Ganhos e perdas, é disto que a vida é feita. Por esta montanha em que todos escalamos, vamos perdendo e encontrando peças, algumas que nos deixam vazios insubstituíveis, outras que nos fazem fraquejar e outras que nos elevam e acrescentam valor. Mas todas elas, todas mesmo, são arquitectas do nosso ser.
Nesta aventura da vida, podemos escolher entre ficarmos parados a olhar para trás a nos lamentarmos dos nossos descaminhos, ou seguirmos em frente, honrando o que perdemos, de coração aberto, fazendo dessas perdas alavancas de crescimento, de separação de “lixos”, de reflexão e, bem assim, de novas conquistas e oportunidades para limparmos o caminho e prosseguirmos com escolhas mais conscientes, em boa companhia.
Vivemos num tempo em que é cada vez mais raro pararmos para observar, para reparar, para nos darmos a oportunidade de estabelecer relações sólidas e de confiança, feitas de compromisso e lealdade, com nós mesmos e com os outros; de criarmos espaço para avistar novas peças e deixar para trás as que nos desgastam e não nos acrescentam valor. Afirmamos sistematicamente que não temos tempo para isto e para aquilo. Confundimos não ter tempo com o fazer muito (pouco9 naquele que sempre foi e é o mesmo tempo, o tempo que nos oferece sempre as mesmas horas. Juntamos informação que não aprofundamos, pois tudo transita a um ritmo alucinante, impedindo-nos de viver a passo brando. Exemplo disso é a quadra natalícia em que marcamos presença em jantares sem fim, como se fossemos luzes que piscam à superfície das árvores de Natal, para, na maioria das vezes, acabarmos por não estar em verdadeiro diálogo e união. Diria mesmo, estamos de corpo presente, mas de coração ausente.
As peças que vamos encontrando pelo caminho, sejam elas peças-chave ou peças secundárias, todas são partes do nosso todo, do nosso puzzle e dão forma à moldura do nosso ser. Algumas encaixam-se e acrescentam-nos alegria, esperança, felicidade, prazer, motivação, luz. Outras desfazem-nos em tristeza, angústia, medo, frustração, revolta. No entanto, todas contribuem na engenharia da nossa estrutura interior.
Com mais peça ou menos peça, vamos sempre a tempo de um novo recomeço. E recomeçar não significa regredir. É, sim, abrirmo-nos a novas possibilidades, revendo metas, limpando poeiras, resgatando (as nossas) pessoas e recuperando valores que extraem o melhor de nós, que nos fazem absorver e projectar luz natural, aquele brilho que torna as pessoas autenticamente luminosas e leves. Sempre com a âncora do amor, que nos dá foco e que luz de dentro. O nosso azul celestial, o que nos move, o nosso poder de transformar as perdas em oportunidades, de nos chamar à luz e fazer luzir aqueles que se perdem na escuridão.
Afinal, é sempre o amor a peça-chave.