por Rita Pereira
Existiu sempre a convicção de que a Quirologia era um saber milenar. Inúmeros autores remetem as origens deste saber para povos antigos como os Sumérios, os Egípcios, os Babilónios, os Gregos, entre outros, no entanto tem sido difícil consubstanciar tais informações devido à ausência de registos escritos.
Outra constatação a fazer sobre as origens deste ancestral saber é a sua referência universal nas escrituras sagradas das maiores religiões, através de fabulosas imagens e menções à sua prática no Torá, na Bíblia, no Corão, nos Vedas…
A Quirologia também muito foi cultivada na tradição islâmica, até como ferramenta de diagnóstico e autoconhecimento muito respeitada e instituída pelo Corão. Ilm al Kaff é o termo que designa o estudo da mão no seu todo. Mas a Quirologia propriamente dita é designada por Ilm al Asarir.
T Fahd publicou em 1966 uma obra intitulada “lá Divination Árabe”. Uma das suas fascinantes descobertas foi a menção da Quirologia num poema de Maymun B. Qays al Asa, contemporâneo do Profeta Maomé. Os tratados originais desta tradição árabe estão encerrados na biblioteca do Vaticano ( *MS 938.14), em Instabul (*MS Koprulu 1601) e em Beirute (*Fac Por MS 271 no.579 – “Firasat al Kaff”, um tratado fisionómico da mão bastante abrangente).
Pode-se reduzir os principais registos da quirologia árabe a estes tratados, porém eles são uma informação muito limitada pois não estão datados e abordam a mão numa vertente mais fisionómica. Alguns sábios árabes dedicaram-se à tradução de obras quirológicas gregas e hindus, algumas delas foram recenseadas e tal denuncia um estudo de fundo, tal como ocorreu com a tradução do tratado sofista de Polemon of Laodicia (144AD ). A maioria da bibliografia árabe sobre o tema remonta ao século XIII e daí em diante, estando a par das correntes europeias e indianas.
Na Índia, as escrituras védicas instituíram este saber ancestral como uma revelação divina, pelo que aqui situamos o mais remoto registo escrito da Quirologia, tal como é praticada no Ocidente, denominado em sânscrito por Samudrika Shastra. O Samudrika foi ensinado pelo Lord Brahma à sua consorte e pode ser entendido como o “conhecimento dos recursos do corpo”.
Esta tradição indiana recorre à interpretação dos formatos, marcas, características e sinais corporais naturais ou adquiridos enquanto códigos do destino do seu portador ou do seu psiquismo. Vulgarmente a Quirologia Indiana se complementa com a leitura dos traços do rosto, do tipo fisionómico ou da planta dos pés, não se cingindo à mão. Nesta tradição, a Quirologia é a ciência-irmã da Astrologia. São indissociáveis.
Dentro do Samudrika, destaca-se um ramo de estudo dos astros, o Jyotish, uma das disciplinas do Vedanta e que significa “ciência dos corpos estelares”. O seu corpo de conhecimento holístico abarca a Astrologia, a Quirologia (Quiromancia) e a Gemoterapia (Geomancia), explicando a interacção dos elementos do Universo e integrando os seres vivos nessa harmoniosa interacção global (Holismo).
Nas lendas e histórias tradicionais indianas e em toda a etnografia hindu e budista, podemos encontrar fantásticos relatos de marcas inscritas no corpo dos seus heróis e avatares, sendo que tais marcas auspiciosas são um selo divino: o Príncipe Rama, Krishna, Gautama o Buda, Mahavira o Tirthankara, entre outros – todos as têm.
O Samudrika Tu estuda especificamente as linhas da palma da mão e é um saber muito respeitado socialmente. Nele encontramos a origem da nomenclatura dos elementos da mão – dos dedos, dos montes e das linhas – enraizada nos arquétipos astrológicos.