Existem momentos extraordinários que nos mostram que o Universo é uma consciência muito elevada e a Vida a sua manifestação mais bela. Nesses momentos, compreendemos algumas das grandes leis que regem o funcionamento de tudo o que existe neste plano em que vivemos e, uma delas, é especialmente importante nos tempos em que vivemos, a que nos demonstra que tudo o que existe conscientemente é manifestação do que está guardado num inconsciente, ou, como nos disse Hermes Trismegisto, o que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima.
Desta forma, podemos compreender que tudo o que vemos e se manifesta é o resultado, o espelhar, de algo que existe dentro de nós. Quando algo mexe connosco, quando existe alguma coisa que activa determinados “alarmes” dentro de nós, é porque algo manifestado carece da nossa atenção, é porque existe um tema que precisa de ser trabalhado, de forma a podermos integrá-lo. Ao recolhemos essa aprendizagem, manifestamos esse tema de forma diferente, mais pura e bela, mais elevada, acedendo a outros níveis da nossa consciência.
Um dos temas que mais tem sido falado nos últimos tempos é o da distância, através da necessidade de distanciamento “social” que, na verdade, precisa é de ser físico, pois, na verdade, hoje, mais do que nunca, necessitamos duma proximidade útil e saudável, benigna e compassiva, em termos sociais e comunitários. Esta manifestação na nossa vida concreta é, na verdade, um forte apelo de consciência em termos de algo que perdemos individual e colectivamente, a noção de limite, de respeito pelo espaço do outro e pelo nosso próprio espaço. É isso que, na verdade, estamos a ser, da forma mais difícil, levados a ver e a trabalhar.
Ao longo das últimas décadas, e com especial foco na última, com o crescimento das redes sociais, perdemos a noção e o respeito pelo espaço, pelo limite e pela privacidade. Começou por ser em relação aos outros, àqueles que, pelas suas vidas ou posições, tinham destaque público, com os jornais e revistas a invadirem-lhe as vidas e a vasculharem nas suas intimidades, trazendo-as para um escrutínio público. Do nosso lado, as mais diversas frustrações que nos levam a vidas sem sentido levaram à necessidade de vivermos as vidas dessas mesmas figuras, imitando-as nos pequenos e insignificantes pormenores, que traduzíamos como forma de uma espécie de homenagem.
Contudo, todos nós, sem excepção, alimentámos essa necessidade, num mundo tantas vezes uniformizador e tão pouco potenciador das nossas individualidades. Quando as redes sociais chegaram, isso passou directamente para cada um de nós, agora também, de certa forma, “famosos”, partilhando, às vezes de forma excessiva e abusiva, a nossa privacidade, reclamando depois da falta de respeito e de tantas outras coisas.
Se o aspecto social desta questão é pesado, mais denso ainda é o efeito que isso foi criando em cada um de nós, o demonstrar da falta de noção do nosso próprio limite, do nosso espaço pessoal, da nossa integridade intelectual, emocional, energética, humana. No entanto, esta aprendizagem do limite está a ser-nos mostrada e pedida há bastante tempo, mostrando-nos que chegou o tempo de definirmos bem o nosso espaço e de respeitar muito bem o espaço do outro, para que possamos, assim, funcionar bem em comunidade. Num mundo cada vez maior, com as distâncias cada dia mais curtas, é fácil perdermos a noção destes limites, deste espaço, e deixarmo-nos invadir pelo que não é nosso.
A distância que nos é pedida, como salvaguarda da nossa integridade física e de saúde, é um reflexo de algo que nos está a ser solicitado há muito, a preservação de nós mesmos, o respeito pelo próximo, o aprender a dizer não ao que não nos pertence. Dum ponto de vista energético, conhecemos esta realidade desde sempre, compreendendo que a energia dos outros pode afectar a nossa quando não estamos devidamente integrados e centrados em nós. No entanto, até mesmo para quem está mais ligado às áreas energéticas e espirituais, esta aprendizagem precisa de ser feita, pois muitos de nós continuam mais preocupados em defenderem-se dos outros (e outros ainda em atacar), do que em estarem no seu centro, em cuidarem de si mesmos.
Todo este processo que vivemos mostra-nos que a distância não é um afastamento, bem pelo contrário! O que nos está a ser pedido é que, duma vez por todas, compreendamos os nossos limites e os façamos respeitar, aprendendo a dizer não, a mostrar, de forma correcta, amorosa e compassiva, sem medo da recusa ou do julgamento, que só podemos fazer a nossa parte. Dessa forma, cortamos cordões de dependência, manipulação e aproveitamento, colocamo-nos no nosso lugar, enquanto colocamos o outro no seu lugar certo na nossa vida. Nesse mesmo sentido, aprendemos também a vulnerabilizarmo-nos, a mostrar de nós o que precisa de vir cá para fora e a receber aquilo que, realmente, é para nós.
Este é um tempo de aprendizagem do que é sermos humanos, do que é estarmos integrados e fazermos parte duma sociedade, do que é a vivência em comunidade. Da mesma forma, este é um tempo de aprendizagem do que são as verdadeiras e genuínas relações humanas. Se antes podíamos abraçar e dar beijinhos, muitas vezes pouco sinceros ou apenas convencionais, o que agora é necessário e nos pedem é não dar a ninguém, e isso leva-nos a dar muito mais e real valor, primeiro que tudo, aos que nos faltam, e, em segundo lugar, àqueles, poucos, que podemos dar.
Nesta consciência, podemos perceber que esta distância, na verdade, pode ser providencial, levando-nos a compreender, se para isso estivermos dispostos e despertos, que é preciso afastar-nos do que não é para nós, do que não nos faz bem, do que nos invade negativamente, do que nos corrompe, ajudando-nos a filtrar, a ver com outros olhos, a perceber, a identificar, a todos os níveis, essas mesmas coisas, pessoas e situações. Ao mesmo tempo, e da mesma forma, ela aproxima-nos, traz até nós o que é valioso e puro, o que nos faz bem e nos nutre. A única coisa que precisamos é de fazer aquilo que nos está a ser pedido, não pelo Governo ou pela Direcção Geral de Saúde, mas sim pela vida, para quem a quiser ouvir, o olharmos para dentro, os estarmos connosco, o deixarmos de estar distantes da nossa essência e estarmos, mais do que nunca, no centro da nossa Vida.
Leonardo Mansinhos
É muito bom!! Estamos mesmo no centro da nossa vida. No nosso lugar, com os limites bem definidos.
Obrigada 🙏