Ao longo dos últimos anos tenho dito, por diversas vezes, que estamos a viver um tempo único, extraordinário e muito especial. Os dias, semanas e meses passam e uma energia cada vez mais forte recai sobre nós, trazendo-nos, a todos sem excepção, mas a cada um de forma específica, desafios, questões, pedidos de mudança e de transformação. Como um círculo que se vai fechando, há uma pressão maior e mais intensa que nos é colocada para olharmos para o nosso caminho, para tomarmos consciência das questões que são necessárias e essenciais de trabalhar, para mergulharmos num profundo trabalho interno de resgate da nossa essência e libertação das espirais e padrões que nos aprisionam.
É nesse sentido que meses como os que temos vivido, e em especial este que estamos a experienciar, se tornam cruciais, ainda que muito desafiadores, revelando-se verdadeiras pedras basilares para a nossa evolução. Durante estes dias, nos céus, os planetas alinham-se para um trabalho muito forte, gerando sincronicidades extraordinárias, que ultrapassam o limite do tempo e do espaço, que completam processos do passado e libertam energias para o que o futuro nos trará. Se o que está e é vivido em cima se reflecte no que está embaixo, então tudo o que nos céus se configura, também em nós se manifesta, pois essa é a ordem maior de todas as coisas.
Mercúrio, no seu movimento retrógrado, pede-nos reflexão e um foco mais profundo sobre nós mesmos, sobre uma consciência simples, mas importante, a de estarmos a ser quem realmente somos, a manifestar a nossa essência, ou se estamos a ser apenas um reflexo, um holograma. Nessa perspectiva, o planeta da mente e da comunicação pede-nos atenção ao que se passa no ar, pois é no ar que o som se propaga, que a voz existe e se torna audível. O ar que nos rodeia, vivido nos nossos pensamentos e ideias, trazido pelas notícias que todos os dias nos chegam, pela percepção da dificuldade que existe em comunicar, em dialogar, reveladora de egos feridos e inflados, está pesado e difícil de gerir, pedindo-nos muita calma, amor e tolerância, muito carinho, colo e afecto, mesmo (e nomeadamente) perante as coisas mais duras e avassaladoras.
Estamos também em época de eclipses, bem fortes e intensos, que trazem processos que precisam de ser encerrados, que nos mostram padrões e nos alertam para o que necessita de ser transformado nas nossas vidas, no mundo que nos rodeia, no caminho que temos vindo a percorrer. Ao mesmo tempo, eles sincronizam-se já com o futuro, com os desafios que nos serão em breve apresentados, como uma chave que nos é oferecida, uma dádiva que nos permite termos um pouco mais de preparação para tudo o que está à nossa frente. O segredo, como nos transmitiu o Mestre, quando dizia “quem tem ouvidos para ouvir, ouça”, e que certamente não se referia ao ouvir o que está fora, mas sim o que está dentro, pois no Universo tudo é ressonância e vibração, é precisamente ouvirmos o que está em nós, o que em nós se manifesta, o que sentimos, o que nos alimenta a Alma e nos acende o Espírito.
Perante isto, e muito mais que estamos a (e iremos ainda) viver, é preciso compreendermos que muito do que nos está a ser solicitado é que aprendamos a relaxar, a não levar tudo tão a sério nem com tanto peso. Isto não significa desresponsabilizarmo-nos ou, como se costuma dizer, “deixar andar”. Na verdade, é precisamente o contrário. Quando aprendemos a levar a vida com uma certa leveza, sem perdermos o foco das nossas responsabilidades e do nosso caminho, aprendemos também a largar o que não é nosso, o que não nos pertence e o que nem sequer temos a mínima responsabilidade, deixando que tudo se encaixe numa natural ordem, sem precisarmos de tudo controlar e de tudo manipular. Assim, temos espaço e energia para nos dedicarmos ao que nos pertence, ao que é do nosso caminho, da nossa verdadeira responsabilidade.
Não levar a vida tão a sério é compreender que só temos responsabilidade e poder sobre o que pertence ao nosso caminho, e mesmo sobre essas coisas, muitas vezes, temos de relaxar e largar os nossos mecanismos de controlo. Em todos os caminhos, porém, há aprendizagens e lições, há processos que precisam de ser integrados, mensagens que precisam de ser lidas e interpretadas, vivências que nos pedem para estarmos presentes, não no sentido de ter tudo sob controlo, mas sim para existirmos verdadeiramente nelas e delas retirarmos tudo o que existe para nós.
Quando aprendemos que, no mundo da matéria, há coisas que, por mais pesadas e difíceis que sejam, precisam de ser relativizadas, aprendemos também o poder do riso, da alegria e da gargalhada verdadeiros, que afastam energias densas tão ou mais fortemente que um acender duma vela ou uma forte defumação, que atraem energias de prosperidade com mais força que um rol de orações e promessas. Veja-se, por exemplo, como um bebé que sorri para nós transforma-nos o dia, como nos tira dos pensamentos densos do dia-a-dia, como nos dá um conforto no coração, quando a inocente criatura nem sequer consciência tem do que faz e simplesmente vibra no que existe em si.
Dessa forma, tão simples e subtil, compreendemos que tudo tem o seu lugar e espaço certos, que nunca poderemos largar a nossa caminhada para auxiliar o nosso semelhante a fazer a dele, pois assim não o ajudaremos e, na verdade, acabaremos por dar os seus passos por ele, desresponsabilizando-o a ele e a nós da essência que nos habita. Isso não significa largar ou ignorar, mas sim, pelo contrário, significa que quando nos dedicamos ao nosso caminho estamos no centro das nossas vidas, estamos presentes em nós, e isso permite-nos, mais conscientemente, estender a mão e ajudar quando realmente tal é preciso, a auxiliar o outro com a sua carga em momentos pontuais. Quando levamos a vida muito a sério, ficamos presos nas garras da matéria e carregamos a nossa Alma com um peso que não lhe pertence nem é o dela, e não foi esse o sentido que nos trouxe até este plano.
Os tempos que nos permeiam e nos envolvem são profundos e especiais, precisamente porque nos pedem para integrar essa premissa tão simples de que tudo é efémero e uma passagem, que o verdadeiro valor que elas têm não é dado pela sua preservação ou pela estrutura e segurança que nos dão, mas sim pelo que nela vivemos, pelo que nela somos, pelo que dela podemos usufruir e construir em nós. Essa consciência faz com que nos permitamos, cada dia mais, estar presentes, de forma total e em dádiva absoluta, de coração aberto, vulnerabilizando-nos, sem qualquer restrição, celebrando a vida em tudo o que ela é, partilhando-a em quem nos tornamos, brilhando e levando luz a tudo e todos.
Leonardo Mansinhos