Os tempos que vivemos são, sem dúvida, de muitos contornos, muita complexidade, desafios e obstáculos, mas também de enormes potenciais. Se as últimas semanas trouxeram momentos mais duros, mais exigentes, e embora essa tónica não tenha desaparecido, a verdade é que esta semana traz-nos uma energia um pouco diferente, mais estimulante, que nos permitirá, se assim quisermos, tomar consciência de que tudo tem dois lados, de que tudo o que existe e vivemos tem uma função específica, mas que é a nossa visão, que deriva da forma como nos encaramos a nós mesmos e à nossa vida, que vai moldar o efeito sobre as situações que temos de passar.
Se pararmos um pouco para pensar, vamos certamente ver que, muitas vezes, vivemos numa velocidade estonteante, sem qualquer foco ou determinação, simplesmente querendo chegar a algum lado. Nesse ritmo, para além de, invariavelmente, e mesmo que não seja com intenção, focarmo-nos nos propósitos errados, naqueles que não fazem parte do nosso caminho de vida, nos que não nos dão, verdadeiramente, plataforma de desenvolvimento e crescimento, acabamos por ver obstáculos onde eles não existem, em erguer defesas quando não são necessárias, em gastar energias que são preciosas em algo que não vale o mais pequeno esforço.
Quando temos esse gesto de parar um pouco, percebemos também que, muitas vezes, esse ritmo alucinante a que nos entregamos nada mais é do que uma fuga, seja de nós mesmos, seja de encararmos alguma situação, seja de mudarmos hábitos ou padrões, de enfrentarmos as nossas sombras ou os nossos medos. Da mesma forma, quando tomamos essa consciência, somos confrontados com a necessidade de abraçarmos essas questões que nos perseguem, como se, numa corrida, tivesse de parar para deixar chegar até mim um grupo e perceber o que ele tem para mim, que estímulo ele me traz, o que posso aprender e capitalizar em mim.
Muitas vezes, os obstáculos que nos chegam são apenas desafios, não são montanhas intransponíveis atiradas para o nosso caminho por um capricho divino. Tudo o que vivemos tem um propósito, tem um sentido, nem que seja o facto de, consciente ou inconscientemente, ter escolhido vivê-la, tê-la plantado no meu caminho. Quando tal compreendemos, em nós revela-se a verdade de que cada passo é precioso, cada situação que vivemos é um degrau na escadaria da nossa vida e, dessa forma, respeitamos e amamos cada um deles.
O 5 de Paus, a carta que nos orientará nesta semana, recorda-nos que nessa caminhada das nossas vidas, vamos acumulando energia, vamos absorvendo muita coisa que, em alguns momentos, é preciso libertar, e que este é o momento de o fazer. É preciso relaxar, parar um pouco, relativizar algumas coisas, colocarmo-nos um pouco à margem para conseguirmos compreender o verdadeiro propósito de cada coisa que temos vivido. Por vezes, não se trata duma questão de força, mas sim de jeito de viver cada situação. Por vezes, não precisamos de abraçar uma luta com armadura e todas as armas disponíveis, só precisamos de acreditar e confiar nas nossas capacidades, elevar a nossa cabeça ao alto e libertarmo-nos de amarras. Quando assim olhamos a vida, tudo se transforma e os obstáculos passam a desafios a superar, a estímulos de crescimento e a verdadeiras bênçãos. É preciso lembrar que a bruta montanha, de pedras formada, encerra dentro de si riquezas, diamantes, pedras preciosas. É preciso lembrar que é da bruta montanha, de pedras sólidas, que nascem os rios, rompendo a pedra, oferecendo-nos a água que nos alimenta.
Boa semana!
Leonardo Mansinhos