Fala-se e escreve-se muito sobre o amor. Do correspondido ao impossível, passando pelo não correspondido. E das separações, quantas vezes? Quantas vezes se diz e conta o tormento que é?
Quase todos nós já nos juntámos e separamos, carregando invariavelmente a vontade de que desta dê certo. Não importa por quantas “destas” passamos. Alguma correrá bem.
Contudo, cada despedida dói como se nos escarafunchassem o âmago. E escarafuncham, em alguns casos até sangrarem metáforas e perguntas carregadas de retórica. Quantas vezes…?
Dói e ficamos parados no nosso tempo. A fome desaparece. O sono e cansaço invadem-nos o corpo. A inércia aliada à vontade de chorar demoram a ir embora. Não é por que o outro parte e leva um pedaço daquilo que somos e fomos. Não, não.
É porque, mesmo sem que ele o saiba, leva aquilo que de melhor imaginámos e fizemos crescer a dois. Aquele “para sempre” que insistimos em perpetuar na quantidade imensa de planos que havíamos feito. Aquele projecto partilhado.
É porque, invariavelmente, as noites passarão a ser adormecidas na solidão que não se quis. As manhãs acordadas do mesmo modo e durante o dia vamos enganando as saudades do para sempre com trabalho, ocupações, evasões. Evasões que na realidade não nos levam a lugar algum a não ser ao que se passou e à retórica.
Nós sabemos… sabemos que olhando para trás pouco há a acrescentar. Nada muda, mas há a necessidade de carpir recuperando, pela memória, o que se passou de bom. Isso faz-nos tanta falta quanto nós mesmos.
Não importa a quantidade de relações e separações que temos. O nosso comportamento, mais ou menos inflamado, repete-se em cada ruptura. Todas nos dilaceram e nelas vemos culpa nossa, ainda que não entendamos as razões ou tão pouco saibamos quais são.
As perguntas giram, dia e noite, entre si. Porquê eu? O que eu fiz? E agora?
A seu tempo, reconstruímo-nos, ora fortalecidos ora mais frágeis. Tudo depende do sempre de cada um. Não é o amor que acaba. É o sempre. Quantas vezes nos acaba o sempre?
Amanhã, será um dia melhor. E todos os dias são perfeitos para recomeços.