Acredita no Amor? Referimo-nos àquela sensação profunda, que nos muda a perspectiva de vida, tira-nos o chão de baixo dos pés e que irá durar para sempre. Aquela sensação que só a poesia consegue descrever e de que muitos filmes são feitos.
Muitos são cépticos no que toca às questões do amor e têm boas razões para o ser. A cultura actual não é um terreno muito fértil para a criação do romance. Com as redes sociais, as mensagens por telemóvel e os sites de relacionamentos, revolucionou-se a comunicação amorosa, mas perdemos a arte do relacionamento. Hoje em dia existem muito poucas relações bem-sucedidas. Por vezes, até parece que já não existem muitas pessoas a terem conversas cara a cara.
Nós, no entanto, somos crentes no Amor, porque sabemos que ele existe. O Amor profundo, incondicional, eterno e verdadeiro existe. O que o torna tão raro é o facto de não ser verdadeiramente compreendido, já que a ideia de “Amor Verdadeiro” da maioria das pessoas é algo assim: o Príncipe Encantado, ou a Princesa Encantada está à nossa espera, algures no mundo, porque estamos destinados a ficar juntos, algures durante o nosso caminho na Terra. Esta pessoa especial também está à nossa procura, tal como nós a procuramos, e é só uma questão de tempo até nos encontrarmos, para podermos viver “felizes para sempre”.
Isto não existe!
O “felizes para sempre” não existe. Deus não escolheu pessoalmente uma pessoa especial só para nós. Aliás, a ideia de que podemos encontrar a nossa razão de ser noutra pessoa não passa de uma ilusão, porque a verdade é que o Amor Verdadeiro só pode ser encontrado em nós mesmos. A maior parte das pessoas que está à procura de “amor” está, na realidade, apenas a fugir da solidão. Estão constantemente a aceitar ficar com menos do que pretendem e com menos do que merecem. Tudo para conseguirem fugir ao seu maior medo: estarem sozinhas, envelhecerem sozinhas e morrerem sozinhas.
O medo da solidão previne-nos de vivermos uma intimidade genuína, mas o Amor Verdadeiro encontra-se para lá desse medo. Temos de enfrentar o que Louis C.K. chama de “vazio permanente”, a inextinguível tristeza que vive em todos nós. O reconhecimento constante da nossa própria mortalidade, já que, no fim, todos nós teremos de enfrentar sozinhos a morte.
A verdade é que o Amor Verdadeiro requer uma busca interior que a maioria das pessoas não está interessada em fazer. Requer que sejamos, primeiramente, felizes com a nossa própria solidão e que sejamos capazes de nos conhecermos, aceitarmo-nos e amarmo-nos como somos. Temos de encontrar a nossa paz de espírito, o nosso propósito de vida, as nossas paixões e a nossa alegria de viver.
Requer que deitemos abaixo as defesas do nosso Ego e que estejamos vulneráveis à vida, que desistamos das nossas idealizações sobre o futuro e que vivamos o aqui e agora. Só então é que estaremos verdadeiramente preparados para o Amor. Quando conseguirmos compreender em plenitude que o amanhã não é uma certeza, que o hoje é a única coisa que temos verdadeiramente, não podemos fazer mais nada a não ser darmos tudo o que temos, sem esperar nada em troca.
Afinal de contas, no início desta viagem, sabemos que iremos ter desgostos de amor. Iremos ser alvos de mentiras. Iremos ser tratados como algo certo. Iremos magoar-nos e desapontarmo-nos. Mais cedo ou mais tarde, entre o agora e o nosso último momento na Terra, iremos fazer muitas despedidas. Nós sabemos isto tudo e temos de o aceitar, mas mesmo assim iremos continuar a entregar todo o nosso ser ao Amor.
O Amor Verdadeiro é divino. É criado numa relação com a vida, uma dança com o vazio da solidão, que nos eleva para lá da condição humana e para lá dos jogos mesquinhos do nosso Ego, para alcançarmos um Amor sem limites. Para saborearmos a felicidade por inteiro. O que chamamos de “Amor Verdadeiro” é aquela união rara e sagrada que acontece, quando duas pessoas se juntam nesta dança sangrada.
É uma amizade, um caso amoroso e um acto de adoração. Paixão, luxúria, afeição, carinho, confiança, respeito e devoção fundem-se para se tornarem numa requintada rendição. Os apaixonados unem-se consigo mesmos e com a vastidão que é a vida. Nenhum pode garantir com toda a certeza de que o que os une poderá durar um fim-de-semana, ou uma vida inteira. Isso não é importante.
Só interessa aquele momento de união, de sagrada e bela união, porque esse momento contém em si toda a eternidade.