Ouvimos muitas vezes que estes são tempos de mudança. Que a mudança só ocorre, quando se terminam ciclos. Que os ciclos têm de ser terminados para que algo de novo possa nascer. Que quando não os encerramos devidamente, a vida sempre tem uma forma de os encerrar convenientemente. Muitas vezes de forma abrupta. Porque é a única forma de se nos abrirem os olhos, de vermos o que está à nossa frente.
No entanto, deparamo-nos muitas vezes, à nossa volta, com o peso que muita gente carrega. O Mundo tornou-se numa espécie de bomba-relógio, prestes a eclodir. E nós, seres habitantes deste mesmo Mundo, sentimos toda esta tensão que parece permanente. As responsabilidades, as tarefas, mas, acima de tudo, a necessidade de perfeição, tornam esta bomba-relógio mais notória e densa.
Tudo tem de ser perfeito. Todos temos de ser perfeitos. Temos de estar perfeitos e temos de parecer perfeitos. Ainda que, muitas vezes, tudo esteja num caco. E não foi o Mundo que assim o solicitou. A própria sociedade, que se diz evoluída, é que caiu num retrocesso que tem cara de avanço. Exigindo algo que não é possível. A perfeição.
Termos o melhor carro, a melhor casa, o melhor telemóvel – mas não sermos a melhor pessoa. Termos o melhor casamento, a melhor lua de mel, o melhor filho – mas não termos o melhor sonho – que é o nosso e não o de mais ninguém. Termos mais do que o que somos e aí cai-nos nas costas todo um peso que parece deste e de outro mundo.
Neste grande turbilhão de situações que temos passado, percebemos que nem sempre é fácil aplicar na existência tudo aquilo em que acreditamos. Há momentos que nos escutam, quando damos uma força. Há outros que nem sabemos o que dizer. A realidade é tão densa e conseguimos percebê-la tão bem, que respiramos fundo e entendemos que, no silêncio, também existem explicações, mesmo quando elas não surgem.
O segredo está em sermos mais do que o que temos. Sermos mais nós. Errar e acertar e não ter dúvidas de que a leveza pode entrar no nosso mundo. A leveza de sabermos dizer um não, quando nos apetece. A leveza de partilhar o cabelo despenteado e a cara por lavar. A leveza de uma boa conversa, sem a necessidade de uma boa foto. A leveza de beber chá, sem ter de parecer café. A leveza de um colo e um mimo. A leveza de um sorriso.
Aprendermos a ser criança e de toda a leveza que elas levam na vida. Tirar a mochila dos ombros e parar um pouco pelo caminho, trazer leveza a esta caminhada. É tornar o nosso mundo sustentável e possível de continuar sem tanto peso. E tudo, tudo mesmo, é uma questão de treino e vontade.
Por isso, temos de nos recordar. São tempos de mudança. São tempos de termos coragem de tirar as coisas todas para fora das gavetas, dos armários, independentemente de fúrias e outros cansaços. Escolhermos o que não nos serve mais, o que não faz falta e colocarmos tudo no lugar convenientemente.
Tudo leva o seu tempo a transformar-se. Tudo tem os seus momentos altos e os seus momentos baixos. E todos temos o nosso mundo que se quer melhor a cada dia. Com as suas imperfeições e possibilidades de melhoria. E, depende de cada um, melhorar o seu mundo e ajudar o mundo dos mais próximos. Para que no final, o Mundo, de todos nós, esteja mais leve, mais feliz e sorridente.