A sociedade informativa está doente. Ainda não brilham os primeiros raios de sol e os nossos dispositivos eletrónicos já estão bombardeados com histórias de terrorismo, injustiça, criminalidade e desastres sem fim. À nossa volta há discussões acesas, insultos públicos, guerras de opinião e várias polémicas diárias. Tudo é disseminado à velocidade da luz e repetido, vezes sem conta, ao longo do dia, da semana, do mês. Sem darmos conta, enquanto espectadores e participantes, carregamos uma mochila pesada de negativismo. Transportamos essa intensidade no dia a dia, num ruído emocional que cresce e permanece, mesmo quando achamos que já esquecemos e desligámos.
Esse peso negativo molda-nos, influencia o nosso humor, a nossa paciência, a forma como falamos e como olhamos o outro. A desconfiança instala-se quase sem darmos conta. Um desconhecido aproxima-se e nem damos o benefício da dúvida – o instinto é questionar, de imediato, a intenção. Vemos mais perigo do que oportunidade, mais ameaça do que conexão.
Este ambiente entra nas nossas casas, atravessa todas as conversas e normaliza cada pensamento. Aceleramos o passo, trancamos o rosto e a expressão, limitamos ao máximo o contacto humano. Viver neste constante estado de alerta tem um custo elevado. O medo, a raiva e a frustração são como um veneno lento: corroem a nossa capacidade de sentir empatia, de confiar, de celebrar o outro. Tornam-nos mais reativos, menos tolerantes, mais fechados. Afastam-nos dos valores mais humanos: a alegria, a compaixão, a paz, a gratidão e o perdão. Entramos numa espiral negativa e, por mais que procuremos girar em contramão, já somos nós que estamos a contribuir para alimentar a tal mochila que carrega uma enorme crise de valores.
Talvez estejamos a viver tempos mais duros e cada vez mais acelerados, mas isso não significa que estamos condenados a perder a nossa essência, desvalorizando o que sempre tivemos de melhor. Pelo contrário. Nestes períodos exigentes, ‘praticar o bem’ é ainda mais urgente. Começar é simples: um telefonema para saber como alguém está, um elogio sincero, um pedido de desculpas que ficou pendente, um agradecimento no trânsito. Não precisamos de mudar o mundo inteiro de uma vez, basta mudar a forma como interagimos com a parte que nos rodeia e deixar o tempo – e o amor – aturarem. Reescrever o rumo da nossa história coletiva é uma escolha. É ela que nos permitirá, um dia, afirmar que, num mundo que corria tão depressa, escolhemos abrandar e tornar-nos mais humanos.
Educar para a pertença e entrega é emergente. A verdadeira evolução humana começa individualmente, mas é coletiva. Fazemos parte de algo maior – uma família, uma comunidade -, por isso, é necessário compreender (e não esquecer) que as nossas ações têm impacto para além de nós mesmos. A partilha deve ser consciente – uma ação bondosa e respeitadora num momento aceso pode não ser o suficiente para salvar o mundo, mas certamente que vai inspirar alguém que, motivado, repetirá o gesto. Assim se constrói uma corrente de positividade – e é justamente nessa corrente que reside a oportunidade. Um gesto de bondade deve ser encarado como uma semente que, mais cedo ou mais tarde, dá lugar a um jardim coletivo. Nele, há flores onde hoje só vemos terreno árido. Sê a diferença que gostavas de ver no mundo – e devolve-lhe a humanidade que procuras encontrar.