Na sua essência, o ser humano tem o hábito e a necessidade de celebrar momentos e situações em datas específicas, criando marcos de memória que são, na verdade, importantes para o nosso desenvolvimento e para a recordação constante da vida. Com o ritmo do nosso dia-a-dia a crescer, fomos criando mais e mais datas, mais e mais efemérides, como alertas para nos lembrarmos de coisas que na verdade, talvez devessem fazer parte da constante das nossas vidas.
É esse mesmo ritmo, frenético, constante, que nos faz celebrar com pompa e circunstância cada data, para no dia seguinte nos esquecermos do que ela representou, do que nela foi plantado, pois a vida já nos voltou a engolir com todas as coisas que ela nos solicita. Assim, o tempo e a vida passam e cada data celebrada nada mais foi do que uma desculpa para dizermos coisas bonitas, para colocarmos intenções que não vamos cumprir, para alimentarmos, na realidade, o nosso ego.
É de extrema importância celebrarmos os momentos, as pessoas e as coisas importantes da vida, assim como é importante lembrar e dar o alerta para situações que precisam de ser vistas e trabalhadas, nem sequer podemos deixar de o fazer, mas também é crucial percebermos que não é um dia isolado que vai marcar a diferença ou compensar seja o que for. Esta postura que temos e que alimentamos mostra-nos a forma como vivemos a nossa vida, a maneira intensa e exacerbada com que nos limitamos e que acaba por pedir que se tenham datas específicas para nos lembrarmos daquilo que, supostamente, deveria estar constantemente no nosso coração.
É certo que a vida nos solicita muito, nos carrega com tantas questões que precisamos de trabalhar, de cumprir, com inúmeras obrigações, mas também é preciso recordarmo-nos que nada mais importante existe do que a própria vida e tudo o que ela nos dá. Para tal, precisamos de reaprender a olhar a vida, não só a nossa como a de todos os que nos rodeiam, pessoas, animais, plantas e a própria Terra, como uma dádiva divina que o Universo, a Fonte, a Criação, coloca nas “mãos” da nossa Alma para cuidar, para desenvolver, fazer crescer, honrar, em cada momento.
Quando honramos a vida, propomo-nos a compreender o valor de cada momento, de cada situação, e, assim, olhamos para tudo com um olhar diferente, não como um dado adquirido, como algo que contamos estar sempre lá, mas sim como uma dádiva que pede muito amor, cuidado e entrega. Com esta mudança de postura e de visão, cada momento celebrado é uma semente plantada, um rebento cuidado e o colher de um fruto poderoso e essencial, o que transforma o coração numa fonte eterna de amor e de prosperidade.
A vida é o mais precioso bem que cada um de nós tem, não por direito adquirido, mas sim por um profundo amor e uma profunda entrega, e honrá-la é também respeitar uma consciência, a de que estamos todos ligados. Quando não vivemos nesta verdade, esquecemo-nos do outro, do nosso semelhante, entramos numa vivência egoísta e apenas centrada em nós mesmos, não compreendendo que assim, não estamos a fazer bem a nós, pois não somos ilhas isoladas, que esquecermos que estamos todos conectados é também prejudicarmo-nos a nós mesmos.
Honrar a vida não é um acto isolado e autocentrado, mas sim uma partilha, um passo importante na aprendizagem profunda que nos traz à Terra, a do amor terreno, concreto e vivo, o caminho para uma profunda conexão com o amor divino e incondicional. Quando vibramos nesta consciência, valorizamos o que alimenta a vida, o tempo flui e deixamos de estar em carência e dependência, passando a viver em profunda prosperidade. Assim, cada celebração, cada data importante, deixa de ser um motivo consumista, uma vivência do ego, um dia para fazer umas fotografias bonitas e deixar umas frases nas redes sociais, e passa a ser um recordar do que é importante, valioso e essencial, que a cada dia, mês ou ano que passa, reforça a sua luz e transpõe as barreiras da matéria.
Leonardo Mansinhos