Sempre acreditei em magia, daquela dos filmes, dos magos, feiticeiros e feiticeiras, das fadas e das bruxas. De forma persistente, ela fez sempre parte do meu imaginário, não porque desejasse transformar coisas com varinhas de condão ou levitar objectos, mas sim porque sempre compreendi que magia ultrapassava essas simples e básicas capacidades. A magia era, e ainda é, na verdade, algo que nos rodeia a cada uma momento, uma crença, uma forma de estar, um estado de espírito. Muito mais mágico do que uma poção ou um encantamento é o simples facto de existirmos, de estarmos vivos, de nascermos.
Vamos deixando de acreditar na magia à medida que crescemos, à medida que o mundo dos crescidos nos envolve e nos retira aquele brilho especial que é capaz de transformar uma caixa de cartão num castelo, para de seguida ser um avião, um barco ou um carro. Esquecemo-nos da maravilhosa capacidade que temos de, através da nossa mente, mudar o mundo que nos rodeia. Quando somos crescidos, muitas vezes, numa tentativa de recuperar essa magia, passamos a ignorar os problemas e as dificuldades através duma espécie de óculos cor-de-rosa que tudo melhora e tudo dimensiona numa visão “fofinha” das coisas. Contudo, depois, somos abalroados pela realidade e, mais uma vez, deixamos de acreditar.
No entanto, se mantivermos os olhos abertos, não numa perspectiva de fantasia ou de visão adulterada da realidade, vamos percebendo que a magia acontece em todos os momentos à nossa volta e em nós. Os ciclos da natureza, que na sua magnificência nos mostram o milagre que é a vida. O nosso corpo físico, que todos os dias mantém a nossa vida, que se renova e que funciona de forma exemplar e única. Um sorriso duma criança, o nascer de um novo ser nesta Terra, o Sol que todos os dias nos presenteia com a energia da vida. Todos os dias, em todos os momentos, há um milagre que nos rodeia e nos habita, a verdadeira e pura magia.
Quando recordamos esta pequena e simples essência da vida em nós, quando nos relembramos que somos magos, acendemos em nós a chama do espírito, aquela que é o reflexo de Deus em nós, que cria os nossos mundos e universos, que gera a nossa realidade, não por uma ilusão, mas sim pela mais profunda e forte conexão connosco e com tudo o que nos rodeia. Nesse momento, percebemos que a vida é profundamente generosa connosco, mesmo quando parece que só nos traz problemas ou desafios, que ela nos dá tudo o que necessitamos para podermos activar a magia que existe em nós, que nos coloca nos mãos o poder de fazermos com o que nos é dado o que pretendermos do nosso caminho.
Então, como nas histórias de encantar, podemos também perceber que não se trata da magia em si, mas sim do ser que a usa. Frequentemente, nessas histórias, os magos negros já foram bons, as bruxas más já foram crianças inocentes, mas a vida levou-as até à escolha, consciente ou não, de abraçarem um caminho diferente, um caminho de trevas. Percebemos também que a vibração, a energia, é a mesma, tem a mesma fonte e origem, o seu uso e a consciência da sua aplicação é que molda o ser que a tem em si. Da mesma maneira, nas nossas vidas, a magia acontece e a nossa capacidade de concretização e realização está sempre presente, mas se a nossa mente e o nosso coração são alimentados com derrota, com boicote constante das nossas capacidades, com medos e dúvidas, então tornamo-nos magos negros da nossa vida e o Universo traz-nos um gigantesco poder, uma magnitude tremenda de vivência, e os problemas nunca são pequenos, nem sequer suaves, são destruidores e repletos de sofrimento.
Contudo, quando o nosso coração e a nossa mente são plenos de amor, de esperança e fé, todos os obstáculos são vividos pela magia da sabedoria da vida na Terra, levando-nos a actuar sobre eles com a mesma força que uma árvore sobrevive ao Inverno, com a mesma determinação que uma semente na terra persiste no tempo do gelo e do frio, no tempo da morte, alimentando-se da natureza transmutada, da vida que alimenta a terra, mas que um dia foi matéria apodrecida, matéria essa que era uma bela folha duma árvore, verde e cheia de vida, produtora de oxigénio, ou uma fruta, nutritiva e brilhante, plena de energia para dar.
Quando encaramos a vida com o olhar da verdadeira magia, aquela que povoa a mente das crianças e lhes dá horas e horas de diversão, compreendemos também que tudo está no sítio certo e na hora exacta, que temos de trabalhar com o que temos, porque a vida dá-nos sempre o que necessitamos, porque o verdadeiro desafio é o sermos criadores da nossa própria vida, sem esperar que o Universo, a sociedade, o governo, o patrão, o marido ou a esposa, a mãe ou o pai, o amigo ou o filho, façam o trabalho que apenas nós podemos fazer.
Se formos capazes de brincar mais com a vida, de nos olharmos com os olhos cheios de amor, encarando um problema como um desafio e uma dádiva como uma bênção, então reactivaremos a capacidade de criar, a magia inerente ao simples facto de sermos humanos, espíritos encarnados na Terra. Assim, também seremos capazes de olhar para as nossas crianças, aquelas que vieram a este mundo depois de nós, e permitiremos que elas brinquem mais, não como agora elas fazem, mas sim com a imaginação, com o potencial infinito que existe em cada uma, com a expressão única e sublime do seu espírito, ensinando-nos também a nós, crescidos, jovens, adultos ou idosos, a sonhar com um mundo melhor e a colocar todas as nossas forças para que ele seja construído, tijolo a tijolo, sonho a sonho, atitude a atitude.
Leonardo Mansinhos
Obrigada por me relembrar!