Muitas vezes oiço e leio pessoas dizerem que querem manter-se ou fazer um caminho espiritual ou na espiritualidade, contudo, e ainda que compreenda o que querem dizer, esta é uma expressão que me parece sempre desajustada e sem sentido, nomeadamente pela própria compreensão do que é um caminho espiritual.
No conceito de muitos, um caminho espiritual é envolver-se em práticas esotéricas, religiosas ou similares, fazer meditação, yoga ou até mesmo fazer Tarot, Astrologia, Reiki ou outra coisa qualquer. No entanto, e se quisermos colocar a questão duma forma muito simples, um caminho espiritual nada tem a ver com este tipo de práticas, mas sim com algo muito mais profundo e superior, a busca pela própria essência, pela redescoberta de si mesmo, onde essas práticas são caminhos com grande potencial, mas sem qualquer tipo de exclusividade.
Digo muitas vezes que espiritualidade é vida. Com isso quero dizer que, quando compreendemos que somos espíritos que escolheram uma encarnação terrena para sua própria evolução, uma experiência de densidade e desafio muito profundos, percebemos que é vivendo que cumprimos essa missão a que nos propusemos. Ainda que, num senso comum, possamos dizer que vivemos, senão não estávamos aqui, a verdade é que muitos de nós, neste planeta, infelizmente, ainda simplesmente sobrevive, vagueia pela Terra sem sentir a verdadeira força do que é viver.
Não é acender velas ou fazer orações que faz de alguém espiritual, assim como não o é ajudar os pobres, comunicar com espíritos ou facilitar terapias. Acredito que é a busca por nós mesmos, por conhecermo-nos, por desenvolvermos as nossas capacidades como dádivas ao mundo, mas também compreendendo as questões que viemos trabalhar, os desafios, dificuldades e obstáculos, que nos revela o que o nosso espírito necessita, neste caminho, para evoluir. Todas as práticas são importantes, sem dúvida, pois são manifestações do nosso caminho, são formas de dar os passos necessários à nossa jornada, mas não são elas que definem a verdadeira consciência espiritual de um ser.
Enquanto olhamos o caminho do outro, enquanto nos projectamos na vida alheia, fugindo dos nossos próprios temas, das nossas próprias questões, fugimos também de nós, da nossa individualidade, pois nem sequer atravessamos a fronteira da identidade. Nessa ocupação constante da nossa mente, mergulhamos no mais negro e profundo do nosso ser, vivemos no ciúme, na inveja, no ódio, no rancor, na mágoa, alimentamos monstros e somos consumidos por eles. Olhamos o que o outro consegue e atinge, mas sem ver o caminho que ele percorreu, as dificuldades que teve de ultrapassar, as lágrimas e as dores que teve de suportar.
Viver, verdadeiramente, é a busca pela reconexão com a nossa essência, é a redescoberta da Centelha Divina, da unicidade que nos caracteriza, sem medo de encontrarmos montanhas para escalar, pedras pelo caminho e espinhos que nos magoem, sem ter receio de cair ou perder, mas sim com a certeza de que todos os passos são aprendizagens de um corajoso espírito que escolheu a experiência na Terra como forma de evolução.
Todos fazemos um caminho espiritual, mas (ainda) poucos têm a consciência disso, pois olham cada dia com o desespero do seguinte, cada etapa com a ânsia de um resultado idealizado, cada situação pelo olhar de um passado, pela idealização de uma expectativa que raramente se concretiza. Então, cada vez mais, é o tempo de olharmos para dentro de nós e iluminar o nosso caminho com a luz do nosso espírito, olhando-o e encarando-o com a beleza da semente que escolhemos plantar com a nossa vinda à Terra, que cresce em cada dia, mas que só dá os frutos que advêm do nosso cuidado, da nossa dádiva a quem somos. Ainda que nem sempre saibamos bem que passos dar, a simples recordação desta verdade é o suficiente para nos dar força e nos permitir fazer avançar, às vezes sem sequer disso nos apercebermos.
Leonardo Mansinhos
Assim penso