Nos últimos meses, várias figuras vieram alertar-nos para uma ideia de que a Terra estava doente, levada ao extremo pela nossa utilização dos seus recursos, algo que necessitaria de ser travado e reequilibrado. Não é uma ideia totalmente descabida nem errada, mas o momento que estamos a viver está a mostrar-nos algo um pouco diferente.
Sim, é verdade que a Terra está doente, porque nós a esgotámos e a desrespeitámos. Há muito tempo que perdemos uma noção que os Antigos tinham enraizada, a de que a Terra, a nossa Mãe, é um organismo vivo, um espírito maravilhoso que se propôs à dádiva de nos receber e nos possibilitar a evolução. Foi essa perda, esse corte, que nos levou a desconectarmos com a nossa própria vida e a entrarmos num processo de sobrevivência que nos está a sair muito caro.
É preciso perceber que quem precisa de cura não é a Terra, e as últimas semanas mostraram-nos isso, mas sim nós, os seres humanos, a Humanidade. Veja-se que, assim que nós desaceleramos globalmente, no momento em que os grandes polos industriais do mundo são obrigados a reduzir, quando não mesmo a parar a nossa actividade, a Terra, natural e muito rapidamente, começa a regenerar-se, algo que muitas notícias nos têm provado e mostrado. Dessa forma, a Terra, a nossa Mãe, mostra-nos também como nós próprios funcionamos, pois estamos todos conectados, e que bastará pararmos e tomarmos consciência do nosso caminho para nos aperfeiçoarmos, para corrigirmos trilhos e nos transformarmos.
É a Humanidade quem está profundamente doente, quem necessita de uma cura profunda, quem agoniza, e este momento que vivemos está a provar-nos isso duma forma muito dolorosa, mas, creio, essencial. São os tempos de crise que trazem a verdade ao de cima, que revelam o que está mais denso e profundo, que nos mostram os monstros e as trevas que existem em cada um de nós. São estes tempos também que colocam nas nossas mãos a capacidade de quebrarmos este ciclo de destruição que temos vivido e alimentado.
Talvez sejamos agora capazes de compreender que a nossa postura e a nossa atitude nos tornaram, como dizia o Agente Smith ao Morpheus, no filme Matrix, um vírus e, agora, é um vírus também que nos relembra da necessidade de voltarmos à nossa essência, à beleza do que é ser-se Humano. Isso implica reconhecermos a capacidade extraordinária de fazermos o bem, de compreendermo-nos como espíritos, parte de uma entidade maior, da Fonte, de Deus, que escolheram a Terra como caminho de evolução, e isso implica a aprendizagem do verdadeiro valor da matéria, de que ela é essencial, sim, mas que não nos podemos deixar aprisionar por ela, e é tão fácil isso acontecer.
Quando compreendemos a matéria como uma manifestação divina, entendemos também que ela é providencial, que ela é suficiente e prazerosa, que nos oferece tudo, mas mesmo tudo, o que necessitamos, que chega para todos, de forma equilibrada, desde que sejamos capazes de fazer algo que os vários Mestres nos ensinaram: amar-nos e respeitarmo-nos uns aos outros. Contudo, isso implica vermo-nos como iguais, olharmo-nos no mesmo horizonte, compreendendo que cada um é uma manifestação única do Espírito e que não vai tirar nada a ninguém, que não vai ocupar o espaço de ninguém, que não vai ficar com os recursos de ninguém, pois tal não é necessário.
É este tempo que nos mostra, de forma sublime, mas muito poderosa, como somos iguais, que mesmo aqueles que nos governam, ou os que, supostamente, têm mais poder, estão vulneráveis a algo invisível aos nossos olhos e que, por isso, se torna verdadeiramente assustador. No meio da pandemia não há nós e eles, e já não podemos estar nessa vibração, pois ela é a nossa doença. Agora há um todo, que se une ou fica dividido, que compreende que há uma cura, sim, mas que não pode ser aplicada no mesmo sentido de outros tempos e de outros momentos, de outros problemas, pragas ou pandemias.
A primeira cura para o que estamos a viver é o amor, por nós e pelo próximo, a compreensão e o respeito, a dádiva profunda de nós mesmos a um caminho comum. Dessa cura nascerão as outras que necessitamos, pois assim compreenderemos que uma doença, seja ela qual for, do ponto de vista do ser humano, é o grito mais alto do espírito enfermo, que dando todos os sinais, de um plano mental, conceptual, e de um plano emocional, não tem outra solução senão mexer com aquilo que é mais profundo e valioso em nós, a matéria e a vida.
Hoje, mais do que nunca, precisamos de olharmo-nos neste sentido, sem medo do que vamos compreender. Sem dúvida, vamos ver um caminho que entenderemos como destrutivo, vamos ver as nossas sombras, os nossos medos, as dúvidas e os anseios, vamos ver as nossas prisões e os nossos carcereiros. Contudo, também veremos, se assim nos predispusermos, a nossa luz, a nossa beleza mais profunda, estenderemos a mão ao próximo sem qualquer medo, sem qualquer repugnância, cuidaremos do outro e cuidaremos de nós, deixaremos de ser uma sombra de nós mesmos e elevaremos os nossos corações ao alto, revelando a centelha que nos habita.
Nem todos o farão, nem todos o conseguirão fazer, muitos ainda ficarão presos às coisas da matéria e por elas serão absorvidos e destruídos, a pouco e pouco, mas, a esses, apenas poderemos estender as mãos e abrir o coração para que possam, se assim o pretenderem, sair das areias movediças em que estão. A esses, mais do que a tudo o resto, precisamos de dar amor e compaixão, mas sem tentar, desesperadamente, salvar. Há poucos dias, uma saqueta de chá que traz uma mensagem, chamou-me a atenção, pois, ao revelá-la, sorri e senti um calor no coração. Ela dizia algo que, sinto, todos precisamos agora: “Espalha a Luz; sê o Farol”.
Leonardo Mansinhos
« Espalha a Luz; sê o farol »! 🌅