Somos humanos e o passado faz parte de nós. Já todos passámos por momentos em que sentimos saudades do passado, de alguma época em especial ou simplesmente da maneira como nos sentíamos bem. Às vezes agarramo-nos a memórias, porque sentimos que são uma parte de nós e, na verdade, são. Com elas fomos mais ou menos felizes, aprendemos, mas, acima de tudo, crescemos e tornamo-nos a pessoa que somos hoje.
No entanto, há alturas em que damos conta que estamos a viver demasiado esse passado. Quando estamos sozinhos, de madrugada, sem nada para fazer e a dar voltas na cama, o passado parece penetrar-nos a memória de forma quase inevitável – e é aí que nos lembramos das coisas que fizemos, das coisas que dissemos e, pior ainda, daquelas que não fomos capazes de dizer ou fazer. Se, por um lado, nos queremos agarrar a boas memórias, por outro, sabemos que viver de recordações não é a solução para nenhum problema.
Viver de recordações do passado impede-nos de criar agora aquelas que serão as recordações do futuro. Porque, se olharmos para trás, e virmos que passamos o nosso tempo a viver algo que já tinha terminado há muito tempo, o que vai controlar a nossa vida deixa de ser a saudade e passa a ser a frustração de estarmos a perder momentos incríveis, dedicando a nossa atenção às coisas erradas.
Contudo, o passado não deve ser encarado como um peso que carregamos connosco, mas, sim, como uma bagagem que nos permite tomar melhores decisões no futuro. O passado serve de espelho do caminho que trilhámos. Buscamos no passado a ideia de que a aprendizagem tida em momentos de alegria, violência verbal, física, traumas, conceitos de amores e amizades, podem ser e devem ser a chave que abre no presente a nossa caixa de pandora, para efetivamente criarmos uma noção diferenciada daquela que tivemos.
O passado deve ser a nossa melhor arma para nos protegermos daquilo que nos acontece no presente e, se o presente provoca em nós uma angústia constante, porque nunca sabemos o que está ao virar da esquina, é ao passado que devemos ir buscar forças e conhecimentos para lidar melhor com essa situação.
Precisamos do passado para nos guiarmos em relação ao presente. Somos quem somos porque, no passado, tomámos determinadas atitudes e dissemos certas coisas. Somos quem somos, porque experienciámos determinadas coisas. E, mais ainda, somos quem somos porque, a certa altura, escolhemos o caminho A e não o caminho B. Somos aquilo que escolhemos e não há nada que nos defina mais do que as nossas escolhas.
Isto não significa, porém, que nos devemos desligar de quem fomos ou das incríveis memórias que guardamos. Foram bons momentos que nos fizeram sentir bem e que, às vezes, desejamos ter de volta. Contudo, sabendo que isso é impossível, o melhor será implementar aquilo que nos fez sentir bem, aquilo que aprendemos, e a pessoa que desejávamos e desejamos ser agora. Neste momento.
Melhor ainda do que recordar o passado, é saber que hoje pode ser o momento de criar memórias novas, conhecer outras pessoas, aceitar oportunidades desafiantes, ter experiências diferentes, sair um pouco do que nos deixa confortáveis, ver a mudança como normal e parte da vida.
Porque podemos ter momentos ainda mais extraordinários do que aqueles dos quais sentimos saudades. Haverá para eles sempre um lugar dentro de nós, mas saber que o presente e o futuro podem trazer coisas tão boas como o passado nos trouxe, ou coisas ainda melhores, dá-nos a esperança de lutar pelo momento que vivemos agora e torná-lo inesquecível. Aquilo que vivermos hoje serão as memórias do amanhã. Viver o momento presente é tornar tudo melhor a cada dia que passa e criar recordações que nos permitem orgulhar da pessoa que fomos e somos.
Por isso, é preciso agir e colocar no nosso caminho novos sentimentos. É urgente olhar para a nossa existência. É urgente viver a nossa vida. Olhar de frente para os sentimentos do nosso coração. Dar ouvidos à nossa alma. Deixar de ter medo do passado e sorrir para o futuro.