Todos temos uma voz interior que nunca se cala. Por vezes, é suave e quase impercetível. Noutras, grita bem alto. Nem sempre é amável. Diz-nos constantemente que devíamos ter feito mais, que podíamos ter sido melhores e que não nos esforçámos o suficiente. É a voz da exigência interna – que, quando descontrolada, transforma-se num juiz implacável.
A ambição saudável, em particular numa sociedade que valoriza a produtividade e a excelência, pode ser um motor poderoso. No entanto, quando se transforma numa cobrança constante e desmedida, cria um ciclo de insatisfação crónica. É como correr atrás de uma meta que se afasta de cada vez que nos aproximamos. Nesse momento, a autoexigência excessiva instala-se – de uma forma que parece subtil, mas talvez até nem seja. Começa com uma vontade constante de melhorar e transforma-se num peso que carregamos diariamente, para onde quer que vamos. Sentimo-nos obrigados a dar mais e mais, mesmo quando já demos tudo. Procuramos ser perfeitos em todas as frentes, exigimos demasiado e… ficamos esgotados. Medimos o nosso valor pelo que conseguimos produzir ou conquistar e vivemos num modelo padronizado em que nunca somos suficientes.
Por muito que consigamos alcançar, há sempre alguma coisa em falta. É como tentar encher um balde com um furo no fundo. A tarefa nunca está concluída com sucesso e as consequências são previsíveis: stress constante, insatisfação desmedida, esgotamento emocional e, mais tarde, uma profunda perda de motivação.
Aprender a libertar-nos desta exigência excessiva passa por equilibrar ambição com aceitação. Também passa por redefinir, para nós próprios, o verdadeiro significado de sucesso e, em vez de avaliarmos o nosso valor pelos resultados, valorizarmo-nos pelo esforço, crescimento e coragem. Neste caminho, é preciso aceitar que a imperfeição faz parte do ser humano.
No centro desta mudança, está a compaixão ou a capacidade de nos tratarmos com gentileza e compreensão. É ela que nos ajuda a reconhecer que temos limites, a identificá-los e saber que essa condição não nos torna menos dignos ou capazes. Quando nos tratamos com compaixão deixamos de agir por medo de falhar e começamos a agir por desejo de crescer. A motivação deixa de ser alimentada pela pressão e passa a ser sustentada pelo cuidado. Nesse processo, a nossa resiliência aumenta, porque já não nos vemos como inimigos de nós mesmos.
Podemos ser disciplinados sem sermos cruéis connosco. Podemos ter ambição sem viver em constante cobrança. Podemos aprender a respeitar o nosso próprio ritmo. No fim, aquilo que mais nos aproxima da vida que queremos não é a exigência sem limites, mas sim o equilíbrio. Quando o encontramos, deixamos de viver exaustos para começar a viver nutridos. É nesse espaço que, finalmente, descobrimos que ser suficiente… já é mesmo muito.