De certeza que tem ouvido falar muito sobre limites. Parece um tema que de repente está na moda, mas, na verdade, sempre foi uma parte fundamental da nossa felicidade, da nossa paz e do nosso bem-estar.
Então, porque é que nos custa tanto pô-los em prática e porque é que parece que nunca nos ensinaram que deveríamos tê-los?
O motivo será diferente para cada pessoa, claro. Poderá vir de um trauma, ou simplesmente de uma aprendizagem inconsciente, porque era o exemplo familiar. Pode, até, ter uma essência de bondade: ensinaram-nos que deveríamos ser empáticos e que não podíamos ser egoístas. O que, sem dúvida, é uma regra nobre e fundamental para um mundo melhor. No entanto, se esta regra não tiver qualquer tipo de limite, pode tornar-se muito perigosa para a nossa saúde mental, para a nossa autoestima e para qualquer relação saudável.
Por um lado, leva-nos a querer sempre agradar o outro, mesmo à custa da nossa vontade ou das nossas possibilidades. E aqui é que está o perigo. Porque, por vezes, o outro não tem noção de que pode estar a abusar. As outras pessoas têm histórias e vivências diferentes das nossas e podem nem fazer de propósito.
Da mesma forma, deixa-nos muito dependentes da validação dos outros para estarmos confortáveis. Cria-nos a falsa ilusão de que uma relação deve ser aquilo e que, se os outros não fazem o mesmo – não se sacrificam pelas nossas necessidades –, é porque não gostam de nós. Depois, começam as cobranças ou, pelo contrário, o afastamento.
É neste momento que temos de nos tornar um pouco mais livres. Porque, claro, será sempre esse o resultado de ter coragem de mudar aquilo que o deixa insatisfeito na sua vida, seja em que aspeto for: a sua liberdade.
Sim, é um processo que pode ser desconfortável e trazer alguma culpa (será que estamos a ser injustos?) e algum medo (como vai o outro reagir, vai deixar de fazer parte da nossa vida?). Afinal, somos seres sociais e acabamos por procurar, querer e gostar da validação dos outros. No entanto, as necessidades dos outros não podem estar continuamente acima das nossas e do nosso amor-próprio.
Pergunte-se: o que faz sentido para a sua vida? O que prioriza? Que comportamentos o fazem sentir-se confortável ou desconfortável? O que quer evitar? O que é que não tem mais espaço na sua vida? Sim, é um processo intenso, que exige autoconhecimento e que devemos fazer pouco a pouco, para assim consolidar a nossa autoestima e assertividade.
Para começar, lembre-se sempre destas duas verdades fulcrais que o podem ajudar:
- Qualquer tipo de relação deve ter como base o respeito. Não somos todos iguais, não temos a mesma história e vamos errar. As pessoas – nós, inclusive, aos outros – fazem o que sabem e não adivinham os pensamentos alheios. Por isso, cabe-nos a nós educá-las (sem acusá-las) sobre como nos devem tratar, e vice-versa. Se tivermos respeito, consideração e empatia uns pelos outros, este processo torna-se mais fácil para todos os envolvidos. A relação sairá muito mais forte e saudável e nós também.
- De igual modo, devemos ter como base o respeito na relação que temos connosco próprios. Este é inegociável, nunca o deve quebrar. É isso que deve a si próprio. O resto, mesmo que devagar, certamente irá encontrando o seu lugar. Os limites não são um bicho-papão, pelo contrário. São absolutamente necessários para ter e reforçar relações saudáveis. São críticos para a nossa autoestima e a nossa saúde mental. São essenciais para a nossa liberdade e a nossa paz interior.