos de aprender é que temos todo o tempo do mundo para nos desenvolvermos, para nos elevarmos, mas que tudo tem o seu momento certo, que a paciência é a virtude que permite alimentar devidamente o terreno onde plantamos as sementes do nosso Eu, que nos permite cuidar das plantas que se mostram e crescem, que irá, no seu devido tempo também, dar os frutos e permitir-nos colher, saborear e nutrir-nos. Quando assim o fazemos, descobrimos riquezas onde nem sequer sabíamos que existiam, dentro de nós, nos nossos corações, nas nossas mentes, nas nossas vidas, e aproveitamos cada uma delas, usufruímos de tudo o que elas têm para nos dar, no tempo certo, no momento exacto.
Leonardo Mansinhos