Nos últimos dias o Universo tem-me trazido uma mensagem, um tópico muito claro e definido, que de tão forte que é, não só para tantos com quem me cruzo, como, acima de tudo, comigo mesmo, senti necessário trazer para esta reflexão. Talvez por, nos céus, o Sol esteja, por estes dias, em oposição a Plutão, complementando muito do trabalho que foi feito nas últimas semanas, somos confrontados com a forma como nos permitimos receber, o que revela também a forma como nos vemos e nos sentimos merecedores desse algo nas nossas vidas.
Tal se torna relativamente fácil quando se fala de situações difíceis, problemas e desafios, onde, apesar duma certa revolta, o peso da moralidade que nos construiu como sociedade e que ainda nos define, que nos impõe a força da culpa, do castigo e do pecado, nos faz sentir como se precisássemos de, obrigatoriamente, nem que seja por uma espécie de dívida eterna herdada de Adão e Eva, carregar essa situação.
Contudo, quando se trata de algo bom, duma dádiva, de prosperidade, seja a que nível for, de bênçãos, esse mesmo peso leva-nos para o extremo oposto, o de sentirmos que algo nos vai ser pedido de volta, que é bom demais, que de tais coisas não somos, verdadeiramente merecedores. Mesmo quando, após muito trabalho interior, já começamos a sentir essa energia do merecimento, a verdade é que há sempre uma parte de nós que ainda se sente desconfortável, o que leva a perder muito do caminho feito.
Ao longo do tempo, com a nossa educação, com todo o espectro de vivência social, deixámos de olhar para as pequenas coisas, deixámos de valorizar aquilo que é o mais simples, o mais imediato. O ímpeto de crescimento e de materialismo foi amplificado por uma competição e uma ambição desajustadas e desadequadas, pois o mundo, a cada momento, faz-nos crer que somos iguais, números, que temos de competir por um lugar standard e pré-definido. A um determinado momento, esquecemo-nos de valorizar um pequeno gesto, um sorriso, uma palavra de fé, de afecto, de motivação, seja da nossa parte, seja por parte de outros. Esperamos algo em grande, algo concreto, algo que existe na nossa mente, nas nossas expectativas.
Ao nos esquecermos dessas pequenas coisas, passámos a acreditar, geração após geração, que o que é importante é termos determinadas coisas, determinada estabilidade, determinado trabalho ou bem, e muitas vezes vamos em busca delas para provar a alguém que somos capazes. Rapidamente, isto é uma roda da qual não conseguimos sair, que nos envolve e nos frustra, um carrossel que nos movimenta eternamente sem sair do mesmo sítio. Com o tempo, a exigência que nos impuseram antes torna-se autoexigência e nada chega, nada é suficiente, levando-nos, irremediavelmente, a um processo de frustração contínua que nos impede de nos sentirmos merecedores.
É preciso pararmos um pouco para olharmos para nós, para vermos o que a vida nos está a mostrar, com o que ela nos está a confrontar, sobre nós mesmos, sobre quem somos, sobre o caminho que estamos a percorrer, através dos medos, dos receios, dos anseios que estes dias nos têm trazido, da pressão que temos sentido, da intensidade das coisas que temos vivido. Tudo isto serve para podermos ver que, na verdade, perdemos muito do sentido da magia da vida, do poder que as pequenas coisas têm, da valorização pessoal, da gratidão, da celebração.
Se olharmos à nossa volta, cada dia está repleto de inúmeras coisas boas, de inúmeros momentos de felicidade, de sorrisos, de pensamentos positivos, de sentimentos bons, de pequenas coisas que, mesmo não sendo connosco, nos fazem sorrir. Uma borboleta que passa à nossa volta, com o seu voo dançante, uma criança que brinca no parque, que ri, um bebé que sorri para nós, no transporte público, uma pessoa que ajuda alguém que necessita, a palavra de gratidão de alguém que vive na rua e a quem damos uma moeda, uma pequeníssima ajuda para o imenso que aquela pessoa precisa, todas estas e muitas, muitas mais coisas, são pequenas gotas de gratidão, pequenas coisas boas que, em todos os momentos, nos acontecem, que nos mostram o quão merecedores somos de coisas maravilhosas nas nossas vidas.
Acredito, do fundo do meu coração, que não viemos à Terra para sofrer, para passar necessidades, para viver em problemas e carências. Acredito que todos, eu incluído, devemos olhar o mundo pelo olhar da simplicidade, da humildade, e ver que tudo o que existe à nossa volta é uma dádiva divina. Se conseguirmos, em cada momento, fazê-lo, poderemos olhar também o mundo de outra forma, respeitar tudo o que nos rodeia, mas, acima de tudo, compreendermos fortemente que tudo nas nossas vidas é um processo contínuo de dar e receber, que sem aprendermos a receber, também não saberemos dar, e, assim, iremos perpetuar um ciclo de carência. É preciso, por isso, abrir os braços e receber o que a vida nos traz, o mau e o bom, o desafio e a bênção, não com resignação, mas sim com gratidão, usando isso, seja o que for, como plataforma de crescimento, como base para evoluir, como um apoio para subir, em cada momento, mais um degrau do nosso caminho.
Leonardo Mansinhos