Uma das frases que mais tenho repetido nos últimos meses, senão mesmo anos, é que vivemos tempos únicos e muito especiais. Este momento, em concreto, está a ser muito difícil e desafiador, não só por causa da pandemia agora classificada, que nos últimos dois meses fez milhares de mortos e se espalhou pelo mundo todo, mas, talvez principalmente, por todo o medo que está generalizado, que se tem vindo a instalar e a ser alimentado. Por isso, este é um tempo em que a calma, a serenidade, a fé e a esperança são essenciais. Por isso também, de forma diferente, esta reflexão é mais do que uma simples explanação de ideias, é, na verdade, a vontade reforçada de trazer consciência, de trazer amor e luz aos corações de todos aqueles que a lerem.
O mundo está, neste tempo, envolvido em medo, em pânico, em descontrolo total. Após muitos avisos, se quisermos ver, podemos começar a compreender que não controlamos nada, que vivemos presos a estruturas que estão caducas, a mecanismos que não funcionam mais, que não servem o grande propósito de sermos espíritos encarnados aqui na Terra. Talvez para muitos isso não seja importante, talvez nem sequer tenham consciência disso, talvez o que se preocupam é que pode-se instalar uma catástrofe e que podem não ter comida em casa ou papel higiénico, combustível ou outra coisa qualquer. São esses que mais necessitam da nossa compaixão, mas também da nossa assertividade.
O mundo está em plena mudança, o paradigma em que a nossa sociedade está assente está a transformar-se a olhos vistos, e o que vivemos hoje é mais um reflexo de tudo isso. Tudo o que achávamos seguro e estruturado, de repente, sai do nosso controlo, e até aqueles que mais estão em sintonia com a compreensão das razões para lá da razão, se disserem que não têm medo ou receio, uma pontinha que seja, estarão a mentir. Ainda que conheçamos um pouco do plano que está em curso, não compreenderemos nunca a sua total magnitude, pois também fazemos parte do processo e isso retira-nos controlo sobre ele. Perante tudo isto, a primeira gota de amor, de tolerância, de serenidade, de colo e compreensão tem de ser para connosco próprios.
Como tenho repetido desde o final do ano passado, ainda antes de toda esta situação, chegou o tempo de nos reconciliarmos connosco, de cuidarmos de nós, de olharmos profundamente para a forma como tratamos o nosso corpo, como tratamos a Terra, os animais, as plantas, os minerais, como vemos e cuidamos do outro. Quando todas estas situações acontecem, os véus rompem-se e as máscaras caem, tudo se revela no seu melhor e no seu pior, o trigo e o joio, antes misturado, necessitam de ser separados, sob pena do segundo contaminar e destruir o primeiro. Os egoísmos revelam-se, a irracionalidade e a estupidez destacam-se, a falta de humanidade e civismo, que em muitas outras coisas já se mostrava, agora é tão visível que dói aos olhos daqueles que, em cada dia, tentam marcar a diferença. Contudo, essa dor é precisa, é necessária, é fulcral.
É por via da dor que o coração abre, pois é ela que quebra as carapaças e as armaduras, permitindo a luz sair e tudo iluminar. É a dor necessária para que possamos recordar, nas nossas células, no nosso Eu mais profundo, que somos parcelas de Deus, que somos Centelhas Divinas. No meio do desespero, da frustração, do medo que todo este processo de transformação nos traz, a fé e a esperança são os bálsamos necessários, pois são elas quem, no meio da escuridão, nos poderão orientar, são elas o cântico que apazigua o choro e o sentimento de perdição, são elas que nos seguram enquanto caminhamos nas águas turbulentas, para que, ao contrário de Pedro, não nos afundemos.
O Mestre ensinou-nos a solução para este problema e para todos os que vivemos, ultrapassámos e ainda iremos viver: amar o próximo, como a nós mesmos. No fundo, hoje, mais do que nunca, é-nos pedido isso, que sejamos capazes de olhar o outro, esse outro que também somos nós, esse outro que partilha deste mesmo espaço, desta mesma Terra, deste mesmo ar, e amá-lo, respeitá-lo, senti-lo na sua essência. É apenas com muito amor, muita fé e esperança que o ambiente pesado que se tem instalado nestes dias e que se irá agudizar durante os próximos, encontrará purificação.
Isso significa que não ignoramos o medo, a dúvida ou o receio, bem pelo contrário! Chegou o tempo de conversarmos com os nossos demónios internos, com essas parcelas do nosso ser, da nossa sociedade, que também são parte de nós, que precisam de luz, de colo, de carinho e de afecto, tudo aquilo que nos está a ser retirado. Por isso, observemos o que se passa, não com o olhar do medo ou do desespero, mas vendo os pequenos pormenores, os pequenos milagres que nos estão a ser mostrados, que a vida e a Terra nos revelam a cada momento. É curioso que tudo isto se viva no mesmo momento em que a natureza à nossa volta se renova e renasce.
Aprendamos a estar no agora, serena e calmamente, vivendo com o que nos está a ser oferecido. É preciso estarmos atentos, mais até do que o normal, é preciso contenção, sim, mas, acima de tudo, é preciso humanidade, bom senso, civismo, serenidade e, já agora, muita oração, não das pré-feitas ou das que são ditas da boca para fora, mas sim aquelas sinceras, vindas do mais profundo do nosso ser. Que as orações não sejam dirigidas a um qualquer Deus ou entidade superior, suplicando para nos limpar isto, de forma a podermos voltar ao normal, pois isso não irá acontecer, mas sim para que haja esclarecimento, primeiro que tudo em cada um de nós, para mudar o que precisa de ser mudado, para compreender e ver o que precisa de ser visto, para cumprir o que precisa de ser cumprido. Que nessa oração estejam também incluídos todos aqueles que estão a padecer, não só desta doença, mas de todas as “doenças” deste mundo, para que possamos todos, em conjunto, cada um com a sua parte, contribuir para encontrar estas curas tão necessárias e, assim, fazer deste mundo algo um pouco melhor.
Este não é um tempo simples ou fácil, mas sim um tempo de desafios profundos e intensos, um tempo que pede que sejamos capazes de extrair o melhor de nós, que sejamos verdadeiramente humanos, que renovemos a esperança, não num qualquer deus, guia ou entidade, mas sim em nós mesmos, no amor que nos compõe, que saibamos valorizar a vida, pois quando ela não é devidamente alimentada, quando ficamos fechados nas coisas da matéria, quando ficamos encarcerados na ganância, aprisionados num alimentar do ego, cortamos esse elo e, naturalmente, a morte irá consumir toda a nossa energia. Quando enchemos o nosso coração de fé e esperança as coisas não mudam por si sós, mas nós seremos capazes de mudar-nos e, gota a gota, transformar todo um oceano.
Leonardo Mansinhos
Este texto é uma benção!
Deves andar cada vez mais ligado lá cima, as tuas palavras são expressão de fluidez! Bem haja! O teu Mercúrio deve andar com muitos bons trânsitos, ou será o teu urano? 😛
Um abraço,
V.