Quem é que nunca falou de amor? Quem é que nunca tentou adjectivar, dar-lhe forma, tentar dizer o que significa, isso, essa força, para muitos, irreal, ilusória, para muitos uma miragem apenas digna de uma minoria felizarda. Contudo, todos já falámos e falamos de amor, a toda a hora, a todo o momento, há algo que nos faz questionar o que ele é e que dimensão tem em nós, mas, acima de tudo, no mundo, numa perspectiva mais ampla.
E não faz mal não saber dizer o que é o amor. Aliás, estaríamos a contrariar a sua essência, a sua natureza indizível, o seu carácter inefável, que ultrapassa todas as formas de expressão. A linguagem – ou melhor, as palavras – não é capaz de imortalizar o que é o amor. O amor é tudo o que nos faz apaixonar pelo mundo, todos os dias. Aquilo que nos faz levantar da cama e acordar cedo para apreciar uma paisagem, um pôr-do-sol. O estar com amigos, o ter vontade de fazer novas amizades. O estar atento ao outro, o ter carinho e compaixão por quem está lá fora, ou até mesmo ao pé de nós… Tudo isto é amor. Tudo isto faz com que nós, seres humanos, sejamos diferentes de tudo o que existe por conseguirmos amar e saber que amamos, mas sem saber porquê. Porque o verdadeiro amor não tem motivo, nem forma: só um conteúdo incomensurável e, claro está, inexplicável.
O amor é uma espécie de sinfonia, em que o maestro oculto, o nosso coração, nos guia pelo caminho porventura mais difícil, mas cheio de sabedoria humana, cheio de simplicidade, requinte emocional, sentimentalismo, brilhantismo, esperança, felicidade. Estamos todos em busca de uma felicidade, quer se acredite quer não, não é, de todo, ilusória. É bem possível e todos nós, em algum momento da nossa vida, já a experienciámos, já fizemos dela o nosso conforto maior, o nosso alicerce, o nosso rumo, o nosso sonho. Um bem real. E esses são os melhores.
Apesar de a sociedade de hoje preferir o prazer momentâneo a algo mais sério e com maior profundidade e relevo emocional, não estejamos preocupados connosco, não estejamos desiludidos com uma realidade que se compreende. Afinal, o amor, uma coisa tão bela, como poderia ser para toda a gente? Muita gente escolhe não olhar para dentro de si, porque é mais fácil, porque custa menos, porque se sujeita a menos “complicações”, a menos vaivéns emocionais, a menos história. Amar é, sem dúvida, querer abrilhantar o texto e acrescentar mais genialidade às páginas do livro da nossa vida. Aqueles que amam escrevem romances de quinhentas páginas, cheias de tudo, de tudo aquilo pelo que vale a pena viver: sentir tudo de todas as maneiras e não ter medo de falhar.
O amor não se preocupa em falhar, porque ele, sem si mesmo, já é perfeito, íntegro, sublime, lindo, espectacular. É a magia de todos nós na arte de sentir a vida. É o algo mais que Deus nos deu para chegar mais alto, para alcançar sensibilidades, para tocar corações, para crescer, juntos, lado a lado, sem saber porquê, mas percebendo e abraçando a causa.
Por tudo isto, seria impossível fechar este desabafo sem o apelo ao sentimento. Sem aquelas palavras que nos fizessem subjugar a um nível de humanidade que eu escolho, todos os dias, desafiar. E todos nós podemos chegar lá: sem estigmas, com o coração, com a nossa autenticidade. Esperançosos, vivos, humanamente cultos, emocionalmente na plenitude. O que podíamos nós querer mais senão sentir a arte e a vida? Por isso, sintamos juntos, tudo aquilo que for possível.
Até já não haver forças para sonhar, devemos sorrir para a vida infinitamente.