Ao longo da nossa vida, na forma como somos educados e construídos enquanto pessoas, é-nos fomentada a crença e o foco no resultado. Este facto não é, por si só, negativo, bem pelo contrário, mas ele não ganha verdadeira expressão pela forma como tal nos é incutido. Hoje, e desde há vários séculos, vivemos numa sociedade cujo propósito é o Ter e não o Ser, e isso conduz-nos numa perigosa direcção de querermos resultados rápidos, materiais, concretos e sempre superiores. Esta realidade faz-nos perder uma parcela importante da nossa essência humana, a cooperação, a interajuda, o bem-comum, e ficarmos centrados na competição, na superação do outro e não de nós mesmos, na impossibilidade da falha, na autoexigência crítica e exacerbada, destrutiva do nosso maior potencial, a capacidade criativa única, a nossa centelha divina.
Sermos ambiciosos, acredito, é das coisas mais importantes que devemos fomentar em nós, pois ela move-nos, incita-nos, estimula-nos. No entanto, a ambição que nos foi ensinada foi a que nos dirige para a ganância, a do ter mais, a do ser melhor que o outro, a da perfeição, e esta vibração, em vez de nos potenciar, na verdade, destrói-nos, corrompe-nos, densifica-nos. A grande ambição que nos é pedida é a da Alma, a do Coração, como tão sabiamente nos é referida num livro de suprema importância e de leitura recomendada (para não dizer obrigatória), “O Cavaleiro da Armadura Enferrujada”, de Robert Fisher, um dos livros que mais tenho aconselhado ao longo de todos estes anos.
A ambição da Alma não é, por natureza do próprio conceito, egoísta, autocentrada ou individualista. Ela é, acima de tudo, um movimento interno, uma motivação própria, não em relação ao mundo que nos rodeia, mas sim em ligação connosco mesmos. É ela que nos orienta para subirmos a nossa montanha, para nos superarmos a nós mesmos em cada momento, não para sermos melhor que os outros, mas sim para podermos cumprir, mais pronta e profundamente, o nosso propósito, deixando as sementes e o legado a que nos propusemos, acendendo corações com as faíscas que a nossa Alma lança e eleva.
Quando e enquanto vibramos na necessidade de ter, a comparação persiste e destrói o nosso potencial criativo e criador, pois incita-nos a uma busca constante de mais, não para manifestarmos o melhor de nós, mas sim pela ilusão de um conjunto de necessidades que nos são plantadas. Em marketing, onde trabalhei vários anos, orientamos o consumidor para sentir a necessidade de algo, não porque realmente precisa, mas sim porque tem um conjunto de estímulos que se focam na posse, no status, na comparação, num suposto estilo de vida. Contudo, é esta postura que nos tem envenenado na nossa humanidade, que nos coloca num foco materialista e nos agarra à matéria.
É preciso, contudo, compreender que não viemos à Terra para viver miseravelmente ou para estarmos no limite, bem pelo contrário. Tenho em mim uma crença profunda de que a nossa estadia na Terra pode e deve ser próspera e rica, que merecemos coisas boas, coisas que nos satisfaçam, que nos dêem prazer, mas tal não serve de muito se o foco estiver no ego e no ter, na posse na matéria, pois não nos enriquece nem nos alimenta, não nos eleva nem nos potencia, apenas nos aprisiona.
A busca pelo resultado e pela necessidade das coisas da matéria, por via da necessidade e do medo, levam-nos sempre aquém do que realmente é o nosso potencial, pois esquecemo-nos do que é Ser, da manifestação daquilo que temos de melhor e de mais divino. Sem dúvida que estamos na Terra, que vivemos na matéria, que temos contas para pagar, que precisamos de comer, de roupa e de casa, de transporte e dum conjunto de outras coisas que o mundo em que estamos e que construímos, felizmente, por via da evolução, nos solicita. Contudo, esquecemo-nos que tudo isso é necessário, sim, mas não como objectivos e sim como meios para podermos cumprir o que realmente viemos fazer aqui neste plano.
Quando olhamos essas “coisas” como objectivos deixamos de ser um potencial de luz e ficamos fechados na densidade terrena, encerramo-nos no “chumbo” da matéria e limitamos o “ouro” que verdadeiramente somos. Nessa vibração de densidade somos instintivamente levados ao medo da perda, da limitação e da restrição, à ansiedade do resultado final, da materialização, do controlo, esquecendo que quando estamos em sintonia com o nosso espírito, com a nossa capacidade de sermos criadores divinos, quando temos a verdadeira ambição, a que provém da fonte do amor, o Universo traz-nos tudo o que precisamos, necessitamos, e ainda mais uns extras que nos adoçam a Alma.
Quando largamos as preocupações das coisas terrenas, não de forma irresponsável, mas sim de forma consciente, quando nos focamos, sim, em sermos nós mesmos, em cumprirmos o nosso caminho, em elevarmos o melhor que existe em nós, o Universo, o Céu, a Fonte, o Pai, o que lhe quisermos chamar, traz-nos tudo o que necessitamos e merecemos. Esse deverá ser sempre o nosso foco, com profunda responsabilidade sobre as coisas da Terra, do mundo material e do Corpo, claro, mas sem torná-las o objectivo, recordando-nos que o melhor de nós não está na matéria que somos ou que temos, que nos foi dada e na qual habitamos, mas sim no que fazemos com ela, no que dela potenciamos, nas centelhas que acendemos nos corações que nos rodeiam e no mundo em que vivemos, e no que deixamos, e tal só é possível quando nos elevamos pela ambição de nos cumprirmos.
Leonardo Mansinhos
(Imagem por Friso Baaji @unsplash)