“Se, para seres encorajado, precisas de elogios e palmadinhas nas costas, então, estás a fazer dos outros júris da tua vida.”
– Fritz Perls
“Eu não sou bom o suficiente para isto.” É uma afirmação que já fizemos algures na nossa vida e que, em muitos momentos, fez de nós o nosso pior juiz. É uma afirmação que nos obriga a focarmos mais a nossa energia em Tornarmo-nos do que em Sermos.
É uma afirmação com um poder tal, que começamos a ajuizar os outros baseados num sentido de perfeição tão elevado, que temos de colocar máscaras todos os dias, para que ninguém seja capaz de ver todos as nossas imperfeições. São estas palavras que acabam por não nos deixar perceber que é a forma como nos vemos a nós mesmos que dita o modo como vemos e sentimos o mundo. Se sentimos que não sejamos bons o suficiente a algo, então, também nada nem ninguém o será.
Ter amor-próprio significa ter compaixão e aceitação incondicional para connosco. É cuidarmos de nós mesmos e aceitar as nossas próprias limitações, impedindo que nos julguemos com um sentido impossível de perfeição. É olharmos para nós reconhecendo o nosso valor e sabendo que somos bons, valiosos e merecedores de toda a felicidade que alcançarmos.
No entanto, este paço é a maior barreira que temos de ultrapassar para conseguirmos ter uma boa relação com o mundo que nos rodeia. Se não somos capazes de amar todas as partes que nos compõem, acabamos por dar esse poder a outra pessoa e a procurar nela a validação que só nós podemos dar a nós mesmos.
O amor-próprio vai além de uma aparência perfeita, de ir ao ginásio e repetir incessantemente as aquelas mesmas frases motivacionais que lemos num livro de auto-ajuda.
Nós estamos fortemente conscientes de que há um vazio em nós, de que nos falta algo que crie em nós aquela motivação que nos faz escolher ser saudáveis e recusar uma fatia de bolo, que nos faça acordar todos os dias às 6 horas da manhã para ir ao ginásio antes do trabalho ou que nos faça deixar uma relação abusiva. Essa peça que nos falta é apenas o amor por nós mesmos.
Passamos a nossa vida a tentar desesperadamente encontrar alguém que nos ame, que talvez nos dê o amor que tanto necessitamos, que preencha um vazio onde vive aquela parte de nós que não conseguimos que sejamos nós mesmos a amar. É por não amarmos esta parte de nós que muitas vezes passamos as nossas vidas inteiras à procura de validação nos outros, mas a verdade é que, se não formos capazes de nos aceitarmos em toda a nossa dimensão, também não seremos aceites pelos outros. E sem nos aceitarmos a nós mesmos pelo ser maravilhoso que somos, só iremos viver com medo de sermos rejeitados.
No entanto, se tivermos a sorte de conseguirmos confrontar aquelas partes de nós que não conseguimos amar, iremos descobrir o medo subjacente a esta falta de amor.
Normalmente, é um medo muito particular, como o de sermos abandonados. Por vezes, é preciso passarmos por muitos relacionamentos até percebermos que o medo do abandono é a força motriz de todos os nossos comportamentos. Quando temos medo de sermos abandonados, ora agarramo-nos com toda a força à pessoa que está ao nosso lado, levando-a para junto de nós no nosso vazio, ora afastamo-nos para não sofrermos, quando essa pessoa se for embora.
Podemos também ter medo de sermos sufocados, que a nossa individualidade e a nossa liberdade se percam, porque deixamos outra pessoa entrar na nossa vida. Negamos a nossa necessidade de termos alguém ao nosso lado e acabamos por escolher uma pessoa que, de alguma forma, não está disponível. Se não somos capazes de nos amarmos a nós mesmos e abrirmos o nosso coração, iremos sabotar todas as relações assim que elas começarem a ficar demasiado sérias.
O medo é uma emoção muito cativante, mas não nos deixa respirar. Sempre que respiramos através do medo, enchemos a nossa mente de bloqueios e emoções que nos impedem de nos amarmos a nós mesmos. Quando nos focamos em nós mesmos, inspirando e expirando aos poucos, o medo desaparece e ganhamos espaço para nos amarmos e mostrarmos bondade e compaixão para connosco.
Temos de nos amar a nós mesmos, com virtudes e defeitos. Amarmo-nos, tratarmo-nos com compaixão e bondade liberta-nos de padrões que nos impedem de construir relações duradoras e repletas de amor.

