Amor. Palavra envolta de sensações transversais nos tempos, na história e em todas as civilizações. Uma pequena palavra que arrepia, fazendo mergulhar numa introspecção de sentidos altruístas que fazem comandar os nossos estados anímicos.
Somos feitos de amor. Da necessidade do amor. De nos sentirmos amados e de amarmos alguém. Faz parte de nós, ainda que, em muitos (alguns de nós) e em diferentes momentos, questionemos isso. Na mesma medida que existimos, amamos.
Amor sente-se, não se define. É tão misterioso, ao ponto de deixar a racionalidade de lado. Não se escolhe o objecto de amor, não se elege, simplesmente se instala dentro da existência de alguém. Assim, se amam de todas as formas e feitios, uma vez que o amor não escolhe padrão, nem responde a planos pré-concebidos.
Por que o Amor não se ensina, instala-se no peito, como um cativante companheiro, comandando magicamente toda a sabedoria, não obedecendo a normas, modelos, classes sociais, nem mesmo a padrões de beleza. Mais que um querer para si, este sentimento ensina o que é isso de querer o bem do outro. Ensina a respeitar atitudes, perdoar acções, dar oportunidades como bónus num jogo sem fim. Ensina a sensação de ‘coração cheio’, mas ensina também o que é a solidão.
O Amor é um escultor, talhando na pessoa que o sente, uma obra-prima de nobres emoções e sentimentos, que o fazem reflectir e crescer dentro de si mesmo. O Amor é como um rio. Corre, contorna pedras e obstáculos, cresce, afunda, cria praias tranquilas, com o propósito inabalável de chegar à foz que o acolha fundindo-se com outras águas que lhe completem a química de existir.
O Amor é tudo. O Amor é nada.
Contudo, nada nesta vida é estanque. Tudo se transforma e o tempo, que passa num ápice, traz também consigo a mudança.
Longe vão os tempos – aparentemente – de um amor que durava uma Vida. Não o amor obrigado e encomendado, mas, sim, o verdadeiro Amor! Aquele que perdura pelo tempo e emana a sensação de carinho, respeito, cooperação, dedicação e muito, muito Amor.
Noutros tempos, a vida tinha menos facilidades. Noutros tempos, muitas eram as coisas feitas de raiz e o tempo – do relógio – era vivido de uma outra forma. As prioridades eram outras e os objetivos também, mas o relógio parecia andar mais devagar.
Hoje, a correria é constante. Somos partes de prazos a cumprir e tarefas a terminar – que se tornam intermináveis. Hoje, as lutas diárias são mais descabidas e muitas das vezes sem norte. Sem sabermos muito bem por onde e para onde queremos ir. Hoje, o Amor mudou. Nem tanto o Amor, mas a forma como amamos. Porque nos é mais fácil isto das tecnologias e o toque nas teclas, do que o toque em pessoas. Porque nos é mais fácil “criar” máscaras e conversar virtualmente – ainda que nos faltem letras – do que no convívio próximo de conversas alargadas e acompanhadas de café. Hoje somos mais “likes” do que verbalizar um “Amo-te”.
No entanto, sabemos Amar. E sabemos Amar bem. Faz parte de nós, da essência de cada um, que poderá, ou não, estar adormecida, mas nós sabemos e precisamos do Amor. Na forma de pessoa, na forma de toque e palavra. Há coisas que não nos devem distrair. E há por aí, diversas e diferentes formas de Amar. Que começa em nós e se expande para o outro. Que é mais do que um espelho onde eu me devo olhar. E ainda que o tempo passe e traga mudanças, às vezes somos nós quem de verdade não se permite Amar.
Ainda que novas gerações cheguem, que se mudem padrões, vontades e conceitos, há um fio que vem de trás. E que sabe que Amar é Estar.