Desde muito cedo somos levados a viver obrigações e responsabilidades. Sob pena de castigo, de desilusão ou de outra coisa qualquer, habituamo-nos a passar por cada uma das coisas na nossa vida com dois pesos e duas medidas: se elas forem boas, positivas, vitórias da nossa parte, há que seguir em frente, sem grandes alaridos, pois essa era a nossa obrigação, mas se elas foram más, negativas, derrotas ou falhas, então há um peso que cai sobre nós, uma culpa que nos é incutida, um castigo pesado que cai sobre as nossas cabeças. Damos, assim, valor à falha e ao problema, mas quando algo corre bem, há uma autorrepressão, uma contenção na vivência dessa tão bela energia. O que não temos noção é que os efeitos disto, na verdade, são destruidores e nocivos para nós.
Quando olhamos para dentro de nós e somos verdadeiramente honestos, percebemos que, na maior parte das vezes, não somos capazes de receber, de coração aberto, sem sentir uma ponta de constrangimento, um elogio, um abraço ou uma palavra de reconhecimento. Da mesma forma, também não somos capazes de sentir dentro de nós a alegria plena, o brilho profundo, de atingirmos algo, um objectivo, um propósito, de chegarmos a um determinado ponto, de nos sentirmos merecedores dessa vivência, sem qualquer restrição e sem sequer darmos um pouco de voz ao nosso ego. Não queremos parecer arrogantes, convencidos ou cheios de nós mesmos. Isto é verdade para quem lê este texto, para mim e para qualquer ser humano neste planeta, excepto para aqueles cujo ego domina, por completo, a sua identidade.
Se quisermos ainda simplificar, basta ver que, independentemente de todos os desafios, dificuldades, barreiras e obstáculos que a vida, constantemente, nos traz, há, em nós e à nossa volta, tantas coisas maravilhosas que precisam de ser reconhecidas, que precisam de ser elevadas, que precisamos de perceber que existem e, como tal, merecem ser reconhecidas e celebradas. Quando começamos a mudar este nosso registo mental, começamos a perceber que não é fora que a vida acontece, mas sim dentro de nós mesmos, quando estamos alinhados com a nossa essência, com a nossa presença aqui na Terra. Às vezes, a única coisa que é necessária é pararmos um pouco e recordarmo-nos de coisas simples, que respiramos, que estamos vivos, que isso significa que temos, em cada segundo, a oportunidade de tentar, de procurar, fazer diferente e melhor, que há coisas que nos fazem sorrir, que há pequenas coisas que nos fazem sentir um calor bom dentro do peite e que nos mostram que a passagem na Terra não é sofrimento.
Digo muitas vezes que a experiência terrena implica, naturalmente, dor, pela própria densidade energética do planeta, pelas transformações e renovações que está a viver, mas que o sofrimento é uma escolha sobre essa dor. Não digo que é fácil ultrapassar ou integrar o sofrimento, é muitas vezes um processo longo e pesaroso, um luto e um profundo perdão, sem dúvida, mas quando nos entregamos a ele, esquecemo-nos que somos uma partícula de Luz nesta densidade terrena, que está numa missão de crescimento pessoal e colectivo, que precisa de viver o que a Terra tem para lhe dar, e que precisa de reconhecer a beleza da sua própria existência, ainda que mais pedras surjam, que mais obstáculos se apresentem no nosso caminho, que mais dificuldades nos assolem os dias.
Procuramos sempre a felicidade nas grandes coisas, nos grandes acontecimentos e nas grandes vitórias, fazendo com que fiquemos, muitas vezes, uma vida inteira à espera de uma espécie de milagre, de euro-milhões, para poder fazer algo das nossas vidas. Esquecemo-nos, porém, que a felicidade existe em cada momento que estamos de coração aberto e nos permitimos ver a beleza de cada situação, compreendendo que nada é preto ou branco, que tudo tem um sentido e que tudo tem um propósito, mesmo as coisas mais duras. Uma criança que se ri para nós quando estamos numa enorme fila de supermercado ou feitos sardinha em lata dentro dos transportes públicos, alguém que nos diz bom dia e que nem sequer conhecemos, acordarmos e abrirmos os nossos olhos, o sol que nos ilumina, a chuva que nos traz o cheiro a terra molhada, todas essas coisas são tão ou mais importantes que atingir aquele objectivo ou conseguir aquele contrato. Na verdade, sem essas pequenas coisas, nunca saberemos dar o devido valor e seguimento a essas outras maiores.
Celebrar é abrir o coração, sim, mas é receber em nós o alimento da verdadeira prosperidade, aquela que nos faz acreditar de tal forma que nos leva onde precisamos de chegar, que nos dá tudo o que precisamos, mesmo quando tudo parece ir noutro sentido. Celebrar é elevar o nosso espírito e perceber que viver no Agora, algo que tantas vezes se diz por aí, não implica nenhum esforço monumental, mas sim largar aquilo que não nos faz bem, nos coloca sempre a viver em função dum futuro, presos por poderosas correntes ao passado. Celebrar é mimarmo-nos um pouco, darmos um pouco de colo a nós mesmos, sentirmo-nos felizes pelas coisas mais simples, dançar, pular e brincar, e isso é, na verdade, viver, pois quando o fazemos permitimo-nos ser nós mesmos, mostrarmos aquilo em que somos melhores, o nosso propósito que nos trouxe até à Terra e que queremos, mesmo que não o compreendamos ainda, cumprir.
Leonardo Mansinhos