Uma das mais visíveis características destes últimos tempos é, sem dúvida, a onda de radicalismo que nos rodeia, acompanhada por uma forte e premente necessidade de amplificar e exacerbar tudo o que é vivido. Vemo-lo nas notícias, nas redes sociais, nos comentários e nas reacções das pessoas, mas é importante também compreendermos que, primeiro e acima de tudo, tal começa em cada um de nós, como sempre foi e sempre será.
O que vemos cá fora, no mundo exterior, como tantas vezes o digo, é o reflexo directo e incontornável do que se passa dentro de cada um de nós. O radicalismo da sociedade, da política, as opiniões fechadas e cheias de verdades absolutas, as reacções exacerbadas e, muitas vezes, violentas, das mais diversas formas, são o espelho duma realidade interior, a da falta de paz, do desconforto constante que o tempo que vivemos nos tem oferecido como forma de transformação, cura, desapego e libertação.
Podemo-nos questionar como é possível que o Universo, a vida, nos traga uma missão tão nobre através de desafios tão duros, de tempos tão desconcertantes e dolorosos. Podemos, é verdade, mas a resposta está em cada momento, à nossa frente, nas escolhas que, em cada dia e em cada instante, cada um de nós faz perante cada situação que nos é colocada. Num mundo cada vez mais rápido e imediato, cada vez mais exigente e crítico, surgem mais e mais juízes, moralistas e donos da verdade, pois é mais fácil olhar para fora do que para dentro, pois é mais fácil ver a sombra do outro que a nossa própria.
Sem nos apercebermos, contudo, quando assim vivemos, amplificamos o radicalismo à nossa volta, as situações duras e complexas, e questionamo-nos como tal é possível, se todos os dias fazemos as nossas orações e acendemos as nossas velas. Esquecemo-nos, contudo, que acção gera reacção e ela mesma é o alimento para uma espiral instantânea que depende, única e exclusivamente, da energia que sobre ela geramos. Quebrar uma espiral de radicalismo, negatividade e autodestruição não é fácil, implica um compromisso muito forte e profundo connosco mesmos, pois exige um parar, respirar e olhar para dentro de nós, de forma a encontrarmos a paz que precisamos para um novo ciclo.
Os processos e as vivências energéticas destes tempos na Terra há algum tempo que nos mostram o ponto a que temos chegado. Saturno está, desde o final de 2014, no signo de Sagitário, trazendo-nos a possibilidade e a necessidade de aprendermos o que é a fé e a verdade, mas recordando-nos que toda a aprendizagem é uma integração constante entre Mestre e Aprendiz, entre experiência e falha. Sagitário é o Fogo sagrado, aquele que nos eleva e nos transforma, aquele que nos purifica pela atitude humilde e devota de nos entregarmos ao seu processo. Em Sagitário encontramos a nossa sabedoria, mas Saturno recorda-nos que a verdadeira mestria é compreender que sabedoria não é verdade, mas sim um compromisso interior e profundo com a nossa própria essência.
Todo o percurso que temos feito tem-nos levado a ver mais e mais sobre nós, nomeadamente as sombras, os medos, as dúvidas, aquelas coisas feias que, ainda que não gostemos, estão em nós e precisam de ser curadas e limpas, transformadas e elevadas. Contudo, como humanos, numa sociedade tão focada no racionalismo, na crítica e na necessidade duma perfeição, de tal forma que nos desumaniza e nos impõe uma vivência baseada no materialismo e desligada da nossa Centelha Divina, ver as sombras em nós é sinal de fraqueza, de falha e de humilhação. Como tal, recusamo-nos, enquanto indivíduos, passando depois para a comunidade e para a sociedade, tendo como espectro final a própria humanidade, a ver as nossas sombras, a trabalhá-las, a, humildemente, reconhecer o outro como um espelho de nós mesmos e a aprender algo com ele, da mesma forma que a ele algo ensinamos também.
Ainda por algum tempo iremos ver de muitos à nossa volta estes acessos de radicalismo, de crítica, de insulto e de julgamento, defendendo para si mesmos uma liberdade que, de forma muito expressa, recusam ao outro. Aquilo que a cada um de nós é pedido é que, em cada momento, volte ao mais simples e básico do seu ser, a parar, respirar e centrarmo-nos, pois é no nosso centro que todas as respostas estão, quando tocamos, ainda que levemente, a essência divina do nosso ser. Dessa forma compreendemos que a fonte de todo o radicalismo, de todo o julgamento, de toda a verdade absoluta e castradora é a dificuldade que cada um de nós tem em voltar ao seu centro, em ouvir-se, em aceitar as respostas que chegam, seja pelos sinais que em todo o momento nos chegam, seja pela consciência que vamos obtendo no nosso percurso, não sobre os outros, mas sim sobre nós mesmos, pois é em nós que a nossa vida começa e que, sem dúvida, ela pode, por nossa escolha, permanecer.
Leonardo Mansinhos