Uma das mais prementes e essenciais certezas da vida é que ela não para na sua linearidade temporal. Dia após dia, instante após instante, ela desenrola-se, trazendo-nos novas oportunidades de sermos nós mesmos, de caminharmos no nosso propósito e nos elevarmos. No entanto, de tempos a tempos, parece que voltamos a momentos já conhecidos e vividos, repetimos padrões e vivências, vícios e comportamentos, nomeadamente de coisas que sentíamos já trabalhadas e resolvidas, mas que, afinal, revelam-se ainda muito presentes e activas e nós, pedindo-nos que as curemos na sua raiz mais profunda, na sua verdadeira origem.
O mundo em que vivemos é caracterizado por uma necessidade de soluções rápidas e eficazes. Temos uma dor de cabeça e tomamos um comprimido, mas não compreendemos a sua origem nem a curamos na sua essência. Mais cedo ou mais tarde ela voltará, pelas mesmas razões, e aí repetiremos o ritual sem nos debruçarmos sobre o que ela nos quer transmitir e mostrar. Se numa dor de cabeça a situação até pode ser simples, em muitas outras coisas vamos a limites e criamos problemas maiores, tudo porque não fomos capazes de nos ouvir, de parar e de olhar para dentro de nós mesmos. Se tal é verdade para questões do nosso corpo físico, também o é para outras questões da nossa vida, para os padrões mentais e emocionais que repetimos e que carregamos, muitos deles que nos incomodam e nos deixam mal, mas que, na verdade, vamos passando ao lado, que resolvemos com “comprimidos”, quando, necessitam de cuidado e atenção para que possam ser trabalhados da forma correcta.
Um padrão que se repete é uma ferida que carregamos, uma parcela da nossa alma que precisa de ser resgatada, trabalhada, curada e integrada na nossa essência, de forma a que possamos recuperar um pouco mais de nós mesmos. Ainda que seja doloroso vermos a nossa própria vivência da situação, encararmos o facto que, mesmo pensando que tudo estaria resolvido, acabámos por voltar a ter os mesmos comportamentos e pensamentos é essencial para quebrarmos esse ciclo nas nossas vidas. Contudo, para o fazermos, é preciso pararmos sem parar, ou seja, continuarmos a viver, com ainda mais força e dedicação, mas focando-nos no trabalho que esse padrão nos está a pedir.
Os grandes mestres dizem-nos que temos de ser como a água. Então, é preciso recordar que a água dum rio, quando, no seu percurso, encontra uma pedra, ela não fica parada a contemplá-la, mas também não tem hipótese de a ignorar, ela adapta-se, contorna-a, mas, também, a vai desgastando com o seu fluxo, até ao dia em que essa pedra nada mais é do que os grãos de areia que compõem o fundo do rio. Da mesma forma, não podemos ficar paralisados perante os nossos padrões, temos de continuar a viver, mas olhando para eles, percebendo o porquê de terem surgido nas nossas vidas, compreendendo e aceitando-os para melhor os trabalhar, até que se tornem parte integrante do nosso percurso, matéria-prima para o nosso crescimento. Muitas vezes, o que fazemos é recusar e querer, de qualquer forma, eliminar o padrão ou o vício, não compreendendo que ele é uma parte muito importante do nosso propósito e que, sem ele, na verdade, não podemos crescer e evoluir, mas que, com ele intacto, da mesma maneira, não saímos do mesmo sítio.
Trabalhar um padrão, um vício, um auto-boicote ou uma auto-sabotagem, um comportamento intrínseco no nosso ser, pede, necessariamente, um grande trabalho de amor por nós mesmos, de cuidado, colo, paciência, persistência e tolerância. É apenas quando somos capazes de parar de nos castigar perante a compreensão do que, facilmente, olhamos como uma falha e como um erro, quando somos capazes de, assumindo a responsabilidade e não a culpa, mas agindo proactivamente, aceitando que não transformamos anos em dias ou meses, que não podemos mudar quem somos com um estalar de dedos, abrindo o nosso coração para nós mesmos, caminhar para a nossa própria cura, para o resgate do nosso ser, para o perdão e, assim, subir mais um degrau na escada do propósito que nos trouxe à Terra.
Leonardo Mansinhos
Colo, persistência e tolerância…isto é o Amor Maior…Incondicional que só eu posso dar-me.
Obrigada, Leonardo!
Xi Coração,
Margarida.