Dizem os especialistas que 90% dos nossos problemas são criados pelos nossos pensamentos. Nesse caso, se só nos restam 10% de problemas reais, temos todas as condições para sermos imensamente felizes. É caso para se dizer que os pensamentos são uns malvados manipuladores.
Os pensamentos fazem parte da dinâmica da nossa mente e irão surgir sempre, até porque não há mentes vazias. Porém, é possível não nos deixarmos levar pelos pensamentos se formos apenas observadores, sem que nos identifiquemos com eles, deixando-os ir e vir como se estivéssemos sentados num banco de jardim a contemplar o movimento e a paisagem que nos rodeia. A isto chama-se observar os pensamentos. E se tivermos a consciência de que os estamos a observar, sem que condicionem as nossas emoções, será uma enorme diversão. Pois, ao sermos conscientes espectadores do que se passa na nossa cabeça, da ilusão criada pelos pensamentos, ganhamos uma maior capacidade de distanciamento entre o que verdadeiramente somos e as armadilhas do pensamento, melhorando o nosso bem-estar e permitindo fazer escolhas livres, imparciais, com consciência periférica, vivendo no momento presente, que é a única realidade que a vida nos coloca à disposição, sem que vivamos no passado nem no futuro, nas fantasias (re)criadas pela nossa mente.
Por isso, observar é das coisas mais desafiantes para o ser humano. Porquê? Porque adoramos interferir. Porque parecemos ser incapazes de, perante o acontecer da vida, não fazer algo para que a nossa versão passe a fazer parte do seu desenrolar. É como contemplar uma paisagem e tentar mudá-la, ver um cão passar e desviá-lo do seu caminho, ouvir um pássaro cantar e assobiar para chamá-lo, provocando o efeito contrário, mudando a ordem natural dos movimentos da natureza… Quando interferimos, passamos as nossas verdades aos outros e nem sempre tem de ser assim. Há que criar um distanciamento, dar espaço para que tudo tenha o seu curso natural e esteja no sítio certo.
Observar implica ver para onde é que o entusiasmo se desloca. E o que é o entusiasmo? É a alegria. Das crianças, dos adolescentes, dos adultos, dos idosos, dos animais, dos rios, das árvores, das flores, da natureza… É ver para onde é que o brilho olha. Para onde é que o entusiasmo é direccionado, para onde é que a alegria vai. Observar com olhos de presença, fazendo parte do todo sem interferências.
É possível criar uma distância entre os nossos pensamentos e aquilo que somos. Parece confuso, mas a verdade é que os nossos pensamentos não são a realidade. São apenas criações da nossa mente, que nos mente, que vive no passado ou no futuro e não no presente. Quando tal distanciamento acontece, abrimos uma porta para a liberdade e paz interior. Pois toda a nossa acção deixa de estar condicionada pelos nossos pensamentos, passando a ser conduzida pela nossa essência, por aquilo que verdadeiramente somos: o eu imaculado. Se assim conseguirmos, estaremos perante grandes artistas. Artistas de nós próprios.
Que tal começarmos por nos sentarmos num banco de jardim e simplesmente observar, sem julgar nem qualificar? Ter um momento em que viajamos em nós e no mundo que nos rodeia. Ter a consciência do momento. Sentir. Ser.