Uma das condições essenciais que a vida na Terra nos coloca é termos um ego. É ele o nosso suporte básico de vida, que nos protege dos perigos, que nos dá os alertas necessários para a nossa sobrevivência, que permite, no fundo, que a Alma se manifeste de forma estruturada e busque a evolução e a aprendizagem. No entanto, como seres conscientes que somos, a nossa mente, muitas vezes, devido aos nossos caminhos e experiências de vida, assume o controlo do nosso ego e, em vez dum mecanismo amigável, passamos a ter um intrincado e inteligente bloqueador e destruidor da nossa Centelha Divina, que se expressa de forma muito subtil e imperceptível, nomeadamente quando achamos que temos tudo dominado.
Numa famosa passagem, o Mestre disse-nos: “Orai e Vigiai”. De forma simbólica e metafórica, Ele referia-se à necessidade de olharmos para o alto, de nos conectarmos às esferas mais elevadas, contactar com a nossa natureza divina, revelar e trabalhar a nossa Luz, de forma a podermos cumprir o nosso propósito de vida, a missão que nos trouxe até um percurso terreno de trabalho em nós mesmos, com vista a atingir o mais sublime da nossa existência. Ao mesmo tempo, Ele pediu-nos para olharmos para baixo, para o mais profundo que existe em nós, para nos colocarmos em causa, estarmos atentos ao nosso percurso, aos nossos pensamentos, às emoções, a respeitarmos e vermos a beleza da nossa existência terrena, compreendendo-a em todas as suas dimensões.
Orar e vigiar são duas faces duma mesma moeda que nos pede uma integração constante e intensa. Se nos fixarmos apenas no alto, desligamo-nos do propósito que nos trouxe à Terra e alimentamos o ego, dirigindo-nos para uma anulação progressiva e um desajustamento de tudo o que nos propusemos a vir fazer. Da mesma forma, se nos fecharmos numa vivência apenas terrena, cristalizamo-nos numa materialidade destruidora, seja ela de que natureza for. Eliminarmos uma da nossa vida, vivendo apenas a outra, leva-nos, invariavelmente, a armadilhas e perigos onde o nosso ego se torna senhor da nossa vida e onde ele irá procurar alimentar-se de todas as formas, seja através de comportamentos viciosos, de medos, de paranoias ou de carências, entre tantas, tantas outras coisas.
O caminho que nos propusemos a fazer na Terra é um percurso constante de aprendizagem, pois a existência humana é uma das mais elevadas bênçãos que um Espírito pode ter na sua evolução, que lhe permite vivenciar o amor em forma de semente e alimentá-lo até se tornar uma árvore frondosa, de flores belas e frutos saborosos, onde os animais encontram abrigo e os pássaros cantam. Parece poesia, e até é, pois quando iniciamos este caminho tudo se sincroniza, em perfeição absoluta, num ajustamento subtil que só percebemos quando estamos ligados à nossa essência, mas também olhamos e estamos atentos a quem somos e estamos a ser, quando oramos e vigiamos, em cada momento da nossa vida.
As armadilhas do ego são, tantas e tantas vezes, subtis e sublimes, com máscaras que revelam uma aparente beleza, mas que escondem a necessidade de trabalho interior, nos nossos pensamentos, nas nossas emoções, lutos e perdões que achamos ter concluídos, mas cujo processo vai apenas na parte visível, pedaços de Alma que precisam de ser recolhidos, curados e unidos de novo, através do amor, da aceitação, da rendição, de nos permitirmos morrer para renascer, pois não podemos fazer um sem o outro, assim como não podemos orar sem vigiar, ou o inverso. No entanto, também não podemos ficar presos ou fechados no medo de encontrarmos essas mesmas armadilhas, caso contrário, entramos numa paranóia sem nexo ou senso.
Ainda que possam ser armadilhas, é preciso recordarmo-nos que nada existe nas nossas vidas por um acaso, nada está fora do sítio ou desconexo, tudo tem um propósito e um sentido, e essa pedra que parece uma artimanha, pode facilmente ser um criptograma, aquele quem, ao descodificarmos, nos oferece a chave que procuramos há tanto tempo, que abre aquela porta que tantas vezes tentámos, sem êxito, rodar a maçaneta. Quando nos permitimos ser humanos, abrindo os olhos do nosso coração, olhando para dentro de nós, vendo-nos na nossa vulnerabilidade, mas também em tudo o que de mais belo existe em cada um de nós, libertamos a mais profunda energia de transformação das nossas vidas, permitimo-nos morrer e renascer, tornamos cada armadilha num degrau e vivemos o nosso ego da forma mais pura em que ele se pode manifestar.
Leonardo Mansinhos
Vigiar e orar, é imperativo, é imperioso, é uma constante da consciência!
Obrigada por saberes tão bem dar os nomes certos e definições a tudo que É, e faz parte intrínseca da Vida Humana.
Gratidão profunda, querido Leonardo!