O ano começa a aproximar-se do final e o movimento normal desta altura também já se começa a notar. No entanto, toda a instabilidade que temos vivido tem deixado em nós marcas e tem-nos pressionado a diversas reflexões e mudanças, algo que não só nos tem tocado a nós, como também a quem nos rodeia, às pessoas que amamos e às que queremos bem. Quando vemos tantas coisas a acontecerem, tantas injustiças, quando somos rodeados de tanto medo, invariavelmente, as preocupações, as dúvidas e os receios assolam a nossa mente, e é disso que o 9 de Espadas, a carta que nos vai orientar durante estes próximos dias, nos traz como desafio.
O mundo está em convulsão, sabemos disso, e nestas alturas, quando se aproximam momentos de maior partilha e onde, sucessivamente, somos confrontados com uma maior necessidade de vivência das emoções, questões que estão dentro de nós começam a manifestar-se. Seja por uma maior consciência do mundo que nos rodeia, seja porque, invariavelmente, parece que as questões se tornam maiores do que no resto do ano, a nossa mente traz-nos as preocupações, os medos e os receios, que apenas são a manifestação de algo que, constantemente, tenho vindo a dizer a necessidade de descobrirmos o ser emocional que somos. Certo é que os problemas e as questões não surgem do nada, não apareceram neste momento, simplesmente elas tornaram-se mais evidentes pois tomamos consciência de que elas existem.
O 9 de Espadas é uma carta dura, que nos fala dessas mesmas preocupações, que nos leva para o mundo da nossa mente e nos confronta com os extremos das nossas vivências, nomeadamente quando, por termos muita dificuldade de viver esse mesmo ser emocional, acabamos por vivenciar situações que não são nossas, a preocuparmo-nos excessivamente e, dessa forma, a prejudicar em vez de melhorar. Quando somos capazes de abrir o nosso coração, somos capazes também de estender a mão a quem dela necessita, a estar ao lado de quem amamos em cada momento sem, no entanto, viver o seu problema, tomar como nossas as suas dores. Quando o fazemos é porque há algo em nós que precisa de ser curado, uma culpa que reside no mais profundo do nosso ser, que urge por libertação, pela nossa própria libertação.
Esta semana, olhemos para dentro dos nossos corações e sejamos capazes de descobrir um novo Eu, de compreender que não é vivendo os problemas dos outros que os vamos salvar ou que vamos sanar os nossos. É preciso compreender que a cada um corresponde o seu caminho e que não podemos caminhar pelos pés do nosso irmão, retirando-lhe esse peso. Pelo contrário, quando temos esta consciência, somos capazes de, mais serenamente e com muito melhor resultado, estender a nossa mão a quem necessita, dar uma palavra de fé, de amor e de esperança, plantar uma semente nos seus corações. A preocupação em relação a tudo e a todos é um mecanismo do ego para nos desviar do foco de nós mesmos, das questões que precisamos de resolver, levando-nos depois à vitimização e à culpa, pois tanto fizemos para ajudar os outros, mas continuamos a ter problemas. Então, agora é tempo de assumir o nosso caminho e compreender que, primeiro que tudo, temos de respeitar o nosso espaço, o nosso trilho, assim como o do nosso irmão, pois só dessa forma, efectivamente, podemos ajudar-nos a nós mesmos e a todos os que nos rodeiam.
Boa semana!
Leonardo Mansinhos