Os tempos que correm parecem estar, a cada dia, mais desafiadores, com situações que nos tiram sucessivamente das nossas zonas de conforto e nos deixam em caos e em confusão. O controlo das situações foge-nos entre os dedos e tudo muda tão rapidamente que não sabemos, muitas vezes, como reagir ou o que fazer. Estes são os sinais dum tempo único, intenso e especial, que nos pedem uma profunda reflexão sobre os caminhos feitos, que nos mostram como nos construímos, não só como pessoas, mas também como sociedade e como humanidade. Estes são tempos que nos pedem que nos coloquemos no centro das nossas vidas e nos permitamos compreender que cada um de nós é uma peça essencial neste mundo em que estamos inseridos.
Entre tudo aquilo que estamos a viver, estamos a ser chamados a olhar para dentro de nós mesmos, a compreendermo-nos para lá das capas, máscaras e armaduras que fomos construindo para suportar um mundo cada dia mais desafiador e difícil. Esse olhar revela-nos a quantidade de expectativas colocadas sobre nós mesmos, a competição e a auto-exigência que, directa ou indirectamente, nos foram incutidas, que nos fizeram crer ter que ser melhores que o outro, que nos diminuíram, mesmo sem percebermos, a nossa capacidade de criar algo único e especial, de sermos nós mesmos.
Quando começamos a desconstruir muitas destas armaduras e capas começamos a perceber a falta de amor que existe em nós, a falta de crença nas nossas capacidades e nos nossos caminhos. Começamos a perceber que, face a um crescimento, muitas vezes, desprovido de liberdade, de alegria e colo, ou mesmo quando eles existiram, acompanhado de uma menor disponibilidade de tempo para termos um olhar cuidadoso e cheio de amor, tornámo-nos demasiado defensivos e competitivos, com a sensação de que não éramos suficientes ou que tínhamos sempre de ser melhores e melhores para conquistar as coisas que nos disseram que devíamos ter. Não que tal seja errado, de todo, mas a forma como isso nos foi colocado, na verdade, criou-nos barreiras, receios e medos que nada têm a ver com a verdadeira natureza do ser humano.
É preciso, face aos muitos desafios que nos estão a ser colocados, aprendermos a ser mais tolerantes connosco, aprendermos a amarmo-nos mais e a não nos castigarmos e castrarmos. Temos em nós a ideia que não podemos falhar, que não podemos errar, mas esquecemo-nos que o propósito de cada ser na Terra é o de se aperfeiçoar, mas que tal implica viver a experiência, integrar o erro como uma aprendizagem, levantar depois de cair e, de cabeça erguida, orgulharmo-nos de não desistirmos de sermos nós mesmos e de nos tornarmos melhor, não por comparação, mas sim por termos em nós esse ímpeto extraordinário de revelarmos a nossa Centelha Divina, de manifestar o nosso Espírito neste plano da forma mais bela e maravilhosa.
Apenas quando somos mais amorosos e tolerantes connosco compreendemos que este tempo na Terra é um caminho, uma jornada, que comparada com todo o tempo de formação deste planeta e da humanidade, é uma fracção tão ínfima, que faz com que cada segundo perdido com castigo, castração e exigência seja tempo em que não vemos quem somos e quem podemos ser, que desperdiçamos e não recuperamos. Assim, percebemos que tudo faz parte do nosso caminho, que nada é assim tão grande ou importante que não seja possível de ultrapassar ou de integrar, que em cada dificuldade existe uma aprendizagem, que só pode ser vivida se conseguirmos ver para além de tudo o que se manifesta, para além do que é óbvio, e conseguirmos entender a verdadeira magia do que é a vida.
Quando somos capazes de nos dar um pouco de amor nos tempos mais difíceis, um pouco de colo em cada situação mais dura, um pouco de tolerância em cada erro que cometemos, percebemos que a vida dá-nos sempre mais do que aquilo que oferecemos de nós, que cada semente plantada na terra se multiplica em inúmeras outras sementes. Da mesma forma, todo o amor que plantamos em nós expande-se e mostra-nos coisas que não somos capazes de ver quando estamos inseridos nos ritmos caóticos, fechados, bloqueadores e castradores do mundo em que vivemos, esse mesmo mundo que, na verdade, precisa de muito Amor de cada um de nós. Só assim, estas coisas que vemos à nossa volta e nos fazem doer o coração podem transformar-se em algo melhor, quebrar as suas próprias barreiras e elevar-se em verdadeira Luz.
Leonardo Mansinhos