Quantas pessoas conhece que têm muito potencial, mas que parece que não o alcançam, que não conseguem, que algo as impede? É até possível que uma dessas pessoas sejamos nós, embora não consigamos percebê-lo – como diria Saramago, é preciso sair da ilha para ver a ilha.
Pois bem, a verdade dura é que conseguimos ser o nosso próprio inimigo e muitas vezes aquilo que nos impede de alcançar todo o nosso potencial somos só e apenas nós próprios.
Obviamente, não podemos ignorar alguns fatores que não dependem de nós. Por exemplo, as oportunidades a que temos acesso devido ao país em que nascemos, ou impedimentos de raça, género ou incapacidades, como doenças crónicas. No entanto, mesmo assim, há tanto que podemos mudar! Quantas pessoas não emigram para procurar algo melhor, quantas não são atletas mesmo com deficiência, e tantas outras não são pioneiras em áreas antes reservadas a pessoas completamente diferentes delas?
Contudo, não devemos assumir que por uma pessoa conseguir determinada coisa, todos deveríamos consegui-lo. A vida não é assim tão linear, e um exemplo que poderia ser inspirador torna-se, pelo contrário, tóxico e mais uma pedra pesada que nos impede de chegarmos ao nosso potencial.
Porque é justamente disto que se trata: daquela voz interior que encontra forma de nos incapacitar. Tantas vezes assumimos essa voz como a verdade absoluta, a parte de nós que nos conhece tão bem e nos protege. De facto, pode ser uma voz importante para nos autorregularmos, desde que saibamos separar-nos dela e discernir as coisas pelo que elas são (e não por como as sentimos ou por como a nossa voz interior negativa as pinta). Contudo, por vezes, essa voz espelha algo menos bonito que nos disseram noutra época ou os nossos medos. Só que isto pode estar a impedir-nos de assumir alguns riscos.
E é mesmo no risco que está o nosso potencial. Temos de ser23 capazes de aceitar que o fracasso faz parte da vida e que nos ensinará a sermos melhores para a próxima. Ninguém nos exigiu – nem nós podermos exigir-nos ou ao outro – a perfeição. Esquecemo-nos demasiadas vezes que na vida, no trabalho, nas relações, enfim, no mundo existe margem para o erro, faz parte, e nem sempre tem consequências tão nefastas como a nossa mente pinta. Por vezes, um erro pode salvar-nos. É, sem dúvida, uma oportunidade de aprendizagem e conhecimento. E quase sempre torna-se num passo necessário na direção do nosso potencial.
Por isso, não se torne no seu próprio inimigo. Liberte-se da ideia reconfortante de que num futuro hipotético seria sempre capaz. Sim, se não arriscar falhar, na sua cabeça se calhar nunca chegou mais longe simplesmente porque nunca tentou. Mas temos então de escolher: preferimos arriscar ou desperdiçar a nossa vida?
O mundo, tantas vezes, já é duro o suficiente. Seja o primeiro a acreditar em si, a confiar na sua capacidade para errar, cair, levantar-se, corrigir, seguir em frente e tornar-se mais, maior, a sua melhor versão. Não se proteja ao ponto de não viver. Tenho a certeza de que, quando for tudo aquilo que está feito para ser, qualquer queda que tenha dado terá valido muito a pena.