Todas as mais belas histórias começam por um mítico “Era uma vez…”, a expressão célebre que nos remete para tempos imemoriais, para tempos sem tempo, para tempos que não sabemos bem se são reais, mas cuja permanência nos nossos corações traz-nos uma certeza da sua veracidade. A verdade não precisa de ser real na matéria do mundo e da dimensão em que vivemos, basta ser em nós, nas nossas consciências e nas nossas almas, na mistura profunda do que somos com todas e com cada uma das partículas de tempo que constroem, incessantemente, a história deste planeta. Quando essa verdade é partilhada por muitos de nós, ela torna-se uma realidade, manifesta-se e concretiza-se. A história que é celebrada nestes dias é uma dessas, mítica e especial, a grande história do Amor.
É verdade, não deveria ser preciso haver um dia específico para nos lembrarmos do poder e da força do Amor, daquele Amor que ultrapassa os limites da matéria, do corpo físico, da existência e da própria vida. Não deveria, mas enquanto nos corações dos homens não habitar a Verdade do Amor, do respeito por todos os seres vivos, de todas as espécies e naturezas, é necessário recordarmos uma história universal, verdadeira para aqueles que nela quiserem acreditar, da forma como quiserem acreditar, a dum Amor Maior feito humano na Terra, nascido para trazer Luz ao mundo e abrir os corações para uma nova Era.
Muito para além das crenças religiosas, há uma força, uma presença, uma certeza nos nossos corações, que nos mostra algo de especial e que, na verdade, é o grande sentido deste tempo do Natal. Ao final de um ciclo, de um ano de muitas vivências, acontecimentos, experiências e aprendizagens, é importante limparmos um pouco os nossos corações e reconectarmo-nos com a essência da Vida, o Amor que nos habita. É neste sentido e com este propósito que vivemos o Natal.
Acredito que algo de muito especial aconteceu naquele tempo, que realmente alguém nasceu com uma missão muito especial, a de nos acender a chama do Espírito através do recordar dos grandes pilares da existência humana, a Fé, a Esperança e o Amor. Do início ao final da sua vida, esse foi o seu propósito, cumprido de tal forma, que mais de dois milénios passados, continuamos a reavivá-la, todos os anos, celebrando-a, cada um à sua maneira, da forma como sabe ou conhece, e apenas isso é necessário, na verdade. A mensagem chegou, firmou-se e permanece, ainda que continuemos a não tirar a sua grande essência.
Talvez os contornos não sejam exactamente aqueles, os dias confundem-se com muitos outros mitos e lendas das sociedades deste planeta, mas foi a sua mensagem que nos moldou e nos nossos corações há algo que é vivido e que nos tem definido, mesmo quando nos esquecemos dela, mesmo quando vemos o mundo à nossa volta numa confusão que parece crescer a olhos vistos.
Por este dias, no meio do consumismo, grandes actos de amor também se materializam, e se é verdade que se gastam fortunas, muitas vezes, em coisas que para nada servem ou apenas para não parecer mal, também se mudam vidas, também se leva amor, carinho e compreensão a corações que dele necessitam, muitas vezes até mais do que alimento para o corpo. Sim, é verdade que é importante que tal seja feito todos os dias, todos os meses, em todos os anos, mas é importante não desprezarmos nenhum dos actos, nenhuma das acções. Da mesma forma, isso ensina-nos que, nas nossas vidas, não devemos menosprezar nenhuma das parcelas do nosso ser, não devemos julgar menor qualquer um dos nossos actos, não devemos achar-nos pequenos, quando, na realidade, o que o Mestre nos ensinou foi que somos únicos e especiais.
A história do Natal é a daquele que nasceu como refugiado duma perseguição, que se sentiu diferente de todos os que o rodeavam, mas nunca, em momento algum, se desviou do seu propósito. Esta é a história daquele que nos veio recordar que Ele era o caminho, a verdade e a vida. Não ele, o homem, mas sim o Cristo, a centelha maior que está em tudo nesta Terra, a fagulha do Espírito moldado em Amor, que nos pediu que vibrássemos nesta compreensão de nós mesmos, a de sermos únicos, Filhos de Deus, parcelas únicas de um Todo.
Enquanto nos corações dos Homens esta essência e este ensinamento não forem uma presença diária e constante, continuaremos a precisar destes dias, desta quadra, para activar em nós esse algo maior e belo. No entanto é preciso também aprendermos a viver estes ensinamentos, não ao estilo religioso, como nos foi imposto, rodeado de esquemas de culpas, pesos de responsabilidade e ameaças duma vida eterna tenebrosa, mas sim em profunda espiritualidade, em plenitude, num suave sentir e elevada permanência. Enquanto for necessário, a vida na Terra e o próprio planeta nos farão vivenciar a sombra dos dias para que busquemos a aurora do despertar e libertemos a Luz da Vida.
Por isso, nesta noite de silêncio e magia, liguemo-nos ao que é para nós importante, entreguemo-nos de coração, recordemo-nos da família, não só a de origem, responsável pela nossa existência, mas também a enorme família que é a humana, conectada por gerações e gerações de seres que deram o seu melhor, tal como nós, a cada dia. Recordemo-nos também, nesta noite, de todos aqueles que, pelo mundo, não têm uma mesa tão farta, alguns nem sequer o calor de uma casa, de um tecto, de uma cama. Recordemo-nos em profundo respeito, em profundo amor por essas almas que vivem tamanhas provações e encontremos dentro do nosso coração um pouco de espaço para as acolher em amor, para que ele se possa libertar e chegar a todos os que dele necessitem, na confiança de que é apenas uma gota, um pequeno acto, mas muito especial, quando feito em Verdade.
Façamos desta dádiva uma constante, que não se perca por estes dias, mas permaneça em nós em cada momento, para que cada um possa fazer algo, auxiliar alguém da forma como puder e conseguir, marcar a diferença, por uma acção ou uma palavra, por um olhar ou um sorriso, até mesmo apenas por um pensamento com profunda intenção, mas que tal seja feito com tal força que muros sejam deitados abaixo, que preconceitos sejam destruídos, que as guerras, a fome e a pobreza terminem, que, apesar das diferenças, consigamos olhar o outro como nosso irmão, respeitá-lo e amá-lo, de forma tão maravilhosa, que aprendamos, duma vez por todas, a crescer em união. É utópico? Talvez até seja, mas as maiores criações do mundo foram feitas por aqueles que acreditaram ser únicos, que sonharam, que se propuseram a levar esses mesmos sonhos mais longe, tão longe que não haveria outra hipótese se não tornarem-se reais, aqueles que, um dia, quiseram que a sua biografia começasse por “Era uma vez…”
É nesta vibração, de coração cheio, que desejo a todos, em meu nome, e em nome da Sopro d’Alma, um muito Feliz Natal! Que 2019 seja o grande ano de revelação do Espírito em cada um de nós, que possa ser um ano de enormes alegrias, de muito amor, de muita partilha e de sonhos conquistados, que possamos, em cada dia, tocar mais e mais corações, pois é isso, na verdade, que levamos desta passagem pela Terra!
Leonardo Mansinhos
Maravilhosa reflexão. Sempre actual.
Obrigada querido Leonardo!
Abraço,
Margarida