Vivemos um tempo de profunda mudança de vibração energética, acompanhada de efectivas mudanças em quem somos, na forma como lidamos com as nossas questões, na maneira como vemos a nossa vida, a sociedade e o mundo. Um ano tão desafiador como o que está prestes a terminar levou-nos, de forma mais ou menos consciente, para dentro de nós mesmos e para a urgência de olharmos para as nossas feridas, para as nossas questões. Ao mesmo tempo, mostrou-nos que as nossas feridas reflectem-se e são reflectidas nas feridas da sociedade e da humanidade, assim como da própria Terra.
Chegados ao final deste ano, que embora seja uma convenção de calendário, tem um significado e um simbolismo, os céus trazem-nos o derradeiro portal deste tempo, o sedimentar da energia do elemento Ar como o grande dinamizador do caminho de evolução da sociedade durante os próximos dois séculos. Com esta mudança vibracional, saímos dum tempo de trabalho da matéria, que tanto nos deu, tanto nos fez crescer, pelo qual precisamos de estar profundamente gratos, mas que agora precisa de ser equilibrado e ajustado, levando-nos para um tempo onde a mente e, especificamente, a consciência, necessitam de ser elevadas e redimensionadas.
Durante muito tempo disse que era urgente trazermos o pensamento crítico e conceptual de volta à sociedade, pois ficámos totalmente presos aos conceitos económicos e financeiros, esquecendo-nos de algumas coisas básicas da vida humana, do respeito pelo próximo e pelo mundo que nos acolhe. Sem o pensamento, sem a compreensão, a comunicação, a informação, o debate, tornamo-nos máquinas e encaminhamo-nos para os cenários mais dantescos dos filmes de ficção científica que tão bem conhecemos, esquecendo que somos seres que se constroem, aqui na Terra, através da vida em sociedade.
Ao mesmo tempo, sem o desenvolvimento tecnológico, focado na sustentabilidade, na ciência, não temos a capacidade de criar as verdadeiras condições para podermos evoluir. Contudo, se repararmos bem no que estamos a viver, mesmo com um avanço tecnológico e científico tão significativos, o facto de não termos pensado a sociedade, de nos desligarmos da essência humana, de deixarmos de nos respeitarmos e de comunicarmos, tem levado a movimentos populistas, negacionistas, totalitaristas, a um profundo apagamento da capacidade crítica e uma absorção total e viciosa de informação, algo profundamente perigoso, como podemos tão bem ver olhando para o mundo em que vivemos.
Todas estas transformações energéticas não prenunciam tempos fáceis, sem dúvida, pois ainda existem muitas estruturas caducas, não só concretas, mas, acima de tudo, conceptuais, que necessitam de ser quebradas, deitadas abaixo, reconstruídas, actualizadas em profunda consciência. No fundo, este é o verdadeiro propósito dos tempos que vivemos, o de fazer evoluir as nossas consciências individuais e colectivas. Nunca fomos tantos neste planeta, nunca tantas Almas escolheram habitar a Terra ao mesmo tempo, e tal significa que este é um tempo único, de enormes desafios, que traz a cada um de nós a possibilidade de se elevar, de ascender neste plano para tocar e trazer um pouco mais do seu próprio Espírito para este planeta, e isso significa ser um archote num tempo de transição para lá das trevas.
A grande questão é que existe um profundo trabalho de consciência a ser feito, e isso implica compreendermos que esse conceito, que tantas vezes associamos à nossa mente, é muito superior a essa dimensão do nosso ser. Na verdade, como tantas vezes afirmo, a Consciência é a integração entre os nossos corpos mental e emocional, numa dimensão terrena e divina. Isto implica activarmos esta ligação entre planos, elevando esses corpos mental e emocional através de vivências sublimes e inteligentes, aproximando-nos assim, progressivamente, de algo muito divino que existe em nós, o que chamamos de Centelha Divina. Em teoria, isto é muito bonito e até parece fácil, mas a realidade é que este é um trabalho de vida e de vidas, de tempos e de eras.
Num momento em que somos levados a um trabalho sobre a energia do Ar, mental e conceptual, comunicacional e social, é fácil entrarmos em extremismos e radicalismos, em idealismos descontrolados e desproporcionados, em ilusões várias. Por isso, é urgente recordarmo-nos da necessidade de abrir os nossos corações, de despertar para a enorme dimensão que é a do Amor, da compaixão, da entrega profunda e da dedicação. Sem o nosso Coração, sem o amor que dele pode transbordar, tudo é estéril, nada é mais do que ideia ou palavra, pois não tem o grande alimento da Vida.
Abrir a nossa consciência é, também, aprender a viver no Agora, é abrir a mente e o coração, é integrar tudo o que foi vivido e percorrido e, em nós, abraçar as aprendizagens e ensinamentos, celebrar as conquistas e as bênçãos, receber o que a vida nos dá, sem desprezar o caminho que foi feito até aqui chegar. É o Agora que nos é solicitado, hoje mais do que nunca, para nos centrarmos e compreendermos cada partícula, cada segundo, cada subtileza de tudo, e assim sabermos qual o próximo passo a dar, qual o caminho a seguir, em uníssono com o nosso propósito maior, em sintonia com a nossa enorme, maravilhosa e luminosa Alma.
Leonardo Mansinhos