“Se conseguisse dizê-lo através das palavras, não existiria motivo para pintar.”
(Edward Hopper)
Dizemos às crianças para usarem as suas palavras. Queremos ensina-las a expressarem os seus sentimentos negativos verbalmente em vez de o fazerem através de mordeduras, arranhadelas, ou pontapés. Porém, o que podemos fazer, quando as suas palavras não conseguem expressar a tristeza e os bloqueios que sentem no seu coração?
Dar-lhes tinta, pincéis, ou um pedaço de barro.
E este não é um problema exclusivo das crianças. A maioria dos artistas têm dificuldade sobre a mensagem que pretendem passar com a sua arte e se esta é relevante para alguém. Por isso, decidem fugir para o abrigo dos temas seguros e que dominam, como os jardins extravagantes e flores. Quem é que não gosta de ver um bonito quadro com flores? O problema é que isso não é uma mensagem, mas sim uma imagem sem conteúdo que se transmite para encantar os outros, em vez de se expressar o que a alma quer dizer.
Existem momentos difíceis de ultrapassar, em que nos sentimos desorientados e sem saber que passo dar a seguir. Quem é que nunca teve um dos seus pais a sentir-se mal e teve de leva-los ao hospital, engolindo o medo pelo caminho? Ou que teve de estar ao lado de uma cama de alguém que ama a tomar decisões sobre a melhor forma de impedir a sua morte? Ou ainda lidar com o abandono, a perda e desilusão?
Os dias vão-se preenchendo com rotinas conhecidas e as normais preocupações, como se fossemos máquinas e olhando para nós mesmos como guerreiros, mas esquecendo-nos dos sentimentos, das emoções e dos pensamentos que fomos vivendo e que permanecem vivas em nós. Olhar uma folha em branco permite dar forma a todas essas vivências, recordar onde estivemos e perceber o que estas experiências deixaram em nós. Agarrar um lápis, uma caneta, ou um pincel e preencher a folha, leva-nos a olhar para uma verdade que ignoramos, uma verdade muito nossa, a essência dos lugares e das situações que vivemos. É reviver com outros olhos e encontrar novos significados.
Pegar numa folha de papel e começar a pintar formas que só nós identificamos e permitir que a tinta nos diga o que necessitamos de saber, permite-nos colocar uma luz no que outrora fora um deserto de emoções e situações escondidas. Podemos imaginar onde estivemos, para onde íamos e onde acabámos por chegar. A tinta, os riscos criados inconscientemente e as cores ancoram o nosso corpo à realidade, enquanto a nossa mente e o nosso coração expressam as suas verdades e os seus sentimentos. Não importa o tipo de criação que pintamos. O importante é conseguirmos representar os sentimentos abstractos que estão contidos em nós.
Através dos desenhos podemos recriar a nossa própria história. Através da tinta encontramos uma nova linguagem para as nossas dores e temos acesso a muitas formas de representar os nossos bloqueios e as nossas conquistas. Até podemos ter a oportunidade de dizermos o adeus que não dissemos e falar livremente sobre a vida e a morte.
É libertador descobrir que a arte fala connosco. A tinta compreende-nos, eleva-nos a alma e permite-nos contar a nossa verdade ao mundo.