Hoje, não. Hoje não temos tempo para que sentimentos surjam, nasçam e renasçam. Hoje, não. Ontem, também, não houvera tempo suficiente para tal luxo. Amanhã, talvez. Amanhã haverá tempo. Hoje não.
Acompanham-nos sempre, no silêncio e na expressão dos nossos corpos, quando os expandem, os retraem ou simplesmente os movem num sopro vital. São energia em movimento com a aptidão de nos conceder, num ápice, informações e ações adaptadas ao nosso desenvolvimento.
Fazem-nos sentir bem, exaltam-nos, em vibrações de calor, quando experimentamos o nosso valor, quando amamos e somos amados, quando nos movemos pelo que nos realiza. Pelo contrário, afastam-nos do aperto da indignidade, do abandono, da ausência de sentido.
Assim, nas distintas situações e contextos, as emoções modelam a construção das nossas necessidades existenciais – identidade, conexão, motivação – e, ao mesmo tempo, são modeladas por estas. Com efeito, subsistem num diálogo contínuo com os nossos estímulos (internos e externos), expressando um modo próprio de percecionar, de avaliar, de se sentir corporalmente e de agir.
No entanto, tornamo-nos escravos do nosso tempo. Existe o trabalho e a subsistência robótica e plastificada da devida presença no mundo. Há responsabilidades e a incumbência inerente da própria realidade formatada. Existem dívidas e dúvidas existências que devemos ouvir e focar-nos. Ser práticos, ser metódicos e racionais. Ser rápidos. Não temos tempo para sentir, não há tempo a perder. A máquina gigantesca na qual nos tornamos não pode nem deve parar.
Só que, quando o mecanismo começa a ficar frágil e vulnerável e, nesse momento, permitimos que a falha proceda, aí, apenas aí, conseguimos sentir novamente. Tornamo-nos humanos e não zombies formatados para a rotina a que nos sujeitamos
Não é fácil expressarmos as nossas emoções. Não é fácil mostrar o que vai dentro da nossa alma. Nada disto é fácil e a questão que colocamos muitas vezes a nós mesmos é: “Como é que podemos expressar melhor as nossas emoções, sem nos deixarmos inundar por elas?”
Sem dúvida que expressarmos o que sentimos é complicado. Muitas vezes temos medo de mostrar ou de dizer por palavras o que sentimos, porque temos medo de que as emoções que estão à flor da pele nos inundem e falem por nós. Contudo, é importante expressarmos o que sentimos no momento certo. Mostrarmos as nossas emoções sem nos precipitarmos, calmamente, porque é muito mais fácil controlá-las e não deixar que se imponham a nós.
Não há mal nenhum em expressarmos o que sentimos. Não há problema se chorarmos, se rirmos, se fizermos figura de idiotas. Porque as emoções definem aquilo que somos. Aliás, somos aquilo que as nossas emoções querem que nós sejamos. Por esse motivo, não devemos ter qualquer medo ou vergonha de mostrar o que sentimos. Talvez essa seja a melhor forma de expressarmos as nossas emoções sem que elas nos inundem: mostrá-las sem qualquer receio.
Não importa o que os outros possam pensar, não importa se nos vão ou não julgar. Importa, sim, termos em mente que não há nada melhor do que podermos expressar livremente o que está dentro de nós, seja bom ou mau. As emoções são um bocadinho de cada um de nós e são elas que nos fazem seres completos e únicos. Porque, tal como nem todos temos os mesmos gostos, também não temos todos as mesmas emoções. Há pessoas mais emotivas do que outras. Há pessoas que mostram mais as suas emoções e outras que as escondem.
Temos de nos exprimir, de mostrarmos o que realmente somos, fazendo-o através dos nossos sentimentos, uma vez que eles são a coisa mais poderosa que temos. Não está na altura de deixarmos de fingir que não sentimos e mostrarmos que as dores, as mágoas e as alegrias estão todas cá dentro?